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Yes e Marillion saem da UTI do rock
da Reportagem Local
A banalizada expressão "dinossauro do rock" encontra seu melhor uso quando o assunto é o gênero progressivo.
Embora muitos críticos insistam
em dizer que o estilo está na UTI,
respirando por aparelhos, artistas
carregam sua bandeira em novos
lançamentos. Os ingleses do Yes e
do Marillion lançam no mercado
suas novas contribuições para a
causa.
Nos shows que deu no Brasil no
último mês de maio, o Yes mostrou o que era esperado: muita técnica e carisma, climas apoteóticos
para alguns clássicos do rock e músicas novas pouco inspiradas. O repertório do último álbum de estúdio, "Open Your Eyes", não ajudava muito.
O problema não se repete neste
"Keys to Ascension 2". Como o nome sinaliza, trata-se do segundo
volume das gravações de um show
de reencontro (mais um!) que a
banda fez em San Luis Obispo, Califórnia, em março de 1996. Portanto, o repertório só tem hits.
A escalação dos músicos é, para
boa parte dos fãs, a melhor das inúmeras formações do Yes em quase
30 anos de estrada. Estavam no
palco o fundador e baixista Chris
Squire (único músico a tocar em
todas as fases do Yes), o guitarrista
Steve Howe, o tecladista Rick Wakeman, o vocalista Jon Anderson e
o baterista Alan White.
O CD é duplo, com um volume
dedicado ao show e outro trazendo
faixas gravadas em estúdio. O trabalho novo é bem interessante,
mostrando o grupo ainda influenciado pela fase anos 80, com guitarras mais pesadas e bateria mais
redonda, pulsante. Em outras palavras, a cartilha que o grupo criou
no hit "Owner of a Lonely Heart".
A produção é do próprio grupo e
de Billy Sherwood, que depois assumiria o lugar de Wakeman nos
teclados, participando inclusive
dos shows no Brasil.
Por mais que eles tenham caprichado, não dá para considerar o
disco de estúdio algo mais do que
um bônus, porque compará-lo
com o gravado ao vivo é sacrilégio.
Afinal, poucos grupos conseguem emendar quatro petardos
como "I've Seen All Good People",
"Going for the One", "Time and a
Word" e "Close to the Edge" numa
sequência antológica.
Formam uma aula para qualquer
um que leve a música a sério e, junto com a capa bacana do onipresente Roger Dean, valem cada centavo pago no álbum.
˛
Novos rumos
Enquanto o Yes visita seu passado, o Marillion tenta olhar para o
futuro. "This Strange Engine" é
uma ruptura com a estrutura tradicional do progressivo. Os longos
delírios instrumentais deram lugar
a um formato mais acústico.
O principal responsável pela mudança é mesmo o vocalista Steve
Hogarth. O cara pegou um abacaxi
nas mãos ao substituir, ainda nos
anos 80, o primeiro cantor da banda, o gigantesco Fish.
Versão NBA de Peter Gabriel,
Fish conduzia o Marillion na trilha
da cópia deslavada da primeira fase do Genesis. Como o mundo estava cheio de fãs de Gabriel no início da década passada, o pastiche
do Marillion vendeu horrores e
consagrou o grupo no então incipiente new progressivo.
Mas Fish partiu para a carreira
solo, e Hogarth foi escolhido depois de alguns testes. Uma de suas
primeiras turnês passou até pelo
Brasil, e o público conferiu sua boa
performance, principalmente em
rocks mais acelerados como
"Hooks on You", tema de anúncio
do cigarro Hollywood.
O tempo passou e, ao que parece,
Hogarth tomou o comando. Ainda
bem. O novo álbum tem pelo menos quatro ótimas canções. A faixa
de abertura, "Man of a Thousand
Faces", é impecável.
O Marillion está até soando como um grupo do britpop em suas
baladas. Apenas nas faixas longas
toda a força da pompa do progressivo marca presença.
(TM)
˛
Disco: Keys to Ascension 2
Artista: Yes
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 32, em média (CD duplo)
˛
Disco: This Strange Machine
Artista: Marillion
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 18, em média
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