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LANÇAMENTO
Livro traz 700 casos, muitos reais, alguns fictícios, de homens e mulheres que tiraram a própria vida
Dicionário lista, mas não explica suicídio
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
Após preparar os
700 verbetes do seu
"Dicionário de Suicidas Ilustres", o
jornalista, escritor e
artista plástico
J.Toledo não encontrou resposta
para as causas do suicídio.
A preocupação com o tema começou em 1984, quando o autor
soube, durante um almoço com o
artista plástico Carlos Scliar, da
morte do escritor Pedro Nava.
Nava se matou pouco antes de
completar 81 anos, em 1984, com
um tiro, sentado numa sarjeta da
rua da Glória, no Rio de Janeiro.
Anos depois, J.Toledo, autor de
biografia do artista plástico Flávio
de Carvalho, decidiu escrever um
ensaio sobre o tema. Começou a
colecionar casos, e o ensaio virou
dicionário.
"O suicídio é um fato do qual
ninguém pode dizer que está livre. Na abertura do livro, cito Albert Camus, para quem a idéia de
se matar já passou pela cabeça de
todos os homens sãos", afirma.
"Para efetivar o suicídio, há sempre uma série de fatores que se
combinam. O único ponto comum que encontrei foi a depressão. Mas há pessoas que se deprimem pelos mesmos motivos e
não se matam", completa.
O livro inclui personagens mitológicos e de ficção, como Narciso, que se atira ao lago, encantado
pela própria imagem, e Emma
Bovary, a mulher que trai o marido e recorre ao arsênico para pôr
fim à própria vida, no romance
"Madame Bovary", de Gustave
Flaubert. A pesquisa levou cerca
de cinco anos. "Um dia, peguei-me entrevistando pela Internet
um irmão de um suicida às 4h."
Estranho, sim, mas nem tanto.
J.Toledo tem dorme das 12h às
19h e trabalha durante a madrugada.
"Acabei me tornando uma espécie de amigo de toda essa gente", diz ele. O livro é dedicado ao
sogro do jornalista, que "decidiu
partir pela manhã".
A seleção dos suicidas de J.Toledo inclui casos polêmicos. Suzana
Marcolino, Jim Morrison, Marilyn Monroe e Stefan Zweig são
alguns daqueles cujas mortes
comportam mais de uma, senão
muitas, versões. Em alguns casos,
o suicídio é a mais fraca delas. Os
verbetes, em geral, apontam as
dúvidas. "Às vezes é difícil definir
se é apenas um caso de overdose,
por exemplo. Procurei pecar pelo
excesso", justifica.
O psicanalista Roosevelt M.
Smeke Cassorla é quem escreve a
introdução do dicionário. Nela,
afirma que a complexidade de fatores (genéticos, biológicos, psicológicos, sociais, históricos e culturais) em torno do suicídio impede que se aponte as "causas" de
um determinado caso. A decisão
de cada um de se matar continua
e continuará inexplicável.
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