São Paulo, Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000


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TEATRO
Afastada da TV desde 95, Tonia Carrero estréia amanhã em SP o monólogo "Amigos para Sempre"
"Não preciso de novela para ter público"

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


Tonia Carrero, 77, mal atende o telefone e avisa que só tem 15 minutos para falar. Porém logo dissimula e se deixa levar pela conversa que avança além da conta. Antes de qualquer pergunta, desanda a reclamar das três sessões semanais de "Amigos para Sempre", em temporada a partir de amanhã no teatro Renaissance, em São Paulo. Longe da afetação, o que ela queria mesmo eram mais que as 12 apresentações programadas até 6 de fevereiro.
"Antigamente, nos anos 40 e 50, eu fazia dez sessões por semana, uma na terça e na quarta, duas na quinta, uma na sexta, três no sábado e duas no domingo", enumera, sem perder o fôlego.
"Não havia televisão naquela época, só era possível conferir os rostos dos artistas por meio das revistas ilustradas ou no palco. Hoje, o público não se queixa de ficar o dia inteiro diante da televisão, que vai no útero, na garganta do ator. Eu acho uma pena", afirma.
Tonia está afastada do vídeo desde "Sangue do Meu Sangue" (95), no SBT. Foi convidada para retornar à Globo em "Um Lugar Chamado Sombrio", a próxima novela das seis, na qual fará participação especial ao lado de Paulo Autran, Walmor Chagas e Sérgio Brito. "Eu cheguei à conclusão de que não preciso fazer novela para ter público no teatro", acredita. "Em qualquer lugar, seja no supermercado, no táxi, na rua, no banco, todo mundo me conhece."
A última temporada de Tonia em São Paulo foi em junho do ano passado, com a peça "Equilíbrio Delicado", de Edward Albee, contracenando com Walmor Chagas. Agora, chegou a vez da cidade conferir "Amigos para Sempre", misto de monólogo e recital que a atriz criou há cinco anos, sob direção de Luís Arthur Nunes.
No espetáculo, Tonia rememora a amizade com importantes personalidades da cultura brasileira que já morreram, como o pintor Di Cavalcanti, o dramaturgo Nelson Rodrigues e os escritores Aníbal Machado, Manoel Bandeira, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Este se apaixonou pela musa e, por isso, lhe tem devoção especial. "Até hoje me custa ficar longe dele", confessa (leia texto ao lado).
Não há maiores elucubrações cênicas no palco. A proposta é estabelecer uma relação direta com o público, com espaço para o improviso. "Vou contando minhas lembranças, sobretudo aquelas da Mariinha, como eu era conhecida antes de me transformar em Tonia Carrero", explica.
Paulo Autran, amigo com quem contracenou em várias montagens, fará uma homenagem surpresa na estréia. Eles não atuam juntos desde "A Amante Inglesa", de Marguerite Duras, montada em 83. No dia 11, no mesmo teatro, é a vez de Tonia "devolver" a homenagem na reestréia de Autran em "Quadrante".
Parte da vida de Tonia Carrero foi contada em "O Monstro de Olhos Azuis", lançado pela LP&M no início dos anos 80. O livro, esgotado, narra sua infância até os 14 anos. "Diziam que eu era muito paparicada, mas tive muitos problemas por causa da educação repressora dos meus pais", afirma. Uma biografia completa começa a ser criada este ano, pela escritora Edla van Steen, a partir de encontros com a atriz.


Peça: Amigos para Sempre
Texto e interpretação: Tonia Carrero
Direção: Luís Arthur Nunes
Quando: estréia amanhã, 21h; sex. a sáb., 21h; dom., 18h. Até 6/2
Onde: teatro Renaissance (alameda Santos, 2.233, Cerqueira César, tel. 0/xx/ 11/3069-2233)
Quanto: R$ 30


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