São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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"Mal contemporâneo é banal", diz Enrique Lynch na Folha


da Reportagem Local


O escritor e filósofo argentino Enrique Lynch disse anteontem, em debate na Folha, que as tragédias contemporâneas como os conflitos na ex-Iugoslávia e mesmo a própria Segunda Guerra Mundial foram acontecimentos "triviais".
"O mal contemporâneo é banal", disse Lynch. "Os alemães mataram os judeus porque o processo de deportação não funcionou. Muitas mortes e desastres contemporâneos aconteceram por nada. É estúpido".
O debate entre Lynch, o professor de ética e filosofia política da Universidade Estadual de Campinas, Roberto Romano, e o professor de política cultural da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, José Teixeira Coelho Neto, foi contaminado pela harmonia de opiniões.
Em lugar de incentivar discussões acaloradas, o polêmico Lynch ouviu dos colegas brasileiros que estavam de inteiro acordo com sua opinião de que os ensaios filosóficos haviam sido "domesticados" pela universidade, sobretudo pelos franceses, depois da década de 60, perdendo seu conteúdo literário.
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Lançamento
O encontro foi promovido pelo jornal e pela editora Campus, que promove no Brasil o lançamento do livro de ensaios do escritor, "Prosa e Circunstância".
Para Lynch, "o ensaio filosófico perdeu o poder de sedução ao trocar a prosa, que é o gênero da modernidade, pelo discurso acadêmico. Hegel, que foi o último grande filósofo, dizia que a filosofia é a prosa do pensamento".
Lynch disse querer buscar, com seus ensaios, muitos deles sobre temas "banais" como a idolatria a ídolos do cinema, a cumplicidade do leitor.
"Se eu encontrar esta cumplicidade nos escritores, então, e sobretudo nos da América do Sul, já ficarei contente".
Roberto Romano criticou a filosofia por ter se tornado "muito séria", e o ensaio, na universidade, sinônimo de um trabalho malfeito. "Para muitos colegas, um ensaio é um texto "sapecadinho'.
Lynch tenta dar a mão à literatura, faz uma espécie de passagem culta entre o necessário exame dos clássicos para a crítica da cultura".
Teixeira Coelho disse gostar cada vez mais dos artistas, por "tomarem partido" em suas manifestações, e lançou a idéia da substituição, na universidade, dos textos históricos pelos literários, pela ficção.
"Queria que a universidade parasse de encher a cabeça dos estudantes com história disso e daquilo. O estudo da história foi levado a níveis descabidos", disse.



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