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Autor marcou pela ironia
CAMILA VIEGAS
especial para a Folha
O poeta, ensaísta e tradutor José
Paulo Paes foi cremado às 9h de sábado, no Crematório Municipal da
Vila Alpina. Ele morreu na sexta-feira, aos 72 anos, vítima de edema
pulmonar agudo.
Paes era um dos mais completos
intelectuais da atualidade. Era respeitado no meio acadêmico como
teórico e criador mesmo não tendo
formação superior em literatura.
Além disso, apoiou expressões
consideradas menos "nobres", como a ficção policial e a poesia erótica, das quais "traduzia somente
aquelas passíveis de perdão", como declarou em um debate aberto
para o público, realizado em outubro do ano passado, da série "O Escritor por Ele Mesmo", do Instituto Moreira Salles.
Durante essa palestra, registrada
em vídeo, ele mostra como seu raciocínio, ao mesmo tempo que objetivo, não economizava em ironia.
Dessa mesma maneira, produziu
sua obra poética, ilustrada ao lado
com uma página original do poema "Revisitação", publicado pela
ed. Noa Noa, em 1995.
Ele contou que, certa vez, foi criticado por uma de suas traduções
sob a acusação de estar longe do
original. Como resposta, escreveu
"Do Evangelho de São Gerônimo"
(o santo protetor dos tradutores).
"A tradução não é a mesma coisa
que o original, talvez porque tradutor e autor não sejam a mesma
pessoa. Se fossem teriam a mesma
língua, o mesmo nome, a mesma
mulher, o mesmo cachorro", escreveu. Ao final da carta desejava
"paz sob a terra aos leitores de má
vontade".
Sobre sua obra poética, Paes concordava com Goethe, que dizia que
toda a poesia é poesia de circunstância. Entre os poemas que leu
para exemplificar a teoria, estava
"Borboleta", escrito logo após seu
passeio diário pelo jardim em que
pisou, sem querer, no inseto que
acabava de sair de seu casulo.
"A visão da beleza durou só um
instante, inesquecível." Quem leu
seus poemas e por eles teve acesso
a autores gregos, alemães, dinamarqueses, italianos, entre outros,
sabe a qualidade de sua beleza.
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