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66º FESTIVAL DE VENEZA
Tom Ford estreia com poderoso drama gay
"A Single Man" é o filme do estilista sobre um homem de meia-idade deprimido
Vencedores do Festival de Veneza serão divulgados hoje; outro concorrente de peso é "Lola", do filipino Brillante Mendoza
LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
O último filme exibido na
competição do Festival de Veneza revelou-se um forte candidato ao Leão de Ouro: "A Single Man" (um homem solteiro),
drama dirigido pelo estilista e
agora cineasta Tom Ford.
O longa é inspirado no livro
homônimo de Christopher Isherwood, sobre um dia na vida
do professor universitário
George Falconer, homem de
meia-idade que tenta superar a
perda do namorado, Jim, com
quem esteve por 16 anos.
A trama se passa seis meses
após a morte de Jim em um acidente de carro. Colin Firth, em
ótima atuação, faz George, um
homem deprimido, que só consegue manter a rotina com remédios, álcool e o apoio da amiga Charley (Julianne Moore).
Para traduzir esse desinteresse pela vida, Tom Ford explora brilhantemente as cores
do filme. Na maioria das cenas,
em que a depressão de George é
latente, tudo na tela é esmaecido, desbotado. Quando o personagem se interessa por algo ou
alguém ao seu redor, essa animação se reflete nas imagens,
que ganham cores fortes e brilhantes, como se um fluxo de
sangue irrigasse a imagem.
"Grande parte do livro se
passa dentro da cabeça do personagem, e eu precisava encontrar uma forma de transportar
os sentimentos dele para o cinema", explicou o diretor, 48,
em entrevista no festival.
Designer de coleções para
grifes como Yves Saint Laurent
e Gucci, Ford contou que um
filme era algo que queria fazer
"desde sempre". "Design de
moda é maravilhoso, mas muito efêmero. Um filme é a coisa
mais permanente que alguém
pode criar, um mundo que estará definido para sempre."
Os vencedores do festival serão anunciados hoje -o presidente do júri é o diretor Ang
Lee, que já triunfou aqui em
2005, justamente com um drama gay, "O Segredo de Brokeback Mountain".
Outro grande concorrente
exibido na reta final do festival
é "Lola" (vovó), do filipino Brillante Mendoza, filme-surpresa da programação. Eleito melhor diretor neste ano em Cannes por "Kinatay", Mendoza faz
com "Lola" seu filme mais maduro e se firma como talento do
cinema internacional.
O novo longa trata do impacto que um assassinato tem na
vida de duas idosas -uma é a
avó do morto; a outra, a avó do
matador. Com uma câmera documental que lembra a dos irmãos Dardenne, "Lola" mostra
a rotina dessas duas mulheres
nos dias seguintes ao crime.
Enquanto uma organiza o funeral, a outra busca uma solução para livrar o neto da cadeia.
A solução está no acordo indenizatório, peça do sistema
judiciário filipino em que a vítima retira a queixa mediante pagamento por parte do agressor.
Esse elemento transforma o filme numa forte reflexão sobre o
valor da vida. Visualmente,
Mendoza deixa a escatologia e a
violência explícitas de filmes
anteriores e encontra beleza na
alagada periferia de Manila.
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