São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Crítica/"The New Bossa Nova"

Em CD antiestresse, Luciana Souza vira pop

Cantora interpreta músicas de Joni Mitchell e Beach Boys

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tem música do Sting, do Leonard Cohen, da Joni Mitchell e até dos Beach Boys. De quebra, James Taylor canta um dueto. Luciana Souza se esbalda no universo pop em seu último disco, "The New Bossa Nova".
A guinada não chega a surpreender. Afinal de contas, Souza vem de contrair núpcias com Larry Klein, ex-marido de Joni Mitchell e produtor de álbuns de Madeleine Peyroux, Shawn Colvin e da própria Mitchell. Em "The New Bossa Nova", Klein assina não apenas a produção do CD mas ainda a co-autoria de duas canções.
Se o disco é de pop, por que tem o nome de bossa? Porque se trata de uma "bossanovização" de standards do pop. Uma "cozinha" essencialmente acústica e de grande talento, constituída, entre outros, das cordas dedilhadas de Romero Lumambo, do piano de Edward Simon e da percussão de Antonio Sanchez oferece a roupagem "cool" e adocicadamente abrasileirada que reveste as canções. E "Waters of March" (versão em inglês de "Águas de Março") fecha o álbum, fazendo a ligação com Tom Jobim.

Suave e uniforme
Assim como os arranjos, a vocalidade de Luciana Souza também busca a suavidade, quer na emissão, quer na dicção, quer nos acentos. Ao entrar na loja de discos, escolha a esmo uma das 12 faixas do disco para ouvir e você captará o clima que perpassa o CD. "God Only Knows" (Beach Boys), "Never Die Young" (James Taylor), "When We Dance" (Sting), "Down To You" (Joni Mitchell): tudo soa bem semelhante.
A uniformidade é tão grande que, ouvindo esse disco, a gente quase não se lembra de que Luciana Souza é uma das mais versáteis musicistas da atualidade, dotada de um conhecimento musical sólido (tem um álbum chamado "Neruda", só de composições próprias a partir de textos do poeta chileno) e uma afinação que redefine paradigmas de perfeição nesta área na música popular, atingindo níveis elevados mesmo para os altíssimos padrões de exigência da música erudita.
Não é por acaso que ela vem cantando obras de um dos mais destacados compositores atuais desta área, o argentino Osvaldo Golijov, e que, recentemente, com a Filarmônica de Los Angeles, tenha solado em um programa com peças do espanhol Manuel De Falla.
Além disso, como jazzista, Souza emprega uma habilidade (raríssima entre as cantoras brasileiras) de improvisação, em "scats" de alta virtuosidade e velocidade, como em "Chorinho pra Ele", de Hermeto Paschoal, registrado em "Duos 2".
Só que essa riqueza fica escondida em "The New Bossa Nova", álbum que, de tanto evitar contrastes e buscar a padronização, parece às vezes ser mais destinado à escuta "de fundo", para sonorizar ambientes relaxantes e despachar o estresse de um congestionamento, por exemplo, do que para audição mais fina e atenta.
Há que se ressaltar que a sonoridade bossa nova conseguida soa autêntica, e não fake, e que o álbum tem o bom senso de não recorrer a batidas tecno e outras picaretagens que DJs andam perpetrando por aí.
Bem cuidado e fácil de ouvir, um disco desses representa o máximo de depuração a que chegariam, digamos, Norah Jones ou Diana Krall. Porém, a trajetória de uma artista do quilate de Luciana Souza nos dá o direito de querer mais.


THE NEW BOSSA NOVA
Artista:
Luciana Souza
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: regular


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