São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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Yes e Marillion saem da UTI do rock

da Reportagem Local

A banalizada expressão "dinossauro do rock" encontra seu melhor uso quando o assunto é o gênero progressivo.
Embora muitos críticos insistam em dizer que o estilo está na UTI, respirando por aparelhos, artistas carregam sua bandeira em novos lançamentos. Os ingleses do Yes e do Marillion lançam no mercado suas novas contribuições para a causa.
Nos shows que deu no Brasil no último mês de maio, o Yes mostrou o que era esperado: muita técnica e carisma, climas apoteóticos para alguns clássicos do rock e músicas novas pouco inspiradas. O repertório do último álbum de estúdio, "Open Your Eyes", não ajudava muito.
O problema não se repete neste "Keys to Ascension 2". Como o nome sinaliza, trata-se do segundo volume das gravações de um show de reencontro (mais um!) que a banda fez em San Luis Obispo, Califórnia, em março de 1996. Portanto, o repertório só tem hits.
A escalação dos músicos é, para boa parte dos fãs, a melhor das inúmeras formações do Yes em quase 30 anos de estrada. Estavam no palco o fundador e baixista Chris Squire (único músico a tocar em todas as fases do Yes), o guitarrista Steve Howe, o tecladista Rick Wakeman, o vocalista Jon Anderson e o baterista Alan White.
O CD é duplo, com um volume dedicado ao show e outro trazendo faixas gravadas em estúdio. O trabalho novo é bem interessante, mostrando o grupo ainda influenciado pela fase anos 80, com guitarras mais pesadas e bateria mais redonda, pulsante. Em outras palavras, a cartilha que o grupo criou no hit "Owner of a Lonely Heart".
A produção é do próprio grupo e de Billy Sherwood, que depois assumiria o lugar de Wakeman nos teclados, participando inclusive dos shows no Brasil.
Por mais que eles tenham caprichado, não dá para considerar o disco de estúdio algo mais do que um bônus, porque compará-lo com o gravado ao vivo é sacrilégio.
Afinal, poucos grupos conseguem emendar quatro petardos como "I've Seen All Good People", "Going for the One", "Time and a Word" e "Close to the Edge" numa sequência antológica.
Formam uma aula para qualquer um que leve a música a sério e, junto com a capa bacana do onipresente Roger Dean, valem cada centavo pago no álbum.
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Novos rumos Enquanto o Yes visita seu passado, o Marillion tenta olhar para o futuro. "This Strange Engine" é uma ruptura com a estrutura tradicional do progressivo. Os longos delírios instrumentais deram lugar a um formato mais acústico.
O principal responsável pela mudança é mesmo o vocalista Steve Hogarth. O cara pegou um abacaxi nas mãos ao substituir, ainda nos anos 80, o primeiro cantor da banda, o gigantesco Fish.
Versão NBA de Peter Gabriel, Fish conduzia o Marillion na trilha da cópia deslavada da primeira fase do Genesis. Como o mundo estava cheio de fãs de Gabriel no início da década passada, o pastiche do Marillion vendeu horrores e consagrou o grupo no então incipiente new progressivo.
Mas Fish partiu para a carreira solo, e Hogarth foi escolhido depois de alguns testes. Uma de suas primeiras turnês passou até pelo Brasil, e o público conferiu sua boa performance, principalmente em rocks mais acelerados como "Hooks on You", tema de anúncio do cigarro Hollywood.
O tempo passou e, ao que parece, Hogarth tomou o comando. Ainda bem. O novo álbum tem pelo menos quatro ótimas canções. A faixa de abertura, "Man of a Thousand Faces", é impecável.
O Marillion está até soando como um grupo do britpop em suas baladas. Apenas nas faixas longas toda a força da pompa do progressivo marca presença. (TM)
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Disco: Keys to Ascension 2 Artista: Yes Lançamento: Universal Quanto: R$ 32, em média (CD duplo) ˛ Disco: This Strange Machine Artista: Marillion Lançamento: Universal Quanto: R$ 18, em média


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