São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

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DANÇA

Francês fecha o elenco de "Ritual do Cotidiano", que estréia em abril em SP e faz parte do Ano do Brasil na França

Philippe Jamet cria coreografia sobre vida brasileira

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Perceber a realidade pelo movimento. Falar da intimidade através dos gestos. Evocar experiências pessoais para compor um Brasil contemporâneo. Esses são alguns caminhos que o coreógrafo francês Philippe Jamet, 42, percorre para criar "Ritual do Cotidiano", que estréia em abril em São Paulo e em outubro na França (seguindo em turnê de dois meses no país, incluído na programação do Ano do Brasil na França).
"Sempre trabalho a partir das pessoas -das experiências e das diferentes técnicas de cada um", diz Jamet, em entrevista para a Folha, na Oficina de Andrade, local onde ocorrerá sua residência coreográfica de três meses.
"Desta vez o que importa é falar da vida cotidiana, através dos intérpretes aqui em São Paulo, procurando mostrar a cultura contemporânea brasileira."
As audições para a peça terminaram ontem. Foram cerca de 200 intérpretes, nas quatro etapas de prova, para selecionar cinco bailarinos e quatro músicos. Já estão definidos os músicos: João Nascimento (que trabalha com samba), Ramiro Murillo (formação popular contemporânea), Luciano Ortega Fagundes (cultura nordestina) e Daniela Aquilo (candomblé e cultura nordestina).
Também foram escolhidos três dançarinos: Lívia Seixas e Sheila Arêas (que atuaram no Nova Dança) e Henrique Lima (ex-bailarino do Cisne Negro).
A assistente de coreografia de Jamet é a brasileira Estelamare, dando continuidade a uma parceria que vem de longe. Os dois se encontraram em "Portraits Dansés" (2000) e no ano passado trabalharam juntos em "Intimidades", que reunia bailarinos profissionais e amadores. Para Jamet, "Intimidades" foi "um ateliê de preparação"; agora virá verdadeiramente um espetáculo.
"Ritual do Cotidiano", como tema, pode dizer muito ou nada: "Eu dei esse nome porque o cotidiano é um ritual, a vida é um ritual". Dançar, em si, é um ritual: "Deixe a dança entrar e sair de você. Um vaivém contínuo entre o sentimento e a racionalidade. Dançar é uma história de mim mesmo: o que me toca, o que me chama. Vamos trabalhar com diferentes materiais artísticos e humanos. O que me interessa é a experimentação e o que pode surgir dos encontros."

Inspiração
Apesar de o tema sugerir o emprego de elementos dos rituais afro-brasileiros, como umbanda e candomblé, Jamet explica que não vai se inspirar diretamente nesses universos. "Talvez se possa trabalhar essas influências nas cores, nos figurinos. A idéia é, sobretudo, a de um encontro artístico, onde os intérpretes vão falar de coisas e dançar os sentimentos: o amor, a procura de si mesmo, a relação com o invisível. Vamos ritualizar essa pesquisa, sim, mas não reproduzir os rituais daqui."
Faz alguns anos que Jamet vem regularmente ao Brasil: "Há muitas coisas de que eu gosto no país. Acima de tudo os brasileiros! Adoro a generosidade, a simplicidade, a facilidade de estar alegre e triste que é muito particular daqui", conta ele.
O espetáculo está sendo produzido para ser visto nas celebrações do Brasil na França, mas "não farei a mesma coisa que um brasileiro, pois ninguém precisa de mim aqui para fazer dança tradicional ou contemporânea. O que me interessa é trabalhar como francês os elementos do Brasil e ver o que pode surgir das parcerias com os artistas envolvidos".


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