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AMIGOS PARA SEMPRE
free-lance para a Folha
O espetáculo "Amigos para
Sempre" é um passeio pela memória afetiva de Tonia Carrero.
Ela conviveu com grandes personalidades da cultura nacional.
O ponto de encontro era a casa
do escritor Aníbal Machado, no
Rio -"o primeiro anfitrião de
Ipanema", como diz Ruy Castro.
A atriz lembra, por exemplo,
do primeiro contato com o poeta Carlos Drummond de Andrade, aos 21 anos, que lhe desviava
os olhos, tímido, diante da sua
beleza exultante. Também confessa que correspondeu à paixão
do cronista Rubem Braga.
Em entrevista à Folha por telefone, de sua casa no Rio, Tonia
deu o seguinte depoimento sobre alguns dos "amigos íntimos"
presentes no roteiro.
(VS)
CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE - "Uma vez eu disse
para ele: "Poeta, o que há? Eu te
adoro tanto. Você não gosta de
mim". Ele respondeu: "Você
pensa que para mim é fácil encarar uma moça linda como você?". Ele era muito tímido. Em
outra ocasião, fui convidá-lo para traduzir o "Otelo", de Shakespeare, e ele nem olhou para o
meu rosto, encomendou outro.
Ele não podia imaginar a convivência comigo."
ANÍBAL MACHADO - "Ele
não exerceu muito a profissão, o
ofício de escrever, porque acabou exercendo mais o ofício de
ser amigo. Foi na casa dele que
conheci todo mundo que valia a
pena conhecer."
MANUEL BANDEIRA - "Foi o
homem que ficou tuberculoso
porque achava que aquelas "mulheres da vida" mostravam a ele
muito mais sobre a vida do que
as grã-finas. Ele mergulhou nos
prazeres da carne, foi para sanatório, mas morreu lá pelos 80
anos, depois de enterrar quase
toda a família."
NELSON RODRIGUES - "Teve
fama de machista, mas foi um
sujeito que denunciou como as
mulheres eram infelizes com os
homens, como eram oprimidas,
espoliadas, maltratadas. Ele era
um humanista, nunca um machista. Claro, era também um
frasista inveterado. Dizia, por
exemplo: "Toda mulher deve se
casar, o homem não". Ou: "A
mulher carioca é mais frustrada
do que uma cotia da praça"."
VINÍCIUS DE MORAES - "Ele
se define muito bem nos seguintes versos: "De manhã escureço/
De dia tardo/ De tarde anoiteço/
De noite ardo"."
CLARICE LISPECTOR - "Eu
prefiro me deter à Clarice mãe,
que foi tão poderosa. Relatando
suas histórias para os filhos, ela
dizia não saber onde eles buscavam inspiração para as coisas da
vida. Era nela mesma."
RUBEM BRAGA - "Houve
uma paixão dele por mim. Foi
correspondida durante muito
tempo, mas eu era casada. Depois me encantei pelo Celi
(Adolfo Celi, diretor italiano) e
tudo acabou. Mas a amizade ficou até a hora da morte dele. No
último dia de vida, eu estive lá,
não podia sair de perto dele. Até
hoje me custa ficar longe dele."
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