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ÚLTIMA MODA
NÃO SIGO A MODA, DIZ GISELE
ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
Gisele Bündchen é a principal
estrela da moda em todo o mundo. Mas se você pergunta a ela se
costuma seguir a moda, ela dirá,
com toda tranqüilidade: "Nunca
segui. Posso usar a mesma roupa
durante dez anos". E ainda completa, com firmeza: "Ninguém é
modelo para ninguém". Gisele é a
presença mais aguardada hoje no
Fashion Rio. Ela desfila à noite para a grife Colcci, uma das duas
marcas no mundo para as quais
ainda se apresenta -a outra é a
Victoria Secret.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, a modelo de 25
anos conta que fará um filme na
França, diz que adoraria ser dirigida por Walter Salles e Fernando
Meirelles e revela sua indignação
com a política brasileira. "O Brasil
precisa superar este problema,
que é quase cultural, da corrupção. Desde que eu nasci é assim."
Folha - O que é a moda para você?
Gisele Bündchen - Existe a moda
que você segue e a que você cria.
Eu nunca segui moda nenhuma.
Posso usar a mesma roupa durante dez anos. Cada pessoa tem um
corpo diferente, uma luz própria,
e precisa descobrir seu estilo. Cada um cria sua própria moda.
Folha - Qual foi a sua maior contribuição para a moda?
Gisele - Tudo é uma mistura de
trabalho, destino e sorte. O mundo da moda sabe o que eu fiz e não
quero ficar me auto-elogiando.
Folha - Mas que mistério mantém
você tanto tempo em evidência?
Gisele - O segredo da minha longevidade foi eu ter conseguido fazer ao mesmo tempo o "fashion"
e o comercial. Enquanto fotografava para a "Vogue", desfilava para a Victoria Secret. Outra razão é
minha personalidade. As pessoas
gostam do meu profissionalismo,
da minha energia, do meu jeito
batalhador. Nem acho que eu seja
uma referência de beleza. Meu sucesso se deve mais à minha personalidade do que à aparência.
Folha - Na moda brasileira, qual
foi a sua principal contribuição?
Gisele - Só digo que o meu sucesso abriu as portas para as modelos, os estilistas e a indústria da
moda brasileira.
Folha - Assusta você pensar que
um dia não estará mais no topo do
mundo fashion?
Gisele - Não me assusta, porque
sei que tudo tem o seu tempo. Enquanto for a minha vez, eu estarei
no topo. Cheguei aqui graças ao
meu trabalho, fiz a minha parte.
Nunca tive como meta ser a número um em nada. O que eu quero é crescer e evoluir como ser humano. Sucesso para mim é isso.
Folha - Você disse que iria se aposentar da vida de modelo em dois
anos. Esses planos estão mantidos?
Gisele - Não falo mais em tempo
de aposentadoria, porque sei que
tudo muda o tempo todo. No momento em que eu não me sentir
mais "desafiada" pela carreira de
modelo, eu paro. Modelos como
Kate Moss e Naomi Campbell estão trabalhando com mais de 30
anos. Não sei se chego a tanto,
mas não posso dizer que não serei
como elas. Preciso de desafios.
Folha - Qual desafio se colocará
quando parar? Casar é um deles?
Gisele - Quero casar, sim, mas
agora é a última coisa que passa
pela minha cabeça. Não vou dizer
o que vou fazer quando parar,
pois alguma coisa eu tenho que
guardar para mim... Nem que sejam os meus sonhos.
Folha - Você acha que tem futuro
como atriz?
Gisele - Minha intenção com o
filme "Táxi" foi me divertir e quebrar a rotina. Eu não estava esperando aplausos da crítica. Sou
movida a desafios e sempre que
receber um convite que seja desafiador, vou aceitar. Estou negociando para fazer um filme na
França no próximo verão, sobre o
qual não posso falar ainda. Vou
ter que aprender francês para
atuar. E isso sim é um desafio que
vale a pena. Na vida prefiro me arrepender de ter feito algo do que
de não ter feito.
Folha - Com que diretores gostaria de trabalhar?
