São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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CINEMA
Autor de "O Manual do Roteiro", em São Paulo para um workshop, afirma à Folha que país é "baú de tesouros'
Brasil vive momento especial, diz Syd Field

ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local

Um baú que esconde tesouros. Assim o professor norte-americano Syd Field define o Brasil. Field ministrou ontem no Museu da Imagem e do Som de São Paulo um workshop para 75 estudantes de cursos de cinema.
O professor, que diz estar "na casa dos 50", tornou-se uma espécie de guru da indústria cinematográfica americana ao escrever "O Manual do Roteiro". No livro, estabeleceu um modelo de estrutura para o aspirante a escritor.
Seu modelo foi adotado por nove entre dez roteiristas norte-americanos e Field tornou-se consultor de cineastas como Rolland Joffé ("A Missão"), James L. Brooks ("Melhor É Impossível") e roteiristas como Laura Esquivel ("Como Água para Chocolate"). Mas sua estrutura foi acusada de "engessar" a forma dos filmes, tornando-os muito parecidos.
"Se você olhar para algumas valises, notará que todas são iguais, mas há diferenças entre elas, embora todas sejam valises. São diferenças de modelos, tamanhos, material e utilidade. Em filmes, há um início, meio e fim, não necessariamente nessa ordem", explicou Field à Folha.
O professor norte-americano afirma que o Brasil vive um momento especial com a retomada de produção. Ele diz que o brasileiro deve preocupar-se em contar histórias que ele considera "interessantes", como a da construção de capital, Brasília.
É a sexta vez que Field vem ao país, sempre para administrar cursos, mas a cada ano trabalhou com profissionais de níveis diferentes. Ele ministrou workshops e mesmo oficinas de duas semanas a roteiristas profissionais, iniciantes e cineastas.
No entender de Field, os roteiros tendem a melhorar com o passar do tempo. Na década de 70, surgiu uma geração que cresceu vendo filmes de todos os tipos no videocassete e na TV e acabou por dominar melhor a linguagem audiovisual.
"Eles assistiram a mais filmes do que Robert Towne (que escreveu "Chinatown', roteiro preferido de Field). Nessa geração, houve uma evolução do ofício de contar uma história visualmente. Para eles é uma forma totalmente natural", diz Field.
O professor já assistiu a alguns filmes brasileiros como "Pequeno Dicionário Amoroso" e "Como Ser Solteiro". Mas os que realmente gostou foram "O Quatrilho" e "O Que É Isso, Companheiro?", que concorreram ao Oscar de melhor filme estrangeiro nos dois últimos anos.
Para ele, a troca de foco narrativo que acontece em "O Quatrilho" é algo diferente. "Gosto do jeito como a história do filme começa num casal e muda o eixo para terminar em outro. O filme é muito interessante."



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