São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA
Tcheco fala em Frankfurt sobre "Saxofone Baixo" e "República das Putas", que a Record publica em dezembro
"Jazz' do escritor Skvorecky chega ao Brasil

CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Frankfurt

O tcheco Josef Skvorecky nunca soube tocar bem seu saxofone. Então resolveu seguir uma frase do escritor William Faulkner. "Uns podem fazer aquilo que querem. Outros não podem e sofrem bastante. Que escrevam sobre isso."
Skvorecky virou escritor e alimentou sua literatura com a música que ele gostaria de poder tocar e ouvir com liberdade nos tempos da Segunda Guerra, quando morava na então Tchecoslováquia.
A experiência da guerra não deixou amarguras nas páginas do saxofonista frustrado. Seus livros vibram com a mesma alegria que as"big bands" de jazz que, primeiro os nazistas, depois os comunistas, tentavam banir de seus ouvidos.
Aos 74 anos, a "música" dos livros de Skvorecky já ganhou muitos prêmios em diversos países. Em dezembro, esse som chega ao Brasil. A Record publica "Saxofone Baixo" e "República das Putas".
Skvorecky, que mora na cidade canadense de Toronto, esteve na 50ª edição da Feira de Frankfurt, que termina amanhã, para lançar "A Engenharia da Alma Humana".
Ontem, antes de voltar para o Canadá, o escritor e professor de literatura e cinema da Universidade de Toronto falou à Folha.
A maior parte de seus livros, diz o escritor, tem como pano de fundo dois temas contíguos: a liberdade e a repressão.
"Cresci com a experiência de dois regimes totalitários: o nazismo e o comunismo", explica. Foi nesse contexto que o jazz chegou à Europa. "Em nossas mentes, as duas coisas ficaram ligadas. Aquela música tão bonita e livre e o horror da guerra e do totalitarismo."
Skvorecky diz que os dois "totalitarismos" que enfrentou queriam banir o ritmo americano. "Louis Armstrong dizia que o jazz não é um tipo de música, é um jeito de tocar. Como banir um jeito de tocar?", pergunta-se.
É como um símbolo de resistência que o autor posiciona em vários romances o personagem Danny Smiricky, jovem músico de jazz que aparece em "República das Putas" e em "Saxofone Baixo".
Assim como as músicas que o personagem toca nos romances, a literatura de Skvorecky "não tem nada de misteriosa". "São livros sobre pessoas para pessoas."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.