São Paulo, Sexta-feira, 12 de Novembro de 1999
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"Vanguarda sem precedentes'

do enviado ao Rio

"Uma espécie de produto da arte moderna." Assim Nélson Aguilar, curador-chefe da mostra "Brasil 500 Anos", define o Museu de Imagens do Inconsciente, "único instituto do mundo a ter tão longevo e bem-sucedido acervo criado a partir de um programa de terapêutica ocupacional".
A inclusão do módulo "Imagens do Inconsciente" em um panorama que pretende abarcar a produção visual criada ao longo de 500 anos corrige um equívoco histórico: "Apesar dos esforços por enquadrá-la racionalmente, não há adjetivos para a arte, ela aflora de qualquer ambiente, em qualquer condição", diz Aguilar.
Ou seja, a tentativa de categorização do surto criativo revela-se tão supérflua quanto as tentativas de domar a esquizofrenia com tratamentos arcaicos, como o eletrochoque.
"A grande mudança na apreciação da arte dos internos de hospitais psiquiátricos começou em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna de São Paulo, quando se abordou isso do ponto de vista do processo de criação, exemplificado pela condição existencial dos esquizofrênicos. Foi o que fez H. Prinzhorn", afirma.
"Somente a partir daí percebeu-se que o trabalho de Paul Klee (considerado pelo Reich um inventor de "arte degenerada'), por exemplo, tinha raízes profundas no inconsciente. Portanto, os estudos de Prinzhorn referendavam não somente a arte dita esquizofrênica, mas também toda uma noção de arte moderna."
Aguilar conta que, quando convidou Nise da Silveira para a curadoria de "Imagens do Inconsciente", ela logo falou em Arthur Bispo do Rosário, que estará muito bem representado na exposição.
"Ao tecer aqueles suntuosos mantos, Bispo devolveu à arte contemporânea a bidimensionalidade que ficara esquecida na arte moderna. Provou que, nos hospitais psiquiátricos brasileiros, se produziu uma extrema vanguarda, sem precedentes na história da arte." (CAC)


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