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"Mal contemporâneo é banal", diz Enrique Lynch na Folha
da Reportagem Local
O escritor e filósofo argentino
Enrique Lynch
disse anteontem, em debate
na Folha, que as
tragédias contemporâneas
como os conflitos na ex-Iugoslávia
e mesmo a própria Segunda Guerra Mundial foram acontecimentos
"triviais".
"O mal contemporâneo é banal",
disse Lynch. "Os alemães mataram
os judeus porque o processo de deportação não funcionou. Muitas
mortes e desastres contemporâneos aconteceram por nada. É estúpido".
O debate entre Lynch, o professor de ética e filosofia política da
Universidade Estadual de Campinas, Roberto Romano, e o professor de política cultural da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, José Teixeira
Coelho Neto, foi contaminado pela
harmonia de opiniões.
Em lugar de incentivar discussões acaloradas, o polêmico Lynch
ouviu dos colegas brasileiros que
estavam de inteiro acordo com sua
opinião de que os ensaios filosóficos haviam sido "domesticados"
pela universidade, sobretudo pelos
franceses, depois da década de 60,
perdendo seu conteúdo literário.
˛
Lançamento
O encontro foi promovido pelo
jornal e pela editora Campus, que
promove no Brasil o lançamento
do livro de ensaios do escritor,
"Prosa e Circunstância".
Para Lynch, "o ensaio filosófico
perdeu o poder de sedução ao trocar a prosa, que é o gênero da modernidade, pelo discurso acadêmico. Hegel, que foi o último grande
filósofo, dizia que a filosofia é a
prosa do pensamento".
Lynch disse querer buscar, com
seus ensaios, muitos deles sobre
temas "banais" como a idolatria a
ídolos do cinema, a cumplicidade
do leitor.
"Se eu encontrar esta cumplicidade nos escritores, então, e sobretudo nos da América do Sul, já ficarei contente".
Roberto Romano criticou a filosofia por ter se tornado "muito séria", e o ensaio, na universidade,
sinônimo de um trabalho malfeito.
"Para muitos colegas, um ensaio é
um texto "sapecadinho'.
Lynch tenta dar a mão à literatura, faz uma espécie de passagem
culta entre o necessário exame dos
clássicos para a crítica da cultura".
Teixeira Coelho disse gostar cada
vez mais dos artistas, por "tomarem partido" em suas manifestações, e lançou a idéia da substituição, na universidade, dos textos
históricos pelos literários, pela ficção.
"Queria que a universidade parasse de encher a cabeça dos estudantes com história disso e daquilo. O estudo da história foi levado a
níveis descabidos", disse.
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