São Paulo, Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000


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TELEVISÃO
TV Cultura abre a arca do memorialista Pedro Nava

CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Um dos baús mais preciosos da literatura brasileira volta a ser aberto esta noite. A arca em questão é Pedro Nava (1903-1984), médico de Juiz de Fora (MG) que, com seis livros de memórias, publicados a partir de 1968, mapeou uma parte substanciosa das histórias e sensibilidades brasileiras do século 20.
O autor de "Baú de Ossos" (sua obra central, relançada em 1999 pela editora Ateliê) é tema de um documentário que será exibido hoje, às 22h30, na TV Cultura, parte da série "30 Anos Incríveis".
Com olhar circunspecto, Nava olha para a câmera e diz: "A coisa fascinante do tempo não é o passado, tampouco o futuro, que é uma coisa conjetural. O presente é a grande preocupação".
O presente em questão era fevereiro de 1984. Nava participava do programa de entrevistas "Vox Populi", em que personalidades e não-personalidades faziam perguntas ao convidado.
E Nava, que há pouco tinha lançado "O Círio Perfeito", o sexto tomo de suas memórias, passou por uma sabatina sobre o tempo. "O tempo existe?", pergunta o escritor Ignácio de Loyola Brandão. "Existe no plano ideológico. O passado, por exemplo, tem uma existência que não é fixa. Uma informação de algo que se passou em 1933 pode modificar o modo de conduzir as coisas daqui para diante", diz, com voz pausada.
Nava explica que isso estaria evidente em seu próximo livro, "Cera das Almas". Mas ele não chegou a terminar a empreitada. Três meses depois da entrevista, em 13 de maio de 1984, o escritor saiu de seu apartamento, no bairro da Glória, no Rio, e se matou com um tiro calibre 32 na cabeça.
A morte é um dos temas abordados pelo escritor no programa. Mas o autor também fala da essência da vida. Os grandes prazeres do homem, para ele, seriam o amor, o sono e a gula (e ele ensina como comer uma feijoada).
"A experiência é um farol de carro voltado para trás", diz Nava, repetindo uma de suas frases mais famosas. "Geralmente nos pedem muitos conselhos e eles não são seguidos", explica. Não se sabe se valem ou não. Mas assistir ao documentário e, sobretudo, ler Pedro Nava é conselho natural.


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