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Angeli faz crônica social, diz diretor
Otto Guerra, de
"Wood&Stock
-Sexo, Orégano e
Rock'n'Roll",
afirma que
cartunista "põe
dedo na ferida" da
sociedade
Filme com personagens de Angeli demorou 11 anos para ficar pronto; a palavra "sexo" no subtítulo dificultou a captação
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A sociedade é hipócrita. E
nós somos obrigados a fazer de
conta que somos sérios para viver dentro dela. É a visão do cineasta gaúcho Otto Guerra, diretor de "Wood & Stock - Sexo,
Orégano e Rock'n'Roll", filme
que tem estréia nacional hoje.
Os hippies Wood e Stock são
personagens de Angeli, quadrinista e colaborador da Folha.
Além deles, aparecem no filme
outros personagens, como os
Skrotinhos, Meiaoito e Nanico.
Para Guerra, há uma estreita
relação entre esses personagens engraçados e a sua visão
da sociedade: os quadrinhos de
Angeli estão tão imbuídos de
humor quanto de crítica social.
"É um absurdo não considerar
o trabalho dele como social",
disse Guerra à Folha. Confira
na entrevista a seguir.
FOLHA - O que o atraiu nas histórias de Angeli para transformá-las
em filme?
OTTO GUERRA - Eu me identifico
muito com ele. Nascemos no
mesmo ano [1956], vivemos a
mesma geração. Gosto muito
do seu humor, da crítica social
que ele faz.
FOLHA - E o que pesou mais na hora de adaptá-lo? O lado de humor ou
o social?
GUERRA - Uma coisa está bem
ligada à outra. A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados
a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. Senão, criamos problemas para
nós mesmos. E aí vem o Angeli,
com o humor dele, e coloca o
dedo na ferida. O Angeli faz
uma crônica bem contundente.
É um absurdo não considerar o
trabalho dele como social.
FOLHA - Como o sr. avalia o processo de criação do filme?
GUERRA - Esse trabalho foi uma
pauleira. A história mudou radicalmente pelo menos quatro
vezes. Além disso, da primeira
vez em que eu falei com o Angeli até hoje passaram-se 11 anos.
A palavra "sexo" no subtítulo
dificultou bastante na hora de
captação de grana. Foi bem
complexo.
FOLHA - O sr. sentiu alguma pressão por usar personagens criados
por outra pessoa e de uma maneira
tão diferente, com direito a vozes e
movimentos?
GUERRA - Não, o Angeli falou
que tudo bem desde o início. E
foi criada uma história nova: se
não funcionasse, ele poderia
simplesmente renegar. E, no final, o próprio Angeli gostou. O
cara que faz quadrinhos nunca
vê a reação do leitor, é um trabalho solitário. Mas nós assistimos lá em Recife com cerca de
2.500 pessoas, que reagiram ao
filme, e deu para ver que ele
gostou.
FOLHA - As histórias do Angeli têm
um lado bem paulistano. O sr. procurou tomar algum cuidado em deixar a história menos paulistana e
mais universal?
GUERRA - São Paulo e Rio são
onde as coisas acontecem no
Brasil. Eu morei no Rio, é mais
diurno, e São Paulo é diurno e
noturno, samba e rock. É como
fala o ditado: fale de sua aldeia,
e você falará do mundo. E São
Paulo é uma baita aldeia: está
todo mundo lá.
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