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"CORRA LOLA CORRA"
Uma aula de movimento retilíneo uniforme
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
O pacote todo é bonito: edição
com mais cortes que um videoclipe, música eletrônica alta, uma
atriz de cabelos vermelhos e tatuagem tribal ao redor do umbigo. Fica nisso.
Lola (Franka Potente) tem 20
minutos para livrar seu namorado da pior, arrumando-lhe 100
mil pratas. Para isso correrá desesperada pelas ruas de sua cidade. Ao espectador cabe conhecer
três diferentes possibilidades dessas corridas, uniformes, que levam a três desfechos diferentes.
Brincar com a narrativa não é
prerrogativa do novo cinema alemão. Mas aqui, menos do que a
construção de uma paisagem onírica ou a tentativa de diminuir os
limites da mediação que toda narração impõe, o diretor Tom
Tykner parece querer dizer "vejam como meus continuistas trabalham bem".
Também poderia ser a ilustração de uma aula de cinética ou a
demonstração da teoria da causalidade. Porque não há um fim
maior em "Corra Lola Corra". Há,
aparentemente, um propósito em
si mesmo, algo masturbatório,
em que o diretor se satisfaz com
nada mais que precisão cronométrica. Assim, dez segundos perdidos por Lola ao descer escadas levam-na a ser atropelada adiante;
isso já não acontece na segunda
corrida etc.
(Ou: a bola A transfere sua velocidade para bola B, mas, por insuficiente, não a encaçapa; na segunda tentativa a velocidade é demasiada, bola A e bola B caem; a
"nega" na terceira chance?)
Pode-se alegar que "Lola" invoca grandes temas, um amor clássico, o lar destruído (Lola até tem
tempo de saber que é filha adotiva
e odiada). Mas tudo isso se subordina ao preciosismo de Tykner.
É paradoxal: para fazer um filme em que faz questão de dizer
que um mísero dado do acaso pode levar a desfechos diferentes,
Tykner parece ter seguido um roteiro e uma programação engessada, dignos de pesquisa científica, apenas mudando uma variável
a cada experimento. Sem possibilidade da intervenção do acaso.
Avaliação:
Filme: Corra Lola Corra
Título Original: Run Lola Run
Produção: Alemanha, 1999 (81 min)
Direção: Tom Tykwer
Com: Franka Potente, Moritz Bleibreu
Quando: a partir de hoje, nos cines SP
Market 6, Belas Artes Aleijadinho,
Lumière 1, Cinearte 1
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