Gisele - Com Almodóvar e Scorsese. Queria ter feito o papel de Jodie Foster em "Taxi Driver".
Também gostaria de filmar com
Walter Salles e Fernando Meirelles, que eu adoro. Se me convidassem, aceitaria na hora.
Folha - Qual é sua impressão sobre a política brasileira? O escândalo do "mensalão" a incomodou?
Gisele - Claro, como a todo
mundo. O Brasil precisa superar
este problema, que é quase cultural, da corrupção. Desde que eu
nasci é assim. E está cada vez pior.
Se roubassem menos, as coisas
mudariam neste país.
Folha - O que faz de você a maior
top de todos os tempos?
Gisele - Não sei se sou a maior
top de todos os tempos, mas tenho certeza que me envolvo 100%
com o meu trabalho. Sou perfeccionista, honesta e profissional.
Ao invés de ser conhecida como
uma referência de beleza, quero
ser conhecida como referência de
ser humano. Quando acordo de
manhã e me vejo no espelho, não
penso no creme que vou passar.
Me pergunto como posso ser uma
pessoa melhor. Gostaria que as
adolescentes que se espelham em
mim por ser magra e alta admirassem esse meu outro lado, de alguém que busca crescer e evoluir.
Todo mundo tem que achar alguma coisa em si que goste. Ninguém é modelo para ninguém.
CRÍTICA
Terceiro dia de Fashion Rio tem nostalgia, feminilidade e bom-gosto
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
Uma onda de bom-gosto, nostalgia e feminilidade chique tomou conta do terceiro dia do Fashion Rio, sufocando muitas vezes
a ousadia e a novidade. Tessuti,
Mara Mac e Drosófila mostraram
as melhores coleções, com confecção sofisticada, acabamento
apurado e moldagens consagradas, sem grandes riscos. O preto
firmou-se como sinônimo da elegância sóbria e certa para o outono/inverno, ao lado do bege. Mas
o marrom, o grafite e o branco
também fizeram aparições fortes.
Faltou, porém, um esforço
maior de originalidade nas coleções, que fizeram referências literais aos desfiles da última temporada européia. Os babados, as botinhas de salto e as saias rabo de
peixe de Givenchy; os rufos, os
vestidos brancos artesanais e os
volumes de Stefano Pilatti para
Yves Saint Laurent; a silhueta
neominimalista da Prada -tudo
isso estava lá.
A Drosófila se destacou com
seus volumes que faziam alusões
esportivas à moda dos anos 80 e
imprimiram um toque singular à
apresentação. O vestido-balão,
com punho na barra, a calça legging usada com um jaquetão amplo, os vestidos "fofos" combinados com simpáticos casaquetes e
os bordados delicados foram outros bons achados. A cartela de
cores, apesar de enxuta, cumpriu
seu papel e foi do off white ao azul
escuríssimo.
A Tessuti, que mostrou sua coleção no Copacabana Palace,
mergulhou fundo no saudosismo
e no imaginário da ultrafeminilidade. As imagens mais fortes foram a do vestido creme com rabo
de peixe bordado em preto e a da
modelo Tamara, que, ao escorregar de seu salto, tirou os sapatos e
desfilou descalça com seu smoking feminino, lembrando Marlene Dietrich em seus momentos de
androginia chique.
Com um cenário que fazia referência ao filme "Metrópolis", clássico de Fritz Lang, a Mara Mac
mostrou silhuetas trazidas dos
anos 20 misturadas a um futurismo retrô e foi a única grife a apostar em uma cintura deslocada para baixo. Nos demais desfiles, reinou a cintura alta, marcada por
cintos, faixas e obis orientais.Graça Ottoni mostrou boas peças de
alfaiataria e foi feliz nas sedas retorcidas aplicadas sobre seda de
algodão. Layana Thomas fez um
desfile competente e bonito, encontrando leveza nas vestes sisudas das mulheres vietnamitas.
