São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

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Autor marcou pela ironia

CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

O poeta, ensaísta e tradutor José Paulo Paes foi cremado às 9h de sábado, no Crematório Municipal da Vila Alpina. Ele morreu na sexta-feira, aos 72 anos, vítima de edema pulmonar agudo.
Paes era um dos mais completos intelectuais da atualidade. Era respeitado no meio acadêmico como teórico e criador mesmo não tendo formação superior em literatura.
Além disso, apoiou expressões consideradas menos "nobres", como a ficção policial e a poesia erótica, das quais "traduzia somente aquelas passíveis de perdão", como declarou em um debate aberto para o público, realizado em outubro do ano passado, da série "O Escritor por Ele Mesmo", do Instituto Moreira Salles.
Durante essa palestra, registrada em vídeo, ele mostra como seu raciocínio, ao mesmo tempo que objetivo, não economizava em ironia. Dessa mesma maneira, produziu sua obra poética, ilustrada ao lado com uma página original do poema "Revisitação", publicado pela ed. Noa Noa, em 1995.
Ele contou que, certa vez, foi criticado por uma de suas traduções sob a acusação de estar longe do original. Como resposta, escreveu "Do Evangelho de São Gerônimo" (o santo protetor dos tradutores).
"A tradução não é a mesma coisa que o original, talvez porque tradutor e autor não sejam a mesma pessoa. Se fossem teriam a mesma língua, o mesmo nome, a mesma mulher, o mesmo cachorro", escreveu. Ao final da carta desejava "paz sob a terra aos leitores de má vontade".
Sobre sua obra poética, Paes concordava com Goethe, que dizia que toda a poesia é poesia de circunstância. Entre os poemas que leu para exemplificar a teoria, estava "Borboleta", escrito logo após seu passeio diário pelo jardim em que pisou, sem querer, no inseto que acabava de sair de seu casulo.
"A visão da beleza durou só um instante, inesquecível." Quem leu seus poemas e por eles teve acesso a autores gregos, alemães, dinamarqueses, italianos, entre outros, sabe a qualidade de sua beleza.



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