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CINEMA
Dirigido por José Sette, longa-metragem foi rodado em Juiz de Fora, em Minas, em sistema de cooperativa
Filme conta a saga de Geraldo Pereira
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
em Belo Horizonte
O filme "O Rei do Samba", produzido em Juiz de Fora (MG) em
sistema de cooperativa, vai contar
a vida do sambista Geraldo Pereira por meio de "lendas" e de músicas suas, como "Acertei no Milhar" e "Cabritada Malsucedida".
Nascido em Juiz de Fora, Pereira
(1918-1955) foi criado no morro
da Mangueira, no Rio.
Trabalhou como motorista de
caminhão de lixo até sua morte,
que seria resultado de uma briga
com o malandro e homossexual
Madame Satã.
Na briga, o sambista teria batido
a cabeça na guia da calçada. Morreu dias depois de hemorragia interna, segundo o laudo médico.
Para o diretor do filme, José Sette, 50, a famosa briga entre dois
dos maiores expoentes da malandragem carioca "não é realidade",
mas, citando o cineasta John
Ford, diz que é melhor "imprimir
a lenda".
Segundo Sette, Pereira teria
morrido, na verdade, de debilidade física causada pelo excesso de
bebida e pela vida desregrada.
No filme, Sette utiliza 21 músicas
de autoria do compositor, incluindo "Pisei no Despacho", para contar sua vida. "Ele nasceu no dia de
São Jorge e era muito supersticioso", diz o cineasta.
O compositor Paulinho da Viola
é um dos admiradores da obra do
sambista. "Era um excelente cronista. Tratava do drama das pessoas comuns com humor e à sua
maneira", afirmou.
Conta-se que, em 1940, ele chegou cedo ao quarto onde morava
com sua musa, Isabel, e adormeceu logo. Na manhã seguinte, encontrou-a alegre e teve certeza que
ela tinha saído à noite.
No mesmo dia, escreveu o samba
"Acabou a Sopa", cuja letra diz:
"Sem me pedir, foi ao baile, isso
não se faz, eu vou lhe mandar embora para nunca mais".
Paulinho disse admirar também
a qualidade melódica dos sambas
de Geraldo Pereira, embora não
lhe atribua a invenção do chamado
"samba sincopado", um estilo com
interrupções de ritmo e que descende diretamente do choro.
"Ele influenciou muita gente e
sensibilizou João Gilberto, que
gravou "Bolinha de Papel'. Mesmo
assim, o samba dele, cantado por
João, continua sendo de Geraldo
Pereira", disse Paulinho da Viola.
O diretor do filme afirmou que
os clipes das músicas são mais influenciados pelas chanchadas da
Atlântida do que pelo estilo MTV.
O título já é uma homenagem a
"Rei do Samba", filme musical de
Lulu de Barros.
Sette fez parte do cinema underground brasileiro, tendo produzido filmes de Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e Neville D'Almeida.
Em sua obra como cineasta, especializou-se em retratos de grandes artistas, como o gravador
Goeldi no curta "Um Sorriso por
Favor" (melhor filme e montagem
do festival de Brasília de 1982) e o
poeta francês Blaise Cendrars, no
longa "100% Brazileiro".
˛
Cooperativa
"O Rei da Noite" foi inteiramente
filmado em Juiz de Fora. Todos os
técnicos e atores, cerca de 280 pessoas, trabalharam em sistema de
cooperativa -a maioria não tinha
experiência anterior no cinema.
O ator principal, Gérson Rosa, é
segurança e, nas horas vagas, puxador de uma escola de samba local. Para poder aparecer no filme,
conseguiu uma licença não-remunerada no supermercado onde trabalha.
Sette conta que seu objetivo é
ampliar os negativos de 16 mm para 35 mm e tentar atingir uma audiência mais ampla, já que são
poucos os que conhecem Geraldo
Pereira.
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