São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2001

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ANÁLISE

Um violonista fundamental

LUÍS NASSIF
DO CONSELHO EDITORIAL

Em poucos meses morre o maior violonista da história, Baden Powell, e, ontem, o internacionalmente mais conhecido violonista brasileiro, ao lado de Baden e Laurindo de Almeida: Luiz Bonfá.
No final dos anos 40, molda-se o moderno violão brasileiro. Há duas linhas típicas de violonistas, todos liderados e inspirados em Garoto. Na rádio Nacional, os músicos da noite, profissionais do ramo, como Bola Sete, Zé Menezes e José da Conceição, com nítida formação jazzista e de choro. Numa outra ponta, vem Laurindo de Almeida e Bonfá, ambos com formação erudita, Laurindo mais influenciado pelo choro e pela música regional, e Bonfá pelo samba-canção pré-bossa nova. Mas ambos com uma formação firmemente fincada no erudito. Todos eles, anteriores a Baden.
Enquanto Laurindo segue cedo para os EUA, Bonfá transforma-se no violonista, por excelência, do que se fazia de mais refinado na música brasileira da época, o samba-canção de primeiro naipe, que servirá de base harmônica e melódica para a bossa nova.
Tome-se o primeiro disco, gravação da Continental de 55, em que Bonfá, ao violão, cerca-se de João Donato no acordeão, Tom Jobim no piano, Altamiro Carrilho na flauta e Vidal na bateria. No repertório, "Minha Saudade", samba-canção pré-bossa nova.
Nesse período, era usual a formação violão-violino (consagrada desde os anos 30 por Django Reinhardt e Grapelli). Bonfá junta-se a Fafá Lemos (violinista que fez nome nos EUA e hoje é dono de restaurante no Rio) no LP "Bonfafá", interpretando desde "Na Pavuna" até "April in Paris".
Seu grande momento foi musicando o filme "Orfeu da Conceição" com Tom Jobim. Disso resultou o disco e nasceu aquela que viria a ser a música brasileira mais executada em todo o mundo nos anos 50: "Manhã de Carnaval", só superada posteriormente por "Garota de Ipanema".
Depois disso, fez uma carreira internacional das maiores. Com Caterine Valente, gravou uma enorme sucessão de LPs, reeditando a dupla Julie London e Barney Kessel. Acompanhou Frank Sinatra em "My Way", de 69, Elvis Presley em "Almost in Love", de 68, Quincy Jones em "The Gentle Rain", de 65, com George Benson em "Out of Blue", de 69. Gravou com Astrud Gilberto e com Maria Toledo, uma belíssima moça cuja voz se perdeu no tempo.
Foi um dos violões fundamentais na transformação do violão brasileiro na melhor escola do mundo.



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