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TEATRO
Afastada da TV desde 95, Tonia Carrero estréia amanhã em SP o monólogo "Amigos para Sempre"
"Não preciso de novela para ter público"
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
Tonia Carrero, 77, mal atende o
telefone e avisa que só tem 15 minutos para falar. Porém logo dissimula e se deixa levar pela conversa que avança além da conta.
Antes de qualquer pergunta, desanda a reclamar das três sessões
semanais de "Amigos para Sempre", em temporada a partir de
amanhã no teatro Renaissance,
em São Paulo. Longe da afetação,
o que ela queria mesmo eram
mais que as 12 apresentações programadas até 6 de fevereiro.
"Antigamente, nos anos 40 e 50,
eu fazia dez sessões por semana,
uma na terça e na quarta, duas na
quinta, uma na sexta, três no sábado e duas no domingo", enumera, sem perder o fôlego.
"Não havia televisão naquela
época, só era possível conferir os
rostos dos artistas por meio das
revistas ilustradas ou no palco.
Hoje, o público não se queixa de
ficar o dia inteiro diante da televisão, que vai no útero, na garganta
do ator. Eu acho uma pena", afirma.
Tonia está afastada do vídeo
desde "Sangue do Meu Sangue"
(95), no SBT. Foi convidada para
retornar à Globo em "Um Lugar
Chamado Sombrio", a próxima
novela das seis, na qual fará participação especial ao lado de Paulo
Autran, Walmor Chagas e Sérgio
Brito. "Eu cheguei à conclusão de
que não preciso fazer novela para
ter público no teatro", acredita.
"Em qualquer lugar, seja no supermercado, no táxi, na rua, no
banco, todo mundo me conhece."
A última temporada de Tonia
em São Paulo foi em junho do ano
passado, com a peça "Equilíbrio
Delicado", de Edward Albee, contracenando com Walmor Chagas.
Agora, chegou a vez da cidade
conferir "Amigos para Sempre",
misto de monólogo e recital que a
atriz criou há cinco anos, sob direção de Luís Arthur Nunes.
No espetáculo, Tonia rememora a amizade com importantes
personalidades da cultura brasileira que já morreram, como o
pintor Di Cavalcanti, o dramaturgo Nelson Rodrigues e os escritores Aníbal Machado, Manoel
Bandeira, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Este se apaixonou pela musa e, por isso, lhe tem devoção especial. "Até hoje me custa
ficar longe dele", confessa (leia
texto ao lado).
Não há maiores elucubrações
cênicas no palco. A proposta é estabelecer uma relação direta com
o público, com espaço para o improviso. "Vou contando minhas
lembranças, sobretudo aquelas
da Mariinha, como eu era conhecida antes de me transformar em
Tonia Carrero", explica.
Paulo Autran, amigo com quem
contracenou em várias montagens, fará uma homenagem surpresa na estréia. Eles não atuam
juntos desde "A Amante Inglesa",
de Marguerite Duras, montada
em 83. No dia 11, no mesmo teatro, é a vez de Tonia "devolver" a
homenagem na reestréia de Autran em "Quadrante".
Parte da vida de Tonia Carrero
foi contada em "O Monstro de
Olhos Azuis", lançado pela
LP&M no início dos anos 80. O livro, esgotado, narra sua infância
até os 14 anos. "Diziam que eu era
muito paparicada, mas tive muitos problemas por causa da educação repressora dos meus pais",
afirma. Uma biografia completa
começa a ser criada este ano, pela
escritora Edla van Steen, a partir
de encontros com a atriz.
Peça: Amigos para Sempre
Texto e interpretação: Tonia Carrero
Direção: Luís Arthur Nunes
Quando: estréia amanhã, 21h; sex. a
sáb., 21h; dom., 18h. Até 6/2
Onde: teatro Renaissance (alameda
Santos, 2.233, Cerqueira César, tel. 0/xx/
11/3069-2233)
Quanto: R$ 30
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