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DANÇA
Francês fecha o elenco de "Ritual do Cotidiano", que estréia em abril em SP e faz parte do Ano do Brasil na França
Philippe Jamet cria coreografia sobre vida brasileira
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Perceber a realidade pelo movimento. Falar da intimidade através dos gestos. Evocar experiências pessoais para compor um
Brasil contemporâneo. Esses são
alguns caminhos que o coreógrafo francês Philippe Jamet, 42, percorre para criar "Ritual do Cotidiano", que estréia em abril em
São Paulo e em outubro na França
(seguindo em turnê de dois meses
no país, incluído na programação
do Ano do Brasil na França).
"Sempre trabalho a partir das
pessoas -das experiências e das
diferentes técnicas de cada um",
diz Jamet, em entrevista para a
Folha, na Oficina de Andrade, local onde ocorrerá sua residência
coreográfica de três meses.
"Desta vez o que importa é falar
da vida cotidiana, através dos intérpretes aqui em São Paulo, procurando mostrar a cultura contemporânea brasileira."
As audições para a peça terminaram ontem. Foram cerca de 200
intérpretes, nas quatro etapas de
prova, para selecionar cinco bailarinos e quatro músicos. Já estão
definidos os músicos: João Nascimento (que trabalha com samba),
Ramiro Murillo (formação popular contemporânea), Luciano Ortega Fagundes (cultura nordestina) e Daniela Aquilo (candomblé
e cultura nordestina).
Também foram escolhidos três
dançarinos: Lívia Seixas e Sheila
Arêas (que atuaram no Nova
Dança) e Henrique Lima (ex-bailarino do Cisne Negro).
A assistente de coreografia de
Jamet é a brasileira Estelamare,
dando continuidade a uma parceria que vem de longe. Os dois se
encontraram em "Portraits Dansés" (2000) e no ano passado trabalharam juntos em "Intimidades", que reunia bailarinos profissionais e amadores. Para Jamet,
"Intimidades" foi "um ateliê de
preparação"; agora virá verdadeiramente um espetáculo.
"Ritual do Cotidiano", como tema, pode dizer muito ou nada:
"Eu dei esse nome porque o cotidiano é um ritual, a vida é um ritual". Dançar, em si, é um ritual:
"Deixe a dança entrar e sair de você. Um vaivém contínuo entre o
sentimento e a racionalidade.
Dançar é uma história de mim
mesmo: o que me toca, o que me
chama. Vamos trabalhar com diferentes materiais artísticos e humanos. O que me interessa é a experimentação e o que pode surgir
dos encontros."
Inspiração
Apesar de o tema sugerir o emprego de elementos dos rituais
afro-brasileiros, como umbanda e
candomblé, Jamet explica que
não vai se inspirar diretamente
nesses universos. "Talvez se possa
trabalhar essas influências nas cores, nos figurinos. A idéia é, sobretudo, a de um encontro artístico,
onde os intérpretes vão falar de
coisas e dançar os sentimentos: o
amor, a procura de si mesmo, a
relação com o invisível. Vamos ritualizar essa pesquisa, sim, mas
não reproduzir os rituais daqui."
Faz alguns anos que Jamet vem
regularmente ao Brasil: "Há muitas coisas de que eu gosto no país.
Acima de tudo os brasileiros!
Adoro a generosidade, a simplicidade, a facilidade de estar alegre e
triste que é muito particular daqui", conta ele.
O espetáculo está sendo produzido para ser visto nas celebrações
do Brasil na França, mas "não farei a mesma coisa que um brasileiro, pois ninguém precisa de
mim aqui para fazer dança tradicional ou contemporânea. O que
me interessa é trabalhar como
francês os elementos do Brasil e
ver o que pode surgir das parcerias com os artistas envolvidos".
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