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MEMÓRIA/DANÇA
Bujones foi reconhecido pela presença brilhante
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Morreu anteontem, de câncer, em Orlando, aos 50
anos, Fernando Bujones. Aclamado como um dos maiores bailarinos americanos de sua geração,
Bujones, filho de cubanos, nasceu
em Miami, mas iniciou seus estudos em Havana. Aos 12 anos, ganhou uma bolsa de estudos para a
escola do American Ballet em Nova York e, em 1972, passou a integrar a companhia, tornando-se
um de seus maiores nomes, ao lado de Mikhail Baryshnikov.
Depois de deixar o American
Ballet Theatre (ABT) em 1985
-para onde voltou, em 1990, como bailarino convidado-, ele assumiu o posto de diretor associado do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro. O artista, que foi casado
com Márcia Kubitschek (1943-2000, filha do presidente JK), já
freqüentava os palcos da cidade
desde 1976. Dançou várias vezes
no país; a última, em 1993.
Bujones foi bailarino convidado
em grandes companhias do mundo, como o Royal Ballet, a Ópera
de Paris e o Balé de Stuttgart. Sua
última apresentação com o ABT
foi em 1995. Logo depois, fundou
sua própria companhia, Ballet
Classico Mediterraneo, em Madri. Em 2000, tornou-se diretor
artístico do Orlando Ballet, promovendo avanços não só no que
dizia respeito à capacidade técnica mas também na ampliação do
repertório. Como diretor, achava
difícil encontrar o balanço entre o
lado criativo e o dos negócios.
Durante seus anos de carreira,
dançou com grandes nomes como Margot Fonteyn, Natalia Makarova, Carla Fracci, Marcia Haydée e Ana Botafogo. Foi reconhecido mundialmente pela presença
cênica e técnica brilhante, pela capacidade de aguçar o sentido de
cada passo da dança clássica e pelas linhas impecáveis.
Sua primeira coreografia foi para o ABT, em 1984, "Grand Pas
Romantique". Sempre declarou a
sua preferência por papéis masculinos na dança clássica. Uma de
suas coreografia favoritas era "La
Sylphide". Segundo dizia, o papel
de James nessa peça lhe dava a
oportunidade de interpretar, dentro do estilo romântico, um personagem complexo.
Outra de suas peças preferidas
era "La Bayadère", que ele viu pela primeira vez nos anos 60 com
Nureyev -o bailarino que mais o
inspirou. Os dois trabalharam
juntos na Ópera de Paris, na Ópera de Viena e no Ballet Nacional
do Canadá. E foram muitas vezes
comparados, pelo estilo e qualidade dos movimentos.
Vários críticos comentaram o
carisma de Bujones em cena, ressaltando a suspensão dos gestos e
a capacidade teatral rara, além de
enorme beleza corporal. Fora da
cena, foi um coreógrafo apurado e
diretor influente. A doença leva
absurdamente cedo uma das
grandes estrelas da dança clássica.
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