|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"The New Bossa Nova"
Em CD antiestresse, Luciana Souza vira pop
Cantora interpreta músicas de Joni Mitchell e Beach Boys
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tem música do Sting, do
Leonard Cohen, da Joni Mitchell e até dos
Beach Boys. De quebra, James
Taylor canta um dueto. Luciana Souza se esbalda no universo pop em seu último disco,
"The New Bossa Nova".
A guinada não chega a surpreender. Afinal de contas,
Souza vem de contrair núpcias
com Larry Klein, ex-marido de
Joni Mitchell e produtor de álbuns de Madeleine Peyroux,
Shawn Colvin e da própria Mitchell. Em "The New Bossa Nova", Klein assina não apenas a
produção do CD mas ainda a
co-autoria de duas canções.
Se o disco é de pop, por que
tem o nome de bossa? Porque
se trata de uma "bossanovização" de standards do pop. Uma
"cozinha" essencialmente
acústica e de grande talento,
constituída, entre outros, das
cordas dedilhadas de Romero
Lumambo, do piano de Edward
Simon e da percussão de Antonio Sanchez oferece a roupagem "cool" e adocicadamente
abrasileirada que reveste as
canções. E "Waters of March"
(versão em inglês de "Águas de
Março") fecha o álbum, fazendo a ligação com Tom Jobim.
Suave e uniforme
Assim como os arranjos, a vocalidade de Luciana Souza também busca a suavidade, quer na
emissão, quer na dicção, quer
nos acentos. Ao entrar na loja
de discos, escolha a esmo uma
das 12 faixas do disco para ouvir
e você captará o clima que perpassa o CD. "God Only Knows"
(Beach Boys), "Never Die
Young" (James Taylor), "When
We Dance" (Sting), "Down To
You" (Joni Mitchell): tudo soa
bem semelhante.
A uniformidade é tão grande
que, ouvindo esse disco, a gente
quase não se lembra de que Luciana Souza é uma das mais
versáteis musicistas da atualidade, dotada de um conhecimento musical sólido (tem um
álbum chamado "Neruda", só
de composições próprias a partir de textos do poeta chileno) e
uma afinação que redefine paradigmas de perfeição nesta
área na música popular, atingindo níveis elevados mesmo
para os altíssimos padrões de
exigência da música erudita.
Não é por acaso que ela vem
cantando obras de um dos mais
destacados compositores
atuais desta área, o argentino
Osvaldo Golijov, e que, recentemente, com a Filarmônica de
Los Angeles, tenha solado em
um programa com peças do espanhol Manuel De Falla.
Além disso, como jazzista,
Souza emprega uma habilidade
(raríssima entre as cantoras
brasileiras) de improvisação,
em "scats" de alta virtuosidade
e velocidade, como em "Chorinho pra Ele", de Hermeto Paschoal, registrado em "Duos 2".
Só que essa riqueza fica escondida em "The New Bossa
Nova", álbum que, de tanto evitar contrastes e buscar a padronização, parece às vezes ser
mais destinado à escuta "de
fundo", para sonorizar ambientes relaxantes e despachar o estresse de um congestionamento, por exemplo, do que para
audição mais fina e atenta.
Há que se ressaltar que a sonoridade bossa nova conseguida soa autêntica, e não fake, e
que o álbum tem o bom senso
de não recorrer a batidas tecno
e outras picaretagens que DJs
andam perpetrando por aí.
Bem cuidado e fácil de ouvir,
um disco desses representa o
máximo de depuração a que
chegariam, digamos, Norah Jones ou Diana Krall. Porém, a
trajetória de uma artista do
quilate de Luciana Souza nos
dá o direito de querer mais.
THE NEW BOSSA NOVA
Artista: Luciana Souza
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: regular
Texto Anterior: Música - Crítica/"Clássicos do Funk" e "Neo-Funk": Coletâneas apontam herança do pancadão Próximo Texto: Jorge Salomão mescla poesia e música em disco Índice
|