São Paulo, Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000


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LANÇAMENTO
Livro traz 700 casos, muitos reais, alguns fictícios, de homens e mulheres que tiraram a própria vida
Dicionário lista, mas não explica suicídio

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local


Após preparar os 700 verbetes do seu "Dicionário de Suicidas Ilustres", o jornalista, escritor e artista plástico J.Toledo não encontrou resposta para as causas do suicídio.
A preocupação com o tema começou em 1984, quando o autor soube, durante um almoço com o artista plástico Carlos Scliar, da morte do escritor Pedro Nava.
Nava se matou pouco antes de completar 81 anos, em 1984, com um tiro, sentado numa sarjeta da rua da Glória, no Rio de Janeiro.
Anos depois, J.Toledo, autor de biografia do artista plástico Flávio de Carvalho, decidiu escrever um ensaio sobre o tema. Começou a colecionar casos, e o ensaio virou dicionário.
"O suicídio é um fato do qual ninguém pode dizer que está livre. Na abertura do livro, cito Albert Camus, para quem a idéia de se matar já passou pela cabeça de todos os homens sãos", afirma. "Para efetivar o suicídio, há sempre uma série de fatores que se combinam. O único ponto comum que encontrei foi a depressão. Mas há pessoas que se deprimem pelos mesmos motivos e não se matam", completa.
O livro inclui personagens mitológicos e de ficção, como Narciso, que se atira ao lago, encantado pela própria imagem, e Emma Bovary, a mulher que trai o marido e recorre ao arsênico para pôr fim à própria vida, no romance "Madame Bovary", de Gustave Flaubert. A pesquisa levou cerca de cinco anos. "Um dia, peguei-me entrevistando pela Internet um irmão de um suicida às 4h." Estranho, sim, mas nem tanto. J.Toledo tem dorme das 12h às 19h e trabalha durante a madrugada.
"Acabei me tornando uma espécie de amigo de toda essa gente", diz ele. O livro é dedicado ao sogro do jornalista, que "decidiu partir pela manhã".
A seleção dos suicidas de J.Toledo inclui casos polêmicos. Suzana Marcolino, Jim Morrison, Marilyn Monroe e Stefan Zweig são alguns daqueles cujas mortes comportam mais de uma, senão muitas, versões. Em alguns casos, o suicídio é a mais fraca delas. Os verbetes, em geral, apontam as dúvidas. "Às vezes é difícil definir se é apenas um caso de overdose, por exemplo. Procurei pecar pelo excesso", justifica.
O psicanalista Roosevelt M. Smeke Cassorla é quem escreve a introdução do dicionário. Nela, afirma que a complexidade de fatores (genéticos, biológicos, psicológicos, sociais, históricos e culturais) em torno do suicídio impede que se aponte as "causas" de um determinado caso. A decisão de cada um de se matar continua e continuará inexplicável.


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