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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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OUTRA FREQUÊNCIA

Rádio desafia internos da Febem

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estúdio de rádio instalado na Febem do Tatuapé é a nova esperança de educadores na recuperação de jovens infratores.
O projeto Rádio Fique Vivo atende à primeira turma pós-fase experimental, com dez adolescentes, dos complexos Tatuapé (zona leste de São Paulo) e Franco da Rocha (Grande São Paulo).
Com um radialista e um sonoplasta, o grupo tem aulas de gravação, edição e mixagem. Fora a parte técnica, passa por um processo de discussão de pautas para a produção dos programas.
É nessa etapa que educadores e psicólogos pretendem reforçar debates sobre cidadania. "Para criar uma programação de rádio, os jovens desenvolvem a capacidade de ponderação, raciocínio lógico, consciência crítica. Percebem que, para serem ouvidos, também têm de ouvir", diz Cristina de Miranda Costa, da diretoria de área escolar da Febem, uma das coordenadoras do projeto.
De acordo com ela, os aprendizes podem fazer denúncias, desde que "fundamentadas" e contempladas com "o outro lado".
Os alunos deverão fazer entrevistas com outros internos e autoridades da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor e do governo. Os programas serão gravados em CDs para a execução durante intervalos ou aulas, nos dois complexos. Segundo Costa, seria inviável fazer transmissão radiofônica devido a dificuldades técnicas e a diferenças nos horários das atividades nas unidades.
A coordenadora afirma que o rádio exerce forte atração entre os adolescentes da instituição. "Com um histórico de exclusão e inadequação, o interno tem muita necessidade de falar e ser ouvido."
Costa ressalta um aspecto delicado do uso do rádio na Febem: "É difícil trabalhar a expressão da liberdade numa situação de privação de liberdade".
O projeto é resultado de uma parceria entre o governo do Estado, a ONG Fique Vivo e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que concedeu R$ 100 mil.
O investimento deverá garantir a continuidade da Rádio Fique Vivo por dez meses. Nesse período, é planejada a formação de cinco turmas, de dez internos cada uma, em cursos de dois meses.
Costa diz que a Febem já procura outros parceiros a fim de tentar garantir a continuidade da Fique Vivo. E para conseguir ampliar o atendimento nos complexos de Franco da Rocha e Tatuapé -que somam 1.918 internos e costumam ser palco de fugas e denúncias de tortura contra menores.

laura@folhasp.com.br


A jornalista Laura Mattos entra em férias; no período, a coluna "Outra Frequência" não será publicada

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