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CINEMA
Ator não deixou de atuar mesmo depois do acidente sofrido em 1995 e emprestou credibilidade ao personagem de HQ
Reeve encarnou herói super-romântico
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Se até o imortal Superman
morre...
O ator Christopher Reeve, que
vestiu por quatro vezes a capa do
mais poderoso dos seres na ficção, lutou para manter uma vida
real de Super-Homem mesmo
depois do acidente que o deixou
com o mais fraco dos corpos.
Paralisado do pescoço para baixo, Reeve, a despeito de graves
problemas respiratórios e neurológicos em função da queda de
um cavalo, em 1995, não largou o
cinema. E no paralelo se tornou o
principal ativista de campanha
mundial para que os estudos sobre células-tronco avançassem e
beneficiassem de alguma forma
os que sofriam paralisia.
Uma de suas maiores atuações
foi na memorável aparição na cerimônia do Oscar em 1996, quando surgiu de surpresa em uma cadeira de rodas, suportado por um
respirador artificial, menos de um
ano após seu acidente.
Depois de uma interminável
sessão de aplausos, Reeve levou o
público às lágrimas em um discurso pedindo a Hollywood menos blockbusters vazios e mais filmes com causas sociais, do tipo
"Platoon" (contra a guerra) e "Filadélfia" (Aids).
Aí o falível Christopher Reeve se
confundia com seu personagem
famoso. Reeve materializou um
Super-Homem super-romântico
no cinema, mas, se tivesse que optar entre a sua amada e a humanidade, ele escolheria a segunda opção.
Bonitão e desconhecido
Um novato Christopher Reeve
entrou na carcaça do homem de
aço aos 24 anos, em 1978, quando
foi escolhido pelo diretor Richard
Donner exatamente por ser bonitão e desconhecido. E com algum
talento.
Não decepcionou e, egresso do
teatro e de algum trabalho na televisão dos EUA, emprestou credibilidade a um papel por si só caricato, fazendo seu nome em uma
área delicada de Hollywood, que é
a do relacionamento da indústria
de cinema com os heróis de quadrinhos.
O acidente fez de Reeve um ator
limitado, mas este limite físico o
fez servir involuntariamente e de
modo perfeito para o papel de Jason Kemp, no remake moderno
para a TV (1998) de "Janela Indiscreta", de Hitchcock, considerado
um dos principais filmes da história do cinema. No filme de Hitchcock, Kemp é o sujeito paralisado
que, impossibilitado de andar, fica bisbilhotando a vida alheia da
janela de seu apartamento.
O paradoxo do estado em que
padeceu Reeve nestes últimos nove anos e de seu supermegahiperpersonagem chega a Nietzsche.
Há uma memorável cena em que
o Super-Homem remeteu ao filósofo alemão e à teoria do Eterno
Retorno. Foi quando, contrariado
por algo que aconteceu, mas que
não devia ter acontecido, ele se
afasta da Terra e faz o planeta girar ao contrário de sua órbita,
obrigando-o a voltar para trás e
desfazer o que tinha ocorrido.
O superpensador Nietzsche
também teve parte de sua vida
marcada por um episódio com
um cavalo. Dizem que seu último
momento de sanidade aconteceu
em Turim, em 1889, quando viu
um cocheiro chicotear um cavalo.
Nietzsche se intrometeu no ato,
afastando o cocheiro, abraçando
o animal e o beijando, até cair desmaiado. E aí pirou de vez.
Quanto a Reeve, a única coisa
que lhe restou depois do incidente
com o cavalo foi a sanidade.
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