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CRÍTICA
CD não soa a caça-níquel
do enviado especial
Disco póstumo é uma homenagem aos fãs e ao artista morto ou
um caça-níquel?
Ambas as coisas. E sempre. O
que muda em cada caso é o peso
das duas variantes. Já foi dito que,
ao se ouvir falar em cultura, é bom
sacar o talão de cheque.
"O Último Solo", contudo, tem
o grandíssimo mérito de conseguir
não feder a caça-níquel.
Em parte isso se deve a ter a frente do projeto o diretor artístico da
gravadora. Recentemente João
Augusto teve oportunidade de faturar com discos póstumos de um
grupo com carreira meteórica.
Preferiu não fazê-lo -decisão não
muito comum em um meio onde
vender é o objetivo primeiro.
Além disso, houve grande investimento na feitura do disco -oito
meses de trabalho e um volume de
dinheiro que não foi revelado, mas
que, certamente, não foi pouco. E
tudo acompanhado de perto pela
família do cantor.
Mas isso não garante um disco
bom. "O Último Solo" tem unidade. E é bem feito o suficiente para
não parecer uma criatura composta por algum Victor Frankenstein
em uma mesa de mixagem.
O melhor cartucho é queimado
na abertura do disco, com "Hey,
That's No Way to Say Goodbye",
de Leonard Cohen. "The Dance"
mantém um pouco o nível. Depois, o CD desce a ladeira.
As músicas italianas têm um romantismo piegas que os arranjos
só sublinham -às vezes menos,
como em "Il Mondo Degli Altri",
às vezes mais, como em "E Tu Come Stai". Mas delas não se pode esperar nada muito diferente.
Mas e com a época de ouro da
canção norte-americana? É arriscado pegar clássicos que já foram
massacrados por dezenas de versões. O mínimo que se espera é ousar fazer algo diferente.
Não foi o que ocorreu em "I Loves You Porgy". Faltou técnica para Renato. Sua voz, que é bela, aqui
não se sustenta. O resultado ficou
aquém do seu talento.
O caso de "Change Partners" é
semelhante. Só que com um agravante. A idéia de mudar o espírito
da música no meio de sua execução é um "ruído" que atrapalha a
audição.
Ela começa imitando o som do
gramofone -abafado e com chiados-, passa para o som digital e
volta ao gramofone. Uma brincadeira que não teve a menor graça.
Dá apenas uma vontade danada de
correr para o armário procurar
aquela gravação com o Fred Astaire.
(LAR)
Disco: O Último Solo
Artista: Renato Russo
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 18, em média
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