Concerto, que valoriza elementos percussivos, foi encomendado ao compositor

Programa traz também Camargo Guarnieri, mestre do recifense que equilibra vanguarda e nacionalismo em construção sinfônica

MATHEUS BITONDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A estreia de obras encomendadas a compositores brasileiros já se tornou tradição da Osesp desde sua reestruturação, há cerca de dez anos.
Dando continuidade a esse projeto, a orquestra realiza esta semana a primeira audição do "Concerto nº 2 para Percussão e Orquestra", de Marlos Nobre, que comemora 70 anos em 2009 com uma produção ativa e em destaque nas principais salas de concerto do mundo.
Nascido em Recife, Nobre veio para o Sudeste na década de 60, época em que o panorama musical nacional se dividia em duas frentes até então ferrenhamente antagônicas: nacionalismo e vanguarda.
Trazendo frevo e maracatu na bagagem, pôs-se em meio ao fogo cruzado, tendo aulas com Hans Joachim Koellreutter -o grande guru da vanguarda- e Camargo Guarnieri -principal propagador das ideias nacionalistas. Ainda na mesma década, partiu para a Argentina, em Buenos Aires, onde frequentou cursos com compositores do calibre de Messiaen, Ginastera, Copland e Dallapiccola.
O resultado dessas experiências é um vasto conjunto de obras que migram entre diferentes técnicas e estéticas, fazendo uso de melodias folclóricas sem que soem óbvias e de técnicas recentes sem que soem gratuitas.Tudo isso sempre muito bem amarrado por um sólido tratamento da escrita instrumental, com frequente destaque para a percussão.
E são esses instrumentos que estarão em evidência nesta semana nas três récitas da Osesp.
A julgar pelo desempenho de Nobre em outras peças para percussão, como o balé "Rhythmetron" (1968), a série "Sonâncias" (1972-80) e o "Concerto nº 1 para Percussão e Orquestra" (2000), o ouvinte pode esperar por passagens de intenso vigor rítmico.
Além disso, o constante embate entre a regularidade e a imprevisibilidade dos pulsos -característica constante nas obras de Nobre-, e um colorido tratamento dos timbres, típico de seu manejo dos instrumentos de percussão, devem aparecer no "Concerto nº 2...".
No mesmo programa, uma obra de seu mestre Camargo Guarnieri precede a estreia.
Vale conferir e comparar.