A TNG fechou a noite com o
"momento Raica", marcado pela
expectativa da presença do jogador Ronaldo no desfile de sua namorada. Mas ele acabou não aparecendo. Na passarela, a onda
"Flashdance", recentemente reacendida pela diva Madonna, apareceu em shortinhos, leggings de
lycra e polainas estilizadas. Os
vestidos longos, mais sofisticados,
com paetês, não fariam falta nenhuma. Já os jeans, que apareceram em cintura alta e franzidos,
poderiam ter mais espaço.
(VIVIAN WHITEMAN E ALCINO LEITE NETO)
Colcci desfilará sua coleção de primavera verão em Nova York
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
A Colcci vai desfilar na temporada primavera/verão, em
setembro, na Olympus Fashion
Week, onde já se apresentam
os brasileiros Alexandre
Herchcovitch e Carlos Miéle.
Embora o contrato de Gisele
com a marca inclua mais uma
temporada, ela não desfilará
em Nova York, segundo Alexandre Menegotti, 34, presidente da grife catarinense.
A modelo conta que tem uma
relação afetiva com a Colcci.
"Conheço a grife desde pequena, quando eles abriram uma
confecção em Brusque e fabricavam um moletom com um
cachorrinho laranja", diz. Ela
explicou qual a diferença entre
desfilar para a marca brasileira
e a Dior, por exemplo. "Na
Colcci eu posso ser mais eu, sou
mais autêntica, pois estou vestindo roupas que têm a ver com
o meu dia-a-dia. Na Dior, é
uma coisa mais teatral. Mas para mim as duas marcas têm a
mesma importância."
Recentemente, Gisele deixou
de trabalhar com a agente e
amiga Monica Monteiro. Monica dirigia o escritório brasileiro da agência IMG, que foi
fechado. A modelo nega que tenham brigado. "Com o fechamento da IMG-Brasil, não pude permanecer com ela. Mas
continuamos amigas e estou
dando meu apoio ao seu novo
trabalho", diz Gisele. A IMG
passou a ser representada pela
assessoria Press Code, que cuida do SP Fashion Week.
Você quer ser a Barbie?
NINA LEMOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Que tal virar a Barbie (sim, a
boneca) por algumas horas?
Esse sonho -ou pesadelo- pode ser realizado por freqüentadores do Fashion Rio. Não é feitiço.
A Mattel montou um espaço no
evento onde as pessoas são maquiadas e vestidas com roupas parecidas com as da boneca. Cerca
de 150 pessoas têm frequentado o
estande por dia.
E a coisa não é brincadeira de
criança. Metade dos transformados são adultos. Então, fui convocada para viver a experiência. Fui
incentivada pela estilista Iraci
Niero, uma loira que não revela a
idade, que posava sorrindo e jogando os cabelos. "A Barbie é a
mulher perfeita; feminina, romântica. Toda mulher tem um
pouco de Barbie dentro de si."
A comissária Aiana de Freitas,
23, também posava empolgadíssima. "Me senti com o glamour da
Barbie ao me produzir", comemorava. O sonho da moça não estava à venda no estande: "Eu queria a cintura dela", lamentou.
Será que eu tinha a minha porção Barbie? Só testando. Entrei no
provador e disputei com uma
crianças de seis anos um boá de
plumas. Para me transformar em
Barbie, eu poderia escolher chapéus, pulseiras, óculos. Pena que
não tinham peruca. "Eu não pareço a Barbie porque não sou loira",
reclamei. "Mas existem Barbies
morenas", me mostrou a moça do
estande. Mas Barbie de cabelo
curto ainda não existe.
Então, o jeito foi pegar um boné
rosa, um óculos rosa, um colar
prata e pulseiras, também rosas,
claro. Depois, fui maquiada. Maquiagem de Barbie: sombra rosa e
gloss rosa. E nada da Barbie baixar em mim. "Você quer passar o
perfume da Barbie?" "Quero!",
respondi na hora, achando podia
ser uma poção milagrosa. Nada.
Mas o cheiro doce do perfume
me acompanhou o resto do dia.
No estande, eles dizem que eu poderia escolher virar um dos três tipos de Barbie: "Vintage", "Divertida" e "Galera". Não sei qual eu
virei. Inclusive porque eu não virei Barbie. Fiquei parecendo uma
clubber dos anos 90. Cruzes!
ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br
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