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JAZZ
Saxofonista norte-americano é uma das atrações do Free Jazz
Wayne Shorter vê novidade na eletrônica "jungle music"
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Das oito atrações jazzísticas do
próximo Free Jazz Festival, a única
escolhida para o palco principal é
Wayne Shorter. O saxofonista norte-americano vai dividir com o
guitarrista Jeff Beck as noites de 17
e 18 de outubro (no Rio e em São
Paulo, respectivamente).
É uma questão de bagagem musical e carisma. Além de ter tocado
com Miles Davis e Art Blakey ou de
liderar a banda Weather Report,
Shorter é um compositor originalíssimo. Uma "jam session" de respeito não pode esquecer clássicos
de sua autoria, como "Footprints"
ou "Dolores".
Falando à Folha, por telefone, de
Los Angeles, Shorter adiantou detalhes de seus shows no Brasil. Revelou também que está preparando um novo disco e que só tem encontrado novidades nos ritmos da
eletrônica "jungle music".
Folha - Você já tem idéia de como
serão seus shows no festival?
Wayne Shorter - Vou levar um
quinteto, com Teri Lyne Carrington (bateria), James Beard (teclados), Ira Coleman (baixo) e um
guitarrista. Talvez toquemos algo
do meu próximo álbum, mas ainda
estamos trabalhando nele.
Folha - Desta vez será um disco
acústico?
Shorter - Sim. Vou usar uma orquestra de câmara, com violinos,
cellos, oboés e trompas. Deve sair
em 1999, pelo selo Verve.
Folha - Algum convidado especial no elenco?
Shorter - Ainda não sei. Seria ótimo ter Orson Welles...
Folha - O cineasta Orson Welles?
É um disco ou um filme?
Shorter - Um disco (risos). Mas
eu adoraria ter o vozeirão dele, falando: "Alô! Tem alguém aí?" (risos). É só uma idéia.
Folha - Você está na estrada desde os anos 50. Como enfrenta a
obrigação de criar um álbum diferente, de tempos em tempos?
Shorter - A primeira coisa é justamente deixar a estrada (risos).
Suspendo as turnês e me tranco.
Eu moro nas montanhas de Los
Angeles. Fico olhando as nuvens, o
céu, as montanhas. É a hora de ficar sozinho e tentar um diálogo
com a vida. Ou com a eternidade.
Folha - Você é um declarado fã da
música brasileira. Tem ouvido algo
novo ou interessante?
Shorter - Não, nem do Brasil,
nem de toda a América Latina. Tudo me parece muito simplificado,
ultimamente. A única coisa nova
que tenho ouvido está nos ritmos e
nas batidas do que eles chamam de
"jungle music". Os ingleses estão
experimentando mais.
Folha - Que tal a cena atual do
jazz? Como você encara a onda do
"smooth jazz" (jazz macio)?
Shorter - É a tentativa de estabelecer um compromisso confortável entre os músicos e o público.
Querem criar uma zona de conforto, em vez arriscar novas descobertas, de encontrar algo desconhecido. Isso é uma armadilha.
Folha - E essa mania de as gravadoras apostarem mais nos jazzistas
jovens? Juventude é garantia de
novidade?
Shorter - Não. Muitos deles apenas copiam outros músicos e só estão preocupados em aperfeiçoar
suas cópias. Tocam as notas corretas, as passagens corretas e improvisam de modo correto. Mas a criação é algo bem diferente do fazer
correto. A criação é até bastante incorreta (risos).
Folha - Que saxofonistas da nova
geração você aprecia?
Shorter - Gosto daquele rapaz
que tocava com Miles: Kenny Garrett. Steve Coleman também é ótimo. Hoje, há bons saxofonistas jovens vindo de vários países.
Folha - Suas gravações com Miles
Davis foram reeditadas. Qual é a
sensação de ouvi-las hoje?
Shorter - O que mais me surpreende é como crescemos tão rápido. Pouco antes de morrer, em
1991, ele chegou a me dizer que
queria voltar a fazer algo comigo,
Herbie Hancock e Tony Williams.
Não tivemos tempo.
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