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DISCO CRÍTICA
Tributo a Tim Maia é evento de reiniciação
do enviado ao Rio
"Eu Sempre Fui Sincero e Você
Sabe Muito Bem", o tributo de
Sandra de Sá a Tim Maia, anda na
corda bamba. É a homenagem de
uma artista soul de quilate a um artista soul de quilate, mas evidentemente só se torna possível graças à
atração necrófila que gravadoras
nutrem por mitos mortos.
É difícil imaginar que Sandra pudesse gravar tributos aos vivos
Cassiano e Hyldon, ou, em outras
plagas, aos vivos Toni Tornado,
Wilson Simonal, Getúlio Cortes,
Jair Rodrigues, todos de importância equiparável à de Tim no contexto da black music nacional.
Tim sai da gaveta agora porque é
produto estritamente mercadológico, vendável. Mas, bem, seja como for, Sandra se desincumbe da
tarefa com máxima dignidade.
Produção e arranjos, levados por
Guto Graça Mello e Márcio Miranda, são conservadores, fincados
em soul e funk da velha escola -o
que, se mediocriza os resultados,
afinal não deixa de se afinar com o
espírito do que poderia ser um
bom tributo a Tim Maia.
Mas se trata de Sandra de Sá, e isso significa duas coisas. Primeiro,
que o encontro com Tim rende a
ela um disco de soul e funk e suingue pesados -ainda que caretas- como ela não vinha podendo
realizar havia anos e anos e anos.
Funks como "Sossego" (com citação a Jair Rodrigues), "Flamengo", "A Festa do Santo Reis" e "Batata Frita, o Ladrão de Bicicleta"
reatam o fio interrompido talvez
no início dos 80, em "Olhos Coloridos" e "Demônio Colorido" (de
Sandra ainda compositora, note-se) -o pop Brasil seria outro se ela
não o houvesse abandonado.
Segundo, que baladões soul classudos como "Azul da Cor do Mar",
"Eu Amo Você" e "Pudera" (agora
despida da breguice) flagram a intérprete disposta a (re)conquistar
o título de diva da voz negra brasileira. Barbada.
Parece evento de abertura de um
novo momento. Na sequência,
Cláudio Zoli lança "Férias" (o título é o de uma canção de Cassiano),
com a produção modernizadora
de João Marcello Bôscoli, filho da
antiga diva soul Elis Regina.
Cassiano e Hyldon preparam novos trabalhos, com a perspectiva
prévia de lançamento de sempre
-ou seja, quase nenhuma. Sandra
enfrenta o desafio de um próximo
trabalho, já que os feitos restabelecedores de agora não são mais que
óbvios e naturais, já que se servem
do riquíssimo legado de Tim Maia.
Tudo somado, parece que no final dos 90 a soul brasileiro volta, finalmente, a respirar.
Seu futuro é, como sempre foi,
incerto. Mas parece de novo existir
-até há pouco, havia virado pó. O
perigo de agora é o de sempre: a
burrice inalienável das gravadoras
no Brasil.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
²
Disco: Eu Sempre Fui Sincero e Você Sabe
Muito Bem
Artista: Sandra de Sá
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 18, em média
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