UOL


São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"MONSIEUR N."

De Caunes realiza longa acadêmico

CRÍTICO DA FOLHA

Há muito tempo, na França, circulava uma charge. Um cineasta cercado por equipamentos e equipe, megafone à mão, dizia com segurança a respeito de seu filme sobre Napoleão Bonaparte: "Desta vez vai ser um sucesso. No final, nós ganhamos".
O paradoxo de Napoleão é que, embora derrotado, ajudou decisivamente a mudar o mundo. E o insuportável, para nós, é imaginar este homem, o mais talentoso general, reduzido ao exílio na remota ilha de Santa Helena.
É, de certa forma, a essas inquietações, à não aceitação pelos franceses da derrota em Waterloo, que tenta responder "Monsieur N.", de Antoine de Caunes. Ou talvez fosse mais correto dizer que a essas angústias o filme busca satisfazer, ou que ao vazio napoleônico ele busca preencher.
Esse vazio é, evidentemente, muito mais acentuado entre os franceses. E não será por acaso que Napoleão, inconformado com sua derrota na Rússia, lembra que seu sonho era a unificação européia: "uma só lei, uma só moeda" etc. Belo modo de sugerir que a União Européia, tão sonhada por Charles de Gaulle (ninguém mais próximo de Napoleão no século 20), é só um prolongamento do sonho napoleônico.
Para o filme, Napoleão ainda não lutou sua última batalha: esta se desenrola em Santa Helena e o opõe ao governador inglês da ilha, Hudson Lowe. Melhor não antecipar nada: digamos que envolve hipóteses bastante fantasiosas sobre o destino do imperador francês, sem descartar especulações sobre sua morte (por exemplo: teria ele sido envenenado?).
O roteiro tem o interesse de descrever a batalha de um homem só, porém estrategista imbatível, contra as circunstâncias que o aprisionam. Ele não tem propriamente inimigo nesta batalha. Ou antes, praticamente todos, de sua "entourage" ou do exército britânico, são inimigos.
Mas para chegar ao fim dessa última batalha o filme precisa contornar uma série de obstáculos e criar uma série de personagens, cuja utilidade básica é desviar nossa atenção para que as coisas se imponham como verossímeis.
Isso torna o filme muito longo, embora esse não seja o seu principal problema, e sim o fato de estarmos aqui, novamente, diante da velha "qualidade francesa": aquele filme acadêmico ao extremo, capaz de agradar às velhinhas parisienses, sem desagradar os nostálgicos nacionalistas do império francês. É um público, é verdade. Mas não é daqui. Aqui o público-alvo é, em princípio, o de apreciadores de belas paisagens. (INÁCIO ARAUJO)


Monsieur N.
Idem

  
Direção: Antoine de Caunes
Produção: França/Reino Unido, 2003
Com: Philippe Torreton, Richard E. Grant, Elsa Zylberstein
Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco 1



Texto Anterior: Cinema/estréias - "Bianca": Misantropo faz Nanni Moretti exercitar sua maturidade
Próximo Texto: Copião: Filme do Casseta é enigma no grande ano nacional
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.