São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice LIVRO - LANÇAMENTOS Escritora quer narrador desapaixonado
CECÍLIA SAYAD
Folha - "A Flor Azul" é um romance inspirado em um fato verídico.
O que, no livro, realmente aconteceu, e o que é pura invenção?
Folha - Apesar de narrar um drama, seu livro possui ironia e senso de humor, o que distancia o narrador da história. Esse distanciamento não dá a ele uma presença tão forte quanto a dos personagens? Fitzgerald - Acho que, quanto mais triste a história, maior a necessidade de um narrador desapaixonado. Esse contraste, eu espero, torna as emoções dos personagens mais credíveis junto ao público. Folha - Qual a importância do narrador? Fitzgerald - Trata-se de um elemento fundamental. É ele quem faz a conexão entre o escritor e o contador de histórias, que lhe deu origem. Folha - O ponto de vista adotado pelo narrador é o ponto de partida para sua escrita ou algo que surge no decorrer do trabalho? Fitzgerald - A primeira coisa que faço é escrever o primeiro e o último parágrafos, que vão definir o ponto de vista. Então posso começar o livro. Folha - O amor romântico descrito em sua obra é possível nos dias de hoje? Fitzgerald - Não vejo como o movimento romântico que marcou o século 18 possa retornar. Mas o amor romântico, enquanto a raça humana existir, vai estar sempre presente. Folha - O verdadeiro amor é aquele "impossível" ou platônico? Fitzgerald - Procurei descrever várias formas de amor verdadeiro -entre irmãos, entre amantes, o amor sem esperanças (como o de Karoline por Fritz). Alguns são possíveis, outros não. Mas todos são verdadeiros. Folha - Fritz diz que Sophie é sua sabedoria, sua filosofia. Existe uma relação com a idealização romântica da inocência e da pureza da infância? Fitzgerald - Não acho que Fritz estivesse interessado nesse aspecto ressaltado por Rousseau e Blake. Eu definiria Sophie mais como uma pré-adolescente inquieta e de maneiras simples. Ele apenas a via como a guardiã de sua inspiração. Folha - No livro, Fritz diz a Karoline que a linguagem só se refere a si mesma e não é capaz de exprimir coisas. Como é, sendo escritora, ter que utilizá-la como principal forma de expressão? Fitzgerald - A linguagem é uma barreira, mas não deixa de ser útil. Novalis era um universalista que acreditava, por exemplo, que devemos aprender que a música e a matemática são a mesma coisa, e que houve uma época em que as plantas, os animais, o sol, a terra e as estrelas eram capazes de se comunicar entre si. A comunicação é o que importa, mais do que a expressão de si mesmo. Folha - A inspiração, para a senhora, é algo que demanda concentração e disciplina ou pode surgir a qualquer momento? Fitzgerald - Escrever certamente demanda concentração e disciplina, mas, como a maioria das mulheres, incluindo as que já são avós, o que é o meu caso, não tenho muito tempo para isso e acabo tendo que fazer um esforço para encaixar essa atividade no meu dia-a-dia. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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