São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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ÚLTIMA MODA

NÃO SIGO A MODA, DIZ GISELE

ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Gisele Bündchen é a principal estrela da moda em todo o mundo. Mas se você pergunta a ela se costuma seguir a moda, ela dirá, com toda tranqüilidade: "Nunca segui. Posso usar a mesma roupa durante dez anos". E ainda completa, com firmeza: "Ninguém é modelo para ninguém". Gisele é a presença mais aguardada hoje no Fashion Rio. Ela desfila à noite para a grife Colcci, uma das duas marcas no mundo para as quais ainda se apresenta -a outra é a Victoria Secret.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, a modelo de 25 anos conta que fará um filme na França, diz que adoraria ser dirigida por Walter Salles e Fernando Meirelles e revela sua indignação com a política brasileira. "O Brasil precisa superar este problema, que é quase cultural, da corrupção. Desde que eu nasci é assim."

 

Folha - O que é a moda para você?
Gisele Bündchen -
Existe a moda que você segue e a que você cria. Eu nunca segui moda nenhuma. Posso usar a mesma roupa durante dez anos. Cada pessoa tem um corpo diferente, uma luz própria, e precisa descobrir seu estilo. Cada um cria sua própria moda.

Folha - Qual foi a sua maior contribuição para a moda?
Gisele -
Tudo é uma mistura de trabalho, destino e sorte. O mundo da moda sabe o que eu fiz e não quero ficar me auto-elogiando.

Folha - Mas que mistério mantém você tanto tempo em evidência?
Gisele -
O segredo da minha longevidade foi eu ter conseguido fazer ao mesmo tempo o "fashion" e o comercial. Enquanto fotografava para a "Vogue", desfilava para a Victoria Secret. Outra razão é minha personalidade. As pessoas gostam do meu profissionalismo, da minha energia, do meu jeito batalhador. Nem acho que eu seja uma referência de beleza. Meu sucesso se deve mais à minha personalidade do que à aparência.

Folha - Na moda brasileira, qual foi a sua principal contribuição?
Gisele -
Só digo que o meu sucesso abriu as portas para as modelos, os estilistas e a indústria da moda brasileira.

Folha - Assusta você pensar que um dia não estará mais no topo do mundo fashion?
Gisele -
Não me assusta, porque sei que tudo tem o seu tempo. Enquanto for a minha vez, eu estarei no topo. Cheguei aqui graças ao meu trabalho, fiz a minha parte. Nunca tive como meta ser a número um em nada. O que eu quero é crescer e evoluir como ser humano. Sucesso para mim é isso.

Folha - Você disse que iria se aposentar da vida de modelo em dois anos. Esses planos estão mantidos?
Gisele -
Não falo mais em tempo de aposentadoria, porque sei que tudo muda o tempo todo. No momento em que eu não me sentir mais "desafiada" pela carreira de modelo, eu paro. Modelos como Kate Moss e Naomi Campbell estão trabalhando com mais de 30 anos. Não sei se chego a tanto, mas não posso dizer que não serei como elas. Preciso de desafios.

Folha - Qual desafio se colocará quando parar? Casar é um deles?
Gisele -
Quero casar, sim, mas agora é a última coisa que passa pela minha cabeça. Não vou dizer o que vou fazer quando parar, pois alguma coisa eu tenho que guardar para mim... Nem que sejam os meus sonhos.

Folha - Você acha que tem futuro como atriz?
Gisele -
Minha intenção com o filme "Táxi" foi me divertir e quebrar a rotina. Eu não estava esperando aplausos da crítica. Sou movida a desafios e sempre que receber um convite que seja desafiador, vou aceitar. Estou negociando para fazer um filme na França no próximo verão, sobre o qual não posso falar ainda. Vou ter que aprender francês para atuar. E isso sim é um desafio que vale a pena. Na vida prefiro me arrepender de ter feito algo do que de não ter feito.

Folha - Com que diretores gostaria de trabalhar?
Gisele -
Com Almodóvar e Scorsese. Queria ter feito o papel de Jodie Foster em "Taxi Driver". Também gostaria de filmar com Walter Salles e Fernando Meirelles, que eu adoro. Se me convidassem, aceitaria na hora.

Folha - Qual é sua impressão sobre a política brasileira? O escândalo do "mensalão" a incomodou?
Gisele -
Claro, como a todo mundo. O Brasil precisa superar este problema, que é quase cultural, da corrupção. Desde que eu nasci é assim. E está cada vez pior. Se roubassem menos, as coisas mudariam neste país.

Folha - O que faz de você a maior top de todos os tempos?
Gisele -
Não sei se sou a maior top de todos os tempos, mas tenho certeza que me envolvo 100% com o meu trabalho. Sou perfeccionista, honesta e profissional. Ao invés de ser conhecida como uma referência de beleza, quero ser conhecida como referência de ser humano. Quando acordo de manhã e me vejo no espelho, não penso no creme que vou passar. Me pergunto como posso ser uma pessoa melhor. Gostaria que as adolescentes que se espelham em mim por ser magra e alta admirassem esse meu outro lado, de alguém que busca crescer e evoluir. Todo mundo tem que achar alguma coisa em si que goste. Ninguém é modelo para ninguém.

