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Crítica/ "Rebobine, por Favor"
Michel Gondry salta da pretensão para um humor sem brilho
Comédia americana de francês aborda dupla que grava versões caseiras de blockbusters após acidente em locadora
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Começando pelo que Michel Gondry quis dizer,
ou pelo que eu entendi
de "Rebobine, por Favor": a
memória afetiva é mais importante que a memória objetiva e
pode se sobrepor a ela.
É uma espécie do "imprima-se a lenda" que celebrizou "O
Homem que Matou o Facínora" (1962), de John Ford. Com a
diferença, significativa, de que
Ford mandava imprimir a lenda, mas mostrava o que de fato
aconteceu.
Aqui temos uma modesta locadora de vídeos em uma pequena cidade de Nova Jersey.
Seu dono, Elroy Fletcher
(Danny Glover), tem dificuldades com a prefeitura local, que
exige enormes mudanças no
edifício para não botar tudo
abaixo. Ele não tem dinheiro,
mas ali, sustenta, nasceu um famoso músico de jazz, já morto.
Elroy tem que viajar e deixa a
locadora a cargo de seu empregado, e um pouco mais que isso,
Mike (Mos Def), com a instrução específica de não deixar o
trapalhão Jerry (Jack Black) se
aproximar do local. Inútil dizer,
a primeira coisa que Jerry faz é
entrar no local. Pior: ele está
magnetizado, e seu contato
com as fitas de vídeo as desmagnetiza. Ou seja: logo, em
vez de vídeos, temos um monte
de fitas desgravadas.
Diante disso, Mike e Jerry
decidem que a solução é filmar
a toque de caixa alguns sucessos da loja, como "Os Caça-Fantasmas". Seria algo capaz
de lembrar, ainda que remotamente, os filmes de Edward
Wood (1924-78). Muito mais
precários, claro.
Comunidade
No entanto, não é à precariedade que atentam seus fregueses. Esses filmes trazem algo de
muito familiar, que comoverá
as pessoas da comunidade mais
imediata, dando uma nova
chance à combalida locadora.
O problema do filme é que a
idéia geral, enunciada mais acima, é mais interessante do que
seu desenvolvimento. Não tanto do que seu argumento. Por
um lado, a evolução do roteiro
faz pensar se tanta arbitrariedade deve-se ao tom paródico
ou se o tom paródico é um álibi
para tanta arbitrariedade.
O fato é que ela acontece.
Efeito de humor? Pode ser.
Mas não há mais do que uma
meia dúzia de piadas dignas de
um cineasta tido como de vanguarda. Saltamos da pretensão
de "O Brilho Eterno de uma
Mente sem Lembranças"
(2004) para a modéstia de um
humor que, sem muito brilho,
mas não sem simpatia, vai
constituindo lembranças de algo que nunca existiu.
O que há de simpático, afinal,
é a idéia de uma comunidade
composta por pessoas insignificantes que, no processo, vai
montando idéia de oposição
não só aos poderes locais (a
prefeitura), como à indústria
cultural. Paradoxo: esse é o típico enfoque que parece agradar
à indústria cultural.
REBOBINE, POR FAVOR
Direção: Michel Gondry
Produção: EUA, 2008
Com: Jack Black, Mos Def
Onde: em cartaz nos cines HSBC Belas
Artes, Reserva Cultural e circuito
Classificação: livre
Avaliação: regular
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