São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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66º FESTIVAL DE VENEZA

Tom Ford estreia com poderoso drama gay

"A Single Man" é o filme do estilista sobre um homem de meia-idade deprimido

Vencedores do Festival de Veneza serão divulgados hoje; outro concorrente de peso é "Lola", do filipino Brillante Mendoza

LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

O último filme exibido na competição do Festival de Veneza revelou-se um forte candidato ao Leão de Ouro: "A Single Man" (um homem solteiro), drama dirigido pelo estilista e agora cineasta Tom Ford.
O longa é inspirado no livro homônimo de Christopher Isherwood, sobre um dia na vida do professor universitário George Falconer, homem de meia-idade que tenta superar a perda do namorado, Jim, com quem esteve por 16 anos.
A trama se passa seis meses após a morte de Jim em um acidente de carro. Colin Firth, em ótima atuação, faz George, um homem deprimido, que só consegue manter a rotina com remédios, álcool e o apoio da amiga Charley (Julianne Moore).
Para traduzir esse desinteresse pela vida, Tom Ford explora brilhantemente as cores do filme. Na maioria das cenas, em que a depressão de George é latente, tudo na tela é esmaecido, desbotado. Quando o personagem se interessa por algo ou alguém ao seu redor, essa animação se reflete nas imagens, que ganham cores fortes e brilhantes, como se um fluxo de sangue irrigasse a imagem.
"Grande parte do livro se passa dentro da cabeça do personagem, e eu precisava encontrar uma forma de transportar os sentimentos dele para o cinema", explicou o diretor, 48, em entrevista no festival.
Designer de coleções para grifes como Yves Saint Laurent e Gucci, Ford contou que um filme era algo que queria fazer "desde sempre". "Design de moda é maravilhoso, mas muito efêmero. Um filme é a coisa mais permanente que alguém pode criar, um mundo que estará definido para sempre."
Os vencedores do festival serão anunciados hoje -o presidente do júri é o diretor Ang Lee, que já triunfou aqui em 2005, justamente com um drama gay, "O Segredo de Brokeback Mountain".
Outro grande concorrente exibido na reta final do festival é "Lola" (vovó), do filipino Brillante Mendoza, filme-surpresa da programação. Eleito melhor diretor neste ano em Cannes por "Kinatay", Mendoza faz com "Lola" seu filme mais maduro e se firma como talento do cinema internacional.
O novo longa trata do impacto que um assassinato tem na vida de duas idosas -uma é a avó do morto; a outra, a avó do matador. Com uma câmera documental que lembra a dos irmãos Dardenne, "Lola" mostra a rotina dessas duas mulheres nos dias seguintes ao crime. Enquanto uma organiza o funeral, a outra busca uma solução para livrar o neto da cadeia.
A solução está no acordo indenizatório, peça do sistema judiciário filipino em que a vítima retira a queixa mediante pagamento por parte do agressor. Esse elemento transforma o filme numa forte reflexão sobre o valor da vida. Visualmente, Mendoza deixa a escatologia e a violência explícitas de filmes anteriores e encontra beleza na alagada periferia de Manila.

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