São Paulo, quarta, 12 de novembro de 1997.




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CRÍTICA
CD não soa a caça-níquel

do enviado especial

Disco póstumo é uma homenagem aos fãs e ao artista morto ou um caça-níquel?
Ambas as coisas. E sempre. O que muda em cada caso é o peso das duas variantes. Já foi dito que, ao se ouvir falar em cultura, é bom sacar o talão de cheque.
"O Último Solo", contudo, tem o grandíssimo mérito de conseguir não feder a caça-níquel.
Em parte isso se deve a ter a frente do projeto o diretor artístico da gravadora. Recentemente João Augusto teve oportunidade de faturar com discos póstumos de um grupo com carreira meteórica. Preferiu não fazê-lo -decisão não muito comum em um meio onde vender é o objetivo primeiro.
Além disso, houve grande investimento na feitura do disco -oito meses de trabalho e um volume de dinheiro que não foi revelado, mas que, certamente, não foi pouco. E tudo acompanhado de perto pela família do cantor.
Mas isso não garante um disco bom. "O Último Solo" tem unidade. E é bem feito o suficiente para não parecer uma criatura composta por algum Victor Frankenstein em uma mesa de mixagem.
O melhor cartucho é queimado na abertura do disco, com "Hey, That's No Way to Say Goodbye", de Leonard Cohen. "The Dance" mantém um pouco o nível. Depois, o CD desce a ladeira.
As músicas italianas têm um romantismo piegas que os arranjos só sublinham -às vezes menos, como em "Il Mondo Degli Altri", às vezes mais, como em "E Tu Come Stai". Mas delas não se pode esperar nada muito diferente.
Mas e com a época de ouro da canção norte-americana? É arriscado pegar clássicos que já foram massacrados por dezenas de versões. O mínimo que se espera é ousar fazer algo diferente.
Não foi o que ocorreu em "I Loves You Porgy". Faltou técnica para Renato. Sua voz, que é bela, aqui não se sustenta. O resultado ficou aquém do seu talento.
O caso de "Change Partners" é semelhante. Só que com um agravante. A idéia de mudar o espírito da música no meio de sua execução é um "ruído" que atrapalha a audição.
Ela começa imitando o som do gramofone -abafado e com chiados-, passa para o som digital e volta ao gramofone. Uma brincadeira que não teve a menor graça. Dá apenas uma vontade danada de correr para o armário procurar aquela gravação com o Fred Astaire. (LAR)
Disco: O Último Solo Artista: Renato Russo Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, em média


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