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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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"LET IT BE... NAKED"

Remixado a partir de fitas originais, álbum de 1970 é relançado sem orquestrações

Último disco dos Beatles ganha nova versão

DO "NEW YORK TIMES"

Uma coisa que fica clara para quem ouve o CD duplo "Let It Be... Naked" (que a EMI lança no próximo dia 17) é que este novo álbum não terá vindo para pôr fim à discussão -uma discussão eterna entre os fãs dos Beatles desde que foi lançado o "Let It Be" original, em 70- sobre qual seria o som que a banda originalmente queria que "Let It Be" tivesse.
O novo "Let It Be" traz notícias boas e ruins. Em termos puramente sônicos, o álbum é um deleite. Remixadas a partir das fitas originais, gravadas em canais múltiplos, as faixas possuem um som quente e redondo que faz o áudio do álbum original soar chato e esmagado. A diferença mais notável é que foram eliminados os coros e orquestrações lautos que Phil Spector acrescentou a "Let It Be", "Long and Winding Road" e "Across the Universe", deixando o som sem os enfeites que os Beatles quiseram originalmente.
Os poréns têm a ver com as diferenças entre este álbum e as versões de "Let It Be" às quais os ouvintes já se acostumaram. Mas eles vão mais fundo do que isso, suscitando uma pergunta histórica: que tipo de álbum os Beatles tinham em mente quando gravaram o material? Talvez não fosse o som de "Let It Be... Naked".
Com "Let It Be", os Beatles queriam voltar ao processo de gravação de seu primeiro álbum, "Please Please Me" (63), tocando as músicas ao vivo no estúdio. Mas quando as gravações terminaram, os Beatles, que brigavam o tempo todo, não conseguiam encarar o árduo trabalho de analisar as fitas para montar um álbum. Essa tarefa ficou a cargo de Glynn Johns, que criou três versões do disco. Depois, chamaram Phil Spector.
Agora, em lugar de lembrar uma sessão informal em que os Beatles batem papo e tocam algumas músicas antigas, "Let It Be... Naked" trata o álbum como se fosse "Rubber Soul" ou "Please Please Me". Não há os comentários, as jams as versões antigas. Em lugar disso, cada canção começa e termina como uma produção fria. Assim, fica difícil enxergar este novo álbum como a versão definitiva de "Let It Be". Na verdade ela não é "Let It Be... Naked", mas "Let It Be" disfarçado com uma folha de figueira.


Tradução de Clara Allain

LET IT BE... NAKED. Artista: Beatles. Lançamento: EMI. Quanto: R$ 38.



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