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LITERATURA
Tcheco fala em Frankfurt sobre "Saxofone Baixo" e "República das Putas", que a Record publica em dezembro
"Jazz' do escritor Skvorecky chega ao Brasil
CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Frankfurt
O tcheco Josef Skvorecky nunca
soube tocar bem seu saxofone. Então resolveu seguir uma frase do
escritor William Faulkner. "Uns
podem fazer aquilo que querem.
Outros não podem e sofrem bastante. Que escrevam sobre isso."
Skvorecky virou escritor e alimentou sua literatura com a música que ele gostaria de poder tocar e
ouvir com liberdade nos tempos
da Segunda Guerra, quando morava na então Tchecoslováquia.
A experiência da guerra não deixou amarguras nas páginas do saxofonista frustrado. Seus livros vibram com a mesma alegria que as"big bands" de jazz que, primeiro
os nazistas, depois os comunistas,
tentavam banir de seus ouvidos.
Aos 74 anos, a "música" dos livros de Skvorecky já ganhou muitos prêmios em diversos países.
Em dezembro, esse som chega ao
Brasil. A Record publica "Saxofone Baixo" e "República das Putas".
Skvorecky, que mora na cidade
canadense de Toronto, esteve na
50ª edição da Feira de Frankfurt,
que termina amanhã, para lançar
"A Engenharia da Alma Humana".
Ontem, antes de voltar para o Canadá, o escritor e professor de literatura e cinema da Universidade
de Toronto falou à Folha.
A maior parte de seus livros, diz
o escritor, tem como pano de fundo dois temas contíguos: a liberdade e a repressão.
"Cresci com a experiência de
dois regimes totalitários: o nazismo e o comunismo", explica. Foi
nesse contexto que o jazz chegou à
Europa. "Em nossas mentes, as
duas coisas ficaram ligadas. Aquela música tão bonita e livre e o horror da guerra e do totalitarismo."
Skvorecky diz que os dois "totalitarismos" que enfrentou queriam
banir o ritmo americano. "Louis
Armstrong dizia que o jazz não é
um tipo de música, é um jeito de
tocar. Como banir um jeito de tocar?", pergunta-se.
É como um símbolo de resistência que o autor posiciona em vários
romances o personagem Danny
Smiricky, jovem músico de jazz
que aparece em "República das
Putas" e em "Saxofone Baixo".
Assim como as músicas que o
personagem toca nos romances, a
literatura de Skvorecky "não tem
nada de misteriosa". "São livros
sobre pessoas para pessoas."
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