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"Emissões" remexe época pré-internet
COLUNISTA DA FOLHA
A capa de "Emissões Noturnas"
é emblemática. Traz uma estampa dessas de arquivo, que direciona de cara ao caráter temporal do
livro, ao lado de uma fita cassete.
E é a fita cassete que dá toda a simbologia ao livro de Massari.
À primeira vista, foi de onde o
autor tirou suas entrevistas, para
levá-las ao ar no "Rock Report" e,
agora, transcrevê-las para o livro
do programa. Mas, para quem
tem mais de 30 anos e se alimentou das informações musicais fornecidas pelo programa, o significado da fita é outro.
O "Rock Report" pertence a
uma casta de programas de rock
que desde os anos 70, portanto
muito antes da internet (já viveu-se uma era de informação sem a
internet, acredite), sobrevoa heroicamente a programação quase
sempre falível e imbecilizante das
rádios rock para trazer o diferencial, as novidades, curiosidades e
"esquisitices" importantes das
quais se refere Massari. Ou os
"verdadeiros bons sons".
O mais dinossáurico programa
dessa estirpe heróico-informativa
de que se tem notícia foi o "Caleidoscópio", produzido pela rádio
América no AM e que focava o
rock depois dos Beatles. Depois, o
bom no AM era ouvir a Excelsior,
onde figuras carimbadas como
Maurício Kubrusly (hoje na Rede
Globo) entregava o ouro sonoro.
Na mesma Excelsior, mas já na
era FM, o conhecido Kid Vinil,
hoje comandante da revitalizada e
comemorada programação de
formato livre da Brasil 2000, mandava punk e new wave pelos ares
em 79, no "Programa do Kid Vinil", às segundas, 22h. Logo depois Vinil dividia o "Rock Sandwich", que aos sábados a partir
das 24h emitia punk e pós-punk
em uma primeira hora, e depois
dava lugar para Leopoldo Rei trazer as últimas do heavy metal.
Nos anos 80, se via jornal a Ilustrada dava conta das novas tendências, Kid Vinil colocava no ar
o "New Beat", na rádio Antena 1,
com a missão de repassar as últimas da grande fase do rock inglês
da época.
Estamos em 84 e 85. E o "New
Beat" tinha, na mesma emissora,
a companhia de outro programa
diferenciado, o "Blue Moon", pilotado por Fernando Naporano,
outro que à época escrevia na
Ilustrada. Enquanto isso a Bandeirantes FM abria espaço para o
dark "New Music", nas noites de
sextas.
Em 85, e até 95, a rádio brasileira
teve o "Novas Tendências", produzido e apresentado por José
Roberto Mahr, hoje diretor da rádio carioca Fluminense FM.
Através do "NT", que foi veiculado primeiro pela 89FM e depois
ganhou transmissão nacional pela Rádio Cidade, os ouvintes brasileiros se atualizavam de pop e
rock dos bons. E já sentia chegar
as primeiras batidas eletrônicas.
Parente próximo do "Rock Report", agora já no começo dos 90 e
emulado pelo rock americano de
Seattle e além, era o "Garagem".
Foi ao ar na Gazeta FM, desapareceu até 99, voltou na Brasil 2000,
teve nova ida-e-vinda e hoje se
mantém vivo às segundas-feiras,
com a difícil missão de trazer o diferencial e o novo na era fácil da
internet, quando um programa
desses gravado com carinho em
uma fita cassete parece objeto de
estudo de paleontologia.
(LÚCIO RIBEIRO)
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