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TELEVISÃO
TV Cultura abre a arca do
memorialista Pedro Nava
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Um dos baús mais preciosos da
literatura brasileira volta a ser
aberto esta noite. A arca em questão é Pedro Nava (1903-1984), médico de Juiz de Fora (MG) que,
com seis livros de memórias, publicados a partir de 1968, mapeou
uma parte substanciosa das histórias e sensibilidades brasileiras do
século 20.
O autor de "Baú de Ossos" (sua
obra central, relançada em 1999
pela editora Ateliê) é tema de um
documentário que será exibido
hoje, às 22h30, na TV Cultura,
parte da série "30 Anos Incríveis".
Com olhar circunspecto, Nava
olha para a câmera e diz: "A coisa
fascinante do tempo não é o passado, tampouco o futuro, que é
uma coisa conjetural. O presente
é a grande preocupação".
O presente em questão era fevereiro de 1984. Nava participava do
programa de entrevistas "Vox Populi", em que personalidades e
não-personalidades faziam perguntas ao convidado.
E Nava, que há pouco tinha lançado "O Círio Perfeito", o sexto
tomo de suas memórias, passou
por uma sabatina sobre o tempo.
"O tempo existe?", pergunta o escritor Ignácio de Loyola Brandão.
"Existe no plano ideológico. O
passado, por exemplo, tem uma
existência que não é fixa. Uma informação de algo que se passou
em 1933 pode modificar o modo
de conduzir as coisas daqui para
diante", diz, com voz pausada.
Nava explica que isso estaria
evidente em seu próximo livro,
"Cera das Almas". Mas ele não
chegou a terminar a empreitada.
Três meses depois da entrevista,
em 13 de maio de 1984, o escritor
saiu de seu apartamento, no bairro da Glória, no Rio, e se matou
com um tiro calibre 32 na cabeça.
A morte é um dos temas abordados pelo escritor no programa.
Mas o autor também fala da essência da vida. Os grandes prazeres do homem, para ele, seriam o
amor, o sono e a gula (e ele ensina
como comer uma feijoada).
"A experiência é um farol de
carro voltado para trás", diz Nava,
repetindo uma de suas frases
mais famosas. "Geralmente nos
pedem muitos conselhos e eles
não são seguidos", explica. Não se
sabe se valem ou não. Mas assistir
ao documentário e, sobretudo, ler
Pedro Nava é conselho natural.
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