São Paulo, Sexta-feira, 12 de Novembro de 1999
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DEBATE
Evento, realizado anteontem no auditório da Folha, reuniu os cineastas argentinos pela primeira vez
Borges aproxima Cozarinsky e Babenco

CYNARA MENEZES
especial para a Folha


O debate sobre Jorge Luis Borges e o cinema, que aconteceu anteontem na Folha, gerou um encontro definitivo: o do cineasta Hector Babenco com seu compatriota Edgardo Cozarinsky.
Babenco e Cozarinsky, que não se conheciam pessoalmente, polarizaram as atenções com relatos de suas experiências cinematográficas: compartilhavam no princípio da carreira, por exemplo, o desconhecimento dos tipos de lentes usados em filmagens.
Também participou do debate o professor de literatura hispano-americana da USP Jorge Schwartz, coordenador das traduções das obras completas de Borges no Brasil (ed. Globo).
Cozarinsky, autor do livro "Borges - Do Cinema" (ed. Livros Horizonte, Lisboa) e do filme "La Guerre d'un Seul Homme" (A Guerra de um Só Homem, de 1981), entre outros, veio a São Paulo a convite da USP para dar o curso "Borges e o Cinema".
No debate, contou não ter formação de cineasta, mas de espectador. Disse que sua vida se inclinava, a princípio, para a carreira acadêmica, mas preferiu fazer filmes "pela nostalgia do risco".
"A vida protegida que parecia me esperar não me satisfazia. Filmar era como ir à guerra, é uma espécie de grande febre."
Respondendo à pergunta de Schwartz baseada em citação sua -""Filmo para não estar sozinho. Escrevo para poder ficar sozinho"-, disse que o cinema e a literatura em sua vida são "como alguém que para querer sua mulher necessita uma amante".
Babenco levantou a questão da orfandade dos argentinos em relação a Borges. "Você é um desses órfãos", disse a Cozarinsky, para mais tarde perguntar: "Quem ocuparia o lugar que ele deixou?".
Para o cineasta argentino, radicado na França desde 74, o lugar é de Ricardo Piglia (de "Dinheiro Queimado"). "Não será ninguém que siga seu caminho. Se houvesse uma eleição, Piglia seria meu candidato."
À pergunta de um membro da platéia sobre o idioma que prefere para escrever, Cozarinsky disse utilizar o inglês e o castelhano nos livros e o francês nos roteiros.
Babenco, que mesclava falas em castelhano e em português durante todo o debate, acabou contando o que aconteceu com seu último filme, "Coração Iluminado". Planejado para ser falado em inglês, o projeto não o satisfazia.
"Falei com o Piglia (o escritor era o co-roteirista) do meu desagrado e ele me disse: "Escute o roteiro". Achei que era mais uma "argentinada" dele, mas no outro dia escutei e decidi que iria fazer o filme em castelhano. É claro que os produtores internacionais deixaram o projeto, mas vi que os roteiros realmente falam."


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