São Paulo, Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000


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História faz de Berlim um museu a céu aberto

em Berlim


Boa parte da história dos judeus na Alemanha já passeia pelas ruas de Berlim: a cidade é um museu a céu aberto, e muitos bairros contam -nas calçadas e nas paredes de casas- detalhes da vida dos judeus e da perseguição nazista.
A presença dos judeus em Berlim é mencionada pela primeira vez em documentos de 1295. Durante a Idade Média, o anti-semitismo já se espalhava pela Europa, e não foi diferente na Alemanha.
Mesmo assim, a comunidade judaica da Alemanha crescia e recebia muitos judeus fugitivos da Rússia. Chegou a ter 360 mil membros, um terço deles concentrados em Berlim, no bairro de Spandauer Vorstadt.
As ruas do bairro trazem marcas do Holocausto: lá fica a única sinagoga que sobreviveu à noite de terror que os nazistas chamaram de "Noite dos Cristais", de 9 para 10 de novembro de 1938, quando 91 judeus foram mortos e outros milhares começaram a ser levados para os campos de trabalho.
A sinagoga, construída no século 19 em estilo mourisco por judeus sefarditas, só está de pé graças a um anônimo soldado alemão que estava de guarda no local e não permitiu a entrada dos nazistas.
No bairro também ficava o primeiro museu judeu de Berlim, aberto em 1933, pouco antes de Hitler subir ao poder. Também foi destruído pela Gestapo.
Abandonado desde a época da Segunda Guerra, o bairro passou a pertencer à antiga Berlim Oriental. Com a reunificação alemã, porém, passou a viver um período de revitalização devido a investimentos da prefeitura de Berlim e da iniciativa privada.
Cafés, ateliês, galerias, restaurantes e butiques estão surgindo no entorno dos "Hofs", os típicos pátios alemães no interior dos prédios em forma de quadrado. O velho bairro judeu hoje é sofisticado e caro.
No mesmo bairro há um cemitério judeu parcialmente destruído pelos nazistas. Numa caminhada pelas ruas, é possível ver prédios que foram bombardeados durante a guerra.
De três prédios vizinhos, um foi destruído por bombas, deixando um buraco entre os dois edifícios restantes. Nas paredes, foram escritos os nomes e as profissões dos moradores mortos, judeus e não-judeus.
Em outra rua do bairro, por exemplo, placas contam a história dos judeus comunistas Sala e Martin Kuchmann, cuja casa funcionava como uma creche.
Num dia de agosto de 1942, quando os Kuchmann e os pais das crianças chegaram à creche, as crianças tinham sido levadas pelos nazistas.
Ares Kalandides, consultor da associação "Parceiros por Berlim", que reúne governo e iniciativa privada, diz que a recuperação do bairro é um evento turístico e histórico."Queremos manter no bairro o espírito tranquilo e intelectual que ele sempre teve, atraindo turistas, e aprendendo a conviver com nossa história."


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