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LITERATURA
Osvaldo Ferrari ganha na Justiça processo que o impedia de publicar os encontros com o autor de "O Aleph"
Diálogo inédito de Borges será editado
MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires
Entre 1984 e 1985 Jorge Luis Borges recebeu a visita constante do
jornalista e escritor Osvaldo Ferrari. A conversa entre os dois -sempre na casa de Borges- era gravada e transmitida pela Rádio Municipal de Buenos Aires, no programa "Diálogos de Borges com Ferrari".
Ferrari conta que, a pedido de
Borges, o tema de cada diálogo só
era conhecido na hora, para que a
conversação não perdesse o frescor e o caráter de improvisação.
Esses encontros acabaram virando livros, que foram publicados
não só na Argentina, mas também
na França, Itália, Alemanha e Brasil ("Borges em Diálogo", Rocco).
Impedido de editá-los por muitos anos -desde que a viúva de
Borges, Maria Kodama, moveu um
processo contra ele-, Ferrari finalmente ganhou a causa na Justiça em outubro de 1997 e agora voltou a publicar seus diálogos com
Borges, nos volumes "En Diálogo
1" e "En Diálogo 2".
Aos dois livros saídos neste ano,
ambos reedições, se juntará um
terceiro, a ser lançado em abril, "só
com diálogos inéditos", anunciou
Ferrari com exclusividade à Folha.
Folha - Como começou o processo que o impediu de publicar os
diálogos por tantos anos?
Osvaldo Ferrari - Minhas conversas com Borges tiveram muito êxito, e esse êxito, em vez de agradar a
Maria Kodama, desagradou. Acho
que o móvel do processo não foi
tanto a questão dos "direitos autorais pendentes", que ela alegava;
tratou-se de outro tipo de problema. De algum modo, a repercussão desses livros não lhe fez bem.
Folha - No ano que vem Borges
completaria cem anos. Que atividades estão programadas?
Ferrari - Em abril, na Feira do Livro de Buenos Aires, haverá um
encontro internacional de escritores sobre Borges, além de um concurso sobre a sua vida e obra, do
qual eu serei jurado. Nessa mesma
ocasião será lançado um novo livro de diálogos, com mais de 25
conversas inéditas que tivemos em
1985. Esse livro ficou anos engavetado, aguardando publicação, por
causa do processo.
Folha - Que critérios foram utilizados nas edições? Há cortes ou
adaptações de estilo?
Ferrari - Não. As edições são rigorosamente fiéis às gravações. O
que se lê nos livros são transcrições
integrais das conversas que tivemos, com todas as pausas e vacilações da língua falada. São a última
fase da obra literária de Borges,
que me dizia: "Não escreverei mais
ensaios, mas o farei indiretamente,
por meio de diálogos; enquanto falamos estamos escrevendo".
Folha - O que mais lhe chamava a
atenção nos encontros com ele?
Ferrari - A sua agilidade intelectual e o seu senso de humor. Ele era
capaz de fazer as analogias mais
surpreendentes, mas sempre a
partir de um ponto de vista literário, fosse a conversa sobre budismo, história ou filosofia. Tudo se
cristalizava em imagens literárias
numa rapidez impressionante.
Diante de Borges você tinha a sensação de estar diante de uma pessoa realmente genial. Penso que
neste momento de grande confusão cultural e literária a lucidez de
Borges faz uma falta enorme.
˛
Livros: En Diálogo 1 e En Diálogo 2
Lançamento: ed. Sudamericana, de
Buenos Aires (tel. 00541/300-5400)
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