São Paulo, quarta, 12 de novembro de 1997.




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A vida apimentada das Spice Girls


Negócios (elas são marca de sabonete a chocolate), problemas nos tribunais, ligações com o partido conservador inglês, viagens por todo o planeta, um filme e... o disco novo; as garotas são notícia


DENISE BOBADILHA
especial para a Folha, em Londres

Graças à globalização, alguns símbolos são universais, como a Nike, McDonald's, Adidas, MTV. De um ano para cá, porém, cinco jovens mulheres viraram uma marca mundial de carne e osso, cabelos e voz: as inglesas do supergrupo pop Spice Girls.
As garotas lançaram mundialmente "Spiceworld", seu segundo álbum, entre shows na Turquia e Índia, entrevistas em Paris e encontros com Nelson Mandela e o príncipe Charles na África do Sul. Até uma visita promocional ao Brasil (Amazônia) está prevista para o começo de dezembro. Neste exato momento, elas podem estar em qualquer lugar do mundo.
No berço das meninas, o Reino Unido, é como se Spice Girls fosse uma marquinha no canto do olho de todo mundo. Manchetes em tablóides quase que diárias, vitrines com pôsteres, camisetas nas crianças e o hit "Spice Up Your Life" tocando em todo lugar.
Mas a presença das Spice Girls é assustadora na TV. Um intervalo comercial de qualquer uma das cinco emissoras abertas da Inglaterra tem pelo menos três propagandas estreladas pelas garotas.
Além da Pepsi, marca que promovem mundialmente, vendem o desodorante Impulse Spice ("The Official"), as batatinhas Walker's Crisps e um modelo de máquina fotográfica Polaroid cor-de-rosa que leva o nome delas.
Fazem campanhas institucionais para o Channel 5, a mais nova rede aberta da televisão britânica. Deve ser esse o motivo de elas não aparecerem na nova campanha da BBC, onde 35 artistas (entre eles Lou Reed, Elton John, David Bowie e Bono Vox) cantam "Perfect Day", do próprio Lou Reed.
Até o Natal, cada uma das Spice Girls irá virar um tipo de chocolate da marca Cadbury's. A Sony prepara para a mesma ocasião um jogo para Playstation, cujo "enredo" é guardado a cinco chaves. Se isso ainda não é suficiente, "Spice Girls: O Filme" ficará pronto nos próximos meses.
France Presse
Da esq. para a dir., Mel B., Emma, Victoria, Geri e Mel C., as integrantes do grupo inglês Spice Girls, que lança seu segundo disco, 'Spiceworld'


Frustração de lançamento
Toda essa estrutura, porém, não garantiu o sucesso daquilo que as colocou no topo do mundo. Na semana do lançamento, o álbum "Spiceworld" ficou muito aquém das expectativas da gravadora Virgin/EMI. Na maior loja da rede Tower Records de Londres, por exemplo, o CD vendeu no primeiro dia um décimo do que o último Oasis, "Be Here Now", em seu lançamento.
Há uma explicação para isso, segundo os ingleses: excesso de exposição, não direcionado, provoca saturação. As cinco meninas aprenderam a vender de tudo. Mas se esqueceram de que são hoje uma marca por causa de sua música, que não estão conseguindo vender como se esperava. No Reino Unido, por exemplo, o álbum nem teve marketing massivo. É como se todos fossem obrigados a saber e comprar "Spiceworld".
Rei de joelhos
As Spice são Mel B., Mel C., Geri, Victoria e Emma. Têm entre 19 e 25 anos. No começo, tiveram que provar a idade mostrando documento. Ninguém acreditava que garotas com tanta experiência de vida -filmes eróticos soft, pôsteres de nudez- eram tão jovens.
Elas estouraram com o hit mundial "Wannabe", que levou o álbum de estréia do grupo a vender 18 milhões de cópias no mundo.
Na Inglaterra, são para as crianças o que foram no Brasil um dia Xuxa e Mamonas Assassinas. As adolescentes imitam sua aparência. As mais velhas disfarçam o apreço pelas Spice dizendo que adotaram a "filosofia" do grupo: "girl power", poder das garotas.
Os homens, de qualquer idade, preferem eleger quem tem as melhores pernas, o melhor cabelo, a melhor atitude.
Os dois últimos fãs a se derreterem publicamente na frente das meninas foram o presidente da África do Sul, Nelson Mandela, e Charles, o príncipe de Gales. Eles receberam as garotas em Pretória e trocaram beijinhos com elas. Dois possíveis futuros reis da Inglaterra, Charles e seu filho caçula, Harry, 13, enrubesceram e pareciam ser as estrelas do encontro, e não o contrário.
A imprensa "séria" inglesa criticou o príncipe, dizendo que ele posou com as Spice Girls só para aparecer nos tablóides. Essa mesma imprensa agora chama Charles de "Royal Spice" diariamente.



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