CRÍTICA

Terceiro dia de Fashion Rio tem nostalgia, feminilidade e bom-gosto

DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Uma onda de bom-gosto, nostalgia e feminilidade chique tomou conta do terceiro dia do Fashion Rio, sufocando muitas vezes a ousadia e a novidade. Tessuti, Mara Mac e Drosófila mostraram as melhores coleções, com confecção sofisticada, acabamento apurado e moldagens consagradas, sem grandes riscos. O preto firmou-se como sinônimo da elegância sóbria e certa para o outono/inverno, ao lado do bege. Mas o marrom, o grafite e o branco também fizeram aparições fortes.
Faltou, porém, um esforço maior de originalidade nas coleções, que fizeram referências literais aos desfiles da última temporada européia. Os babados, as botinhas de salto e as saias rabo de peixe de Givenchy; os rufos, os vestidos brancos artesanais e os volumes de Stefano Pilatti para Yves Saint Laurent; a silhueta neominimalista da Prada -tudo isso estava lá.
A Drosófila se destacou com seus volumes que faziam alusões esportivas à moda dos anos 80 e imprimiram um toque singular à apresentação. O vestido-balão, com punho na barra, a calça legging usada com um jaquetão amplo, os vestidos "fofos" combinados com simpáticos casaquetes e os bordados delicados foram outros bons achados. A cartela de cores, apesar de enxuta, cumpriu seu papel e foi do off white ao azul escuríssimo.
A Tessuti, que mostrou sua coleção no Copacabana Palace, mergulhou fundo no saudosismo e no imaginário da ultrafeminilidade. As imagens mais fortes foram a do vestido creme com rabo de peixe bordado em preto e a da modelo Tamara, que, ao escorregar de seu salto, tirou os sapatos e desfilou descalça com seu smoking feminino, lembrando Marlene Dietrich em seus momentos de androginia chique.
Com um cenário que fazia referência ao filme "Metrópolis", clássico de Fritz Lang, a Mara Mac mostrou silhuetas trazidas dos anos 20 misturadas a um futurismo retrô e foi a única grife a apostar em uma cintura deslocada para baixo. Nos demais desfiles, reinou a cintura alta, marcada por cintos, faixas e obis orientais.Graça Ottoni mostrou boas peças de alfaiataria e foi feliz nas sedas retorcidas aplicadas sobre seda de algodão. Layana Thomas fez um desfile competente e bonito, encontrando leveza nas vestes sisudas das mulheres vietnamitas.
A TNG fechou a noite com o "momento Raica", marcado pela expectativa da presença do jogador Ronaldo no desfile de sua namorada. Mas ele acabou não aparecendo. Na passarela, a onda "Flashdance", recentemente reacendida pela diva Madonna, apareceu em shortinhos, leggings de lycra e polainas estilizadas. Os vestidos longos, mais sofisticados, com paetês, não fariam falta nenhuma. Já os jeans, que apareceram em cintura alta e franzidos, poderiam ter mais espaço.
(VIVIAN WHITEMAN E ALCINO LEITE NETO)

Colcci desfilará sua coleção de primavera verão em Nova York

DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

A Colcci vai desfilar na temporada primavera/verão, em setembro, na Olympus Fashion Week, onde já se apresentam os brasileiros Alexandre Herchcovitch e Carlos Miéle. Embora o contrato de Gisele com a marca inclua mais uma temporada, ela não desfilará em Nova York, segundo Alexandre Menegotti, 34, presidente da grife catarinense.
A modelo conta que tem uma relação afetiva com a Colcci. "Conheço a grife desde pequena, quando eles abriram uma confecção em Brusque e fabricavam um moletom com um cachorrinho laranja", diz. Ela explicou qual a diferença entre desfilar para a marca brasileira e a Dior, por exemplo. "Na Colcci eu posso ser mais eu, sou mais autêntica, pois estou vestindo roupas que têm a ver com o meu dia-a-dia. Na Dior, é uma coisa mais teatral. Mas para mim as duas marcas têm a mesma importância."
Recentemente, Gisele deixou de trabalhar com a agente e amiga Monica Monteiro. Monica dirigia o escritório brasileiro da agência IMG, que foi fechado. A modelo nega que tenham brigado. "Com o fechamento da IMG-Brasil, não pude permanecer com ela. Mas continuamos amigas e estou dando meu apoio ao seu novo trabalho", diz Gisele. A IMG passou a ser representada pela assessoria Press Code, que cuida do SP Fashion Week.

Você quer ser a Barbie?

NINA LEMOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Que tal virar a Barbie (sim, a boneca) por algumas horas? Esse sonho -ou pesadelo- pode ser realizado por freqüentadores do Fashion Rio. Não é feitiço. A Mattel montou um espaço no evento onde as pessoas são maquiadas e vestidas com roupas parecidas com as da boneca. Cerca de 150 pessoas têm frequentado o estande por dia.
E a coisa não é brincadeira de criança. Metade dos transformados são adultos. Então, fui convocada para viver a experiência. Fui incentivada pela estilista Iraci Niero, uma loira que não revela a idade, que posava sorrindo e jogando os cabelos. "A Barbie é a mulher perfeita; feminina, romântica. Toda mulher tem um pouco de Barbie dentro de si."
A comissária Aiana de Freitas, 23, também posava empolgadíssima. "Me senti com o glamour da Barbie ao me produzir", comemorava. O sonho da moça não estava à venda no estande: "Eu queria a cintura dela", lamentou.
Será que eu tinha a minha porção Barbie? Só testando. Entrei no provador e disputei com uma crianças de seis anos um boá de plumas. Para me transformar em Barbie, eu poderia escolher chapéus, pulseiras, óculos. Pena que não tinham peruca. "Eu não pareço a Barbie porque não sou loira", reclamei. "Mas existem Barbies morenas", me mostrou a moça do estande. Mas Barbie de cabelo curto ainda não existe.
Então, o jeito foi pegar um boné rosa, um óculos rosa, um colar prata e pulseiras, