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MÚSICA
Em show, Orquestra Manguefônica recria "Da Lama ao Caos", eleito um dos melhores álbuns da música brasileira
Mangue beat abre projeto de "discos de ouro"
DO GUIA DA FOLHA
"O que você sentiria se o seu
disco estivesse nessa lista?". Foi
com outra pergunta que o guitarrista Lúcio Maia, 33, comentou a
aparição de "Da Lama ao Caos",
disco de 1994 de Chico Science &
Nação Zumbi, como terceiro colocado em uma votação realizada
pelo Sesc Pompéia. A instituição
escalou 12 críticos do país para escolher os dez grandes álbuns da
história da música brasileira. "Isso é o que dá sentido em acordar
de manhã, pegar a guitarra e fazer
um som", diz Maia.
Levando em conta que todos os
anos aparecem dezenas de "top
tens", o comentário pode parecer
exagero, mas não é -a lista traz
"Tropicália ou Panis et Circenses"
(68), em primeiro lugar, e "Acabou Chorare" (72), dos Novos
Baianos, em segundo.
Histórico também é o encontro
entre os pernambucanos da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A,
que estréiam amanhã (dia 14) a
série de shows dentro do projeto
Disco de Ouro.
Sob a alcunha de Orquestra
Manguefônica, as duas bandas
mostrarão todas as músicas de
"Da Lama ao Caos", em apresentação que é uma espécie de comemoração dos dez anos de um dos
últimos movimentos significativos para a música brasileira, o
mangue beat.
"A escolha de "Da Lama ao
Caos" foi uma surpresa para nós,
porque é um trabalho supernovo", afirma Jefferson Alves de Lima, 29, do Núcleo de Música e Artes Cênicas do Sesc, responsável
pelo evento. Lima explica que, até
o fim de 2005, devem acontecer
dez apresentações para mostrar
os escolhidos, começando pelo
terceiro lugar, que teve quatro
discos empatados. A intenção é convidar artistas para mostrar os discos "faixa-a-faixa". "Os álbuns serão recriados de maneira diferente."
O evento deu a deixa para a Nação e o Mundo Livre colocarem
em prática um projeto antigo.
"Quando começamos, em 91, tudo era regado pelo deslumbre e a
Manguefônica é uma idéia desta
época", lembra Lúcio Maia. "Seria
simplório a Nação tocar "Da Lama
ao Caos" sozinha, e achamos que
era o momento para realizar esse
deslumbre do passado."
O líder do Mundo Livre, Fred
Zero Quatro, 42, considera o encontro o "ápice" de um processo
de reaproximação. "Desde os primórdios as bandas não viviam
um momento de tanto entrosamento, de vontade de tocar junto." Clássicos da Nação, como a
faixa-título, "A Cidade" e "A
Praieira" ganharão releituras.
"Adoramos aquele disco, mas
precisamos fazer alguma coisa
que justifique tantos músicos juntos no palco", diz Zero Quatro.
"Tem músicas que vamos trocar
só o andamento, outras mudam
de gênero, assim uma ciranda pode virar ska, jungle..."
O show é a chance também de
ouvir composições que deixaram
de ser tocadas ao vivo, como a singela "Risoflora". "Essa era uma
música muito pessoal do Chico
[Science, 1966-1997], que a fez para a namorada, e Jorge [du Peixe]
nunca cantou", conta Maia.
Além da parceria, que deve se
repetir e talvez até render um CD,
está a caminho o livro "Sob o Calçamento - O Mangue", de Alessandra Oliveira e Renato L., com
fotos das duas bandas, além de
textos do antropólogo Hermano
Vianna e do jornalista e crítico da
Folha Xico Sá, entre outros. Também em 2005 vem disco novo da
Nação Zumbi e deve sair o primeiro trabalho solo de Fred Zero
Quatro. O mangue ferve.
DISCO DE OURO - ORQUESTRA
MANGUEFÔNICA. Quando: sex. e sáb.,
às 21h, e dom., às 18h. Onde: Sesc
Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, tel. 0/xx/11/
3871-7700). Quanto: R$ 8 a R$ 20.
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