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RELÂMPAGOS
Genética
extraviada
JOÃO GILBERTO NOLL
Os lapsos condenam. A
mim, me salvam. Outro dia
olhei um com toda a paciência. Somos parecidos: a ambos faltam partes e, onde a
lacuna é norma, em nós pode saltar uma forma esdrúxula, um réquiem ornado de
idílios, um troço assim ou,
talvez, assado. De regra, o
broto só arrebenta quando
está apto a copiar a índole
de sua arquidiocese. Para
mim e o lapso, não: ambos
nascemos de uma abrupta
desregulagem. Só ganhamos porque botamos tudo a
perder. Miramo-nos como
gêmeos sobranceiros: sem a
herança da paternidade,
vértice do impensável, memórias de uma genética extraviada.
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