São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARYSHNIKOV
Bailarino russo, que dança sábado e domingo, no Teatro Municipal de SP, concedeu entrevista à Folha
"Decidi seguir a natureza do meu corpo"

especial para a Folha

Quando dançou no Brasil pela última vez, em 1993, Mikhail Baryshnikov estava acompanhado de seu grupo, o White Oak Dance Project, que permanece o centro de suas atenções e continua a ser o "veículo" capaz de nutrir a continuidade de sua carreira.
Nos trechos seguintes da entrevista à Folha, Baryshnikov explica como vem desenvolvendo o seu trabalho.
(ANA FRANCISCA PONZIO)


Folha - A coreografia de "Heartbeat: MB" é assinada por Sara Rudner, mas também conta com sua participação. Como vocês dividiram o processo criativo da obra?
Mikhail Baryshnikov -
Trabalhamos sobre uma base de improvisação. Sara Rudner foi uma das melhores bailarinas do grupo de Twyla Tharp. Em vez de imitar os movimentos que ela me apresentava, que correspondem ao estilo dela, eu decidi seguir a natureza do meu corpo.
O processo de criação incluiu registros em vídeo, que nós, depois, assistíamos para selecionar e combinar os melhores momentos. Mas mantivemos a coreografia aberta às improvisações que o ritmo do coração pode imprimir à obra.
Folha - Como está seu trabalho com o grupo White Oak Dance Project?
Baryshnikov -
Continua ótimo. Terminamos recentemente uma turnê de muito sucesso pelos EUA, temos produzido duas a três novas peças por ano, e nosso interesse por coreógrafos desconhecidos aumenta cada vez mais.
Ao mesmo tempo, continuamos revivendo obras de coreógrafos fundamentais, como Merce Cunningham e Paul Taylor, que neste ano remontou para nós uma obra deslumbrante, que ele havia criado nos anos 70, chamada "Profiles".
O elenco também tem se renovado. Alguns bailarinos de nossa formação original se aposentaram, outros resolveram ter filhos, então acabamos absorvendo novos integrantes.
Folha - Todos os grupos norte-americanos de dança reclamam que os patrocínios têm diminuído nos EUA. Ao mesmo tempo, morreu recentemente o empresário Howard Gilman, um incentivador do White Oak, que cedia sua fazenda na Flórida para o grupo ensaiar. Como você lida com essa situação?
Baryshnikov -
Claro que não é fácil administrá-la, porque não contamos com suporte financeiro do governo americano.
Quero também esclarecer que Howard Gilman nunca foi nosso patrocinador. Ele foi um amigo querido, que nos cedia um espaço em sua fazenda, chamada White Oak (Carvalho Branco), cujas plantações de carvalho acabaram dando nome à companhia.
Todo o nosso dinheiro vem das bilheterias, e, se elas não rendem o suficiente, o jeito é colocar mais dinheiro do bolso na próxima produção.
Folha - Você está realmente disposto a descobrir novos coreógrafos?
Baryshnikov -
Quando possível, procuro conhecer o trabalho de novos criadores, seja em Nova York, na Europa, Austrália ou Japão.
Isso é importante, porque os coreógrafos consagrados, em geral, são muito ocupados e estão cuidando de seus próprios grupos.
Tive o privilégio de trabalhar com a maioria deles, mas não é fácil contar a toda hora com obras novas de Merce Cunningham, Trisha Brown, Twyla Tharp, ou Maurice Béjart.
Por isso, nos últimos sete anos, tenho me interessado por gente nova, que está em busca de direções diferentes e que possa trazer algo interessante para meu grupo. Às vezes funciona, outras vezes, não, mas meu objetivo é fazer programas mistos, com obras de coreógrafos conhecidos e também daqueles que estão começando.
˛
Espetáculo: Mikhail Baryshnikov Quando: sábado e domingo, às 21h Onde: Teatro Municipal de São Paulo (praça Ramos de Azevedo, s/nē; região central, tel. 011/222-8698) Quanto: para domingo os ingressos já estão esgotados. Os poucos que restam para sábado custam R$ 100, R$ 150 e R$ 200, no Centro Israelita de Assistência ao Menor (informações pelo tel. 011/869-0688) Patrocinador: IBM



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.