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OUTRA FREQUÊNCIA
Rádio desafia internos da Febem
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estúdio de rádio instalado na Febem do Tatuapé é a
nova esperança de educadores na
recuperação de jovens infratores.
O projeto Rádio Fique Vivo
atende à primeira turma pós-fase
experimental, com dez adolescentes, dos complexos Tatuapé
(zona leste de São Paulo) e Franco
da Rocha (Grande São Paulo).
Com um radialista e um sonoplasta, o grupo tem aulas de gravação, edição e mixagem. Fora a
parte técnica, passa por um processo de discussão de pautas para
a produção dos programas.
É nessa etapa que educadores e
psicólogos pretendem reforçar
debates sobre cidadania. "Para
criar uma programação de rádio,
os jovens desenvolvem a capacidade de ponderação, raciocínio
lógico, consciência crítica. Percebem que, para serem ouvidos,
também têm de ouvir", diz Cristina de Miranda Costa, da diretoria
de área escolar da Febem, uma
das coordenadoras do projeto.
De acordo com ela, os aprendizes podem fazer denúncias, desde
que "fundamentadas" e contempladas com "o outro lado".
Os alunos deverão fazer entrevistas com outros internos e autoridades da Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor e do governo. Os programas serão gravados
em CDs para a execução durante
intervalos ou aulas, nos dois complexos. Segundo Costa, seria inviável fazer transmissão radiofônica devido a dificuldades técnicas e a diferenças nos horários das
atividades nas unidades.
A coordenadora afirma que o
rádio exerce forte atração entre os
adolescentes da instituição. "Com
um histórico de exclusão e inadequação, o interno tem muita necessidade de falar e ser ouvido."
Costa ressalta um aspecto delicado do uso do rádio na Febem:
"É difícil trabalhar a expressão da
liberdade numa situação de privação de liberdade".
O projeto é resultado de uma
parceria entre o governo do Estado, a ONG Fique Vivo e o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que
concedeu R$ 100 mil.
O investimento deverá garantir
a continuidade da Rádio Fique
Vivo por dez meses. Nesse período, é planejada a formação de cinco turmas, de dez internos cada
uma, em cursos de dois meses.
Costa diz que a Febem já procura outros parceiros a fim de tentar
garantir a continuidade da Fique
Vivo. E para conseguir ampliar o
atendimento nos complexos de
Franco da Rocha e Tatuapé -que
somam 1.918 internos e costumam ser palco de fugas e denúncias de tortura contra menores.
laura@folhasp.com.br
A jornalista Laura Mattos entra em férias; no período, a coluna "Outra Frequência" não será publicada
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