São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Angeli faz crônica social, diz diretor

Otto Guerra, de "Wood&Stock -Sexo, Orégano e Rock'n'Roll", afirma que cartunista "põe dedo na ferida" da sociedade

Filme com personagens de Angeli demorou 11 anos para ficar pronto; a palavra "sexo" no subtítulo dificultou a captação

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. É a visão do cineasta gaúcho Otto Guerra, diretor de "Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll", filme que tem estréia nacional hoje.
Os hippies Wood e Stock são personagens de Angeli, quadrinista e colaborador da Folha. Além deles, aparecem no filme outros personagens, como os Skrotinhos, Meiaoito e Nanico.
Para Guerra, há uma estreita relação entre esses personagens engraçados e a sua visão da sociedade: os quadrinhos de Angeli estão tão imbuídos de humor quanto de crítica social.
"É um absurdo não considerar o trabalho dele como social", disse Guerra à Folha. Confira na entrevista a seguir.  

FOLHA - O que o atraiu nas histórias de Angeli para transformá-las em filme?
OTTO GUERRA
- Eu me identifico muito com ele. Nascemos no mesmo ano [1956], vivemos a mesma geração. Gosto muito do seu humor, da crítica social que ele faz.

FOLHA - E o que pesou mais na hora de adaptá-lo? O lado de humor ou o social?
GUERRA
- Uma coisa está bem ligada à outra. A sociedade é hipócrita. E nós somos obrigados a fazer de conta que somos sérios para viver dentro dela. Senão, criamos problemas para nós mesmos. E aí vem o Angeli, com o humor dele, e coloca o dedo na ferida. O Angeli faz uma crônica bem contundente. É um absurdo não considerar o trabalho dele como social.

FOLHA - Como o sr. avalia o processo de criação do filme?
GUERRA
- Esse trabalho foi uma pauleira. A história mudou radicalmente pelo menos quatro vezes. Além disso, da primeira vez em que eu falei com o Angeli até hoje passaram-se 11 anos. A palavra "sexo" no subtítulo dificultou bastante na hora de captação de grana. Foi bem complexo.

FOLHA - O sr. sentiu alguma pressão por usar personagens criados por outra pessoa e de uma maneira tão diferente, com direito a vozes e movimentos?
GUERRA
- Não, o Angeli falou que tudo bem desde o início. E foi criada uma história nova: se não funcionasse, ele poderia simplesmente renegar. E, no final, o próprio Angeli gostou. O cara que faz quadrinhos nunca vê a reação do leitor, é um trabalho solitário. Mas nós assistimos lá em Recife com cerca de 2.500 pessoas, que reagiram ao filme, e deu para ver que ele gostou.

FOLHA - As histórias do Angeli têm um lado bem paulistano. O sr. procurou tomar algum cuidado em deixar a história menos paulistana e mais universal?
GUERRA
- São Paulo e Rio são onde as coisas acontecem no Brasil. Eu morei no Rio, é mais diurno, e São Paulo é diurno e noturno, samba e rock. É como fala o ditado: fale de sua aldeia, e você falará do mundo. E São Paulo é uma baita aldeia: está todo mundo lá.


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