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DEBATE
Evento, realizado anteontem no auditório da Folha, reuniu os cineastas argentinos pela primeira vez
Borges aproxima Cozarinsky e Babenco
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
O debate sobre
Jorge Luis Borges e
o cinema, que
aconteceu anteontem na Folha, gerou um encontro
definitivo: o do cineasta Hector
Babenco com seu compatriota
Edgardo Cozarinsky.
Babenco e Cozarinsky, que não
se conheciam pessoalmente, polarizaram as atenções com relatos
de suas experiências cinematográficas: compartilhavam no
princípio da carreira, por exemplo, o desconhecimento dos tipos
de lentes usados em filmagens.
Também participou do debate o
professor de literatura hispano-americana da USP Jorge
Schwartz, coordenador das traduções das obras completas de
Borges no Brasil (ed. Globo).
Cozarinsky, autor do livro "Borges - Do Cinema" (ed. Livros Horizonte, Lisboa) e do filme "La
Guerre d'un Seul Homme" (A
Guerra de um Só Homem, de
1981), entre outros, veio a São
Paulo a convite da USP para dar o
curso "Borges e o Cinema".
No debate, contou não ter formação de cineasta, mas de espectador. Disse que sua vida se inclinava, a princípio, para a carreira
acadêmica, mas preferiu fazer filmes "pela nostalgia do risco".
"A vida protegida que parecia
me esperar não me satisfazia. Filmar era como ir à guerra, é uma
espécie de grande febre."
Respondendo à pergunta de
Schwartz baseada em citação sua
-""Filmo para não estar sozinho.
Escrevo para poder ficar sozinho"-, disse que o cinema e a literatura em sua vida são "como
alguém que para querer sua mulher necessita uma amante".
Babenco levantou a questão da
orfandade dos argentinos em relação a Borges. "Você é um desses
órfãos", disse a Cozarinsky, para
mais tarde perguntar: "Quem
ocuparia o lugar que ele deixou?".
Para o cineasta argentino, radicado na França desde 74, o lugar é
de Ricardo Piglia (de "Dinheiro
Queimado"). "Não será ninguém
que siga seu caminho. Se houvesse uma eleição, Piglia seria meu
candidato."
À pergunta de um membro da
platéia sobre o idioma que prefere
para escrever, Cozarinsky disse
utilizar o inglês e o castelhano nos
livros e o francês nos roteiros.
Babenco, que mesclava falas em
castelhano e em português durante todo o debate, acabou contando o que aconteceu com seu
último filme, "Coração Iluminado". Planejado para ser falado em
inglês, o projeto não o satisfazia.
"Falei com o Piglia (o escritor
era o co-roteirista) do meu desagrado e ele me disse: "Escute o roteiro". Achei que era mais uma "argentinada" dele, mas no outro dia
escutei e decidi que iria fazer o filme em castelhano. É claro que os
produtores internacionais deixaram o projeto, mas vi que os roteiros realmente falam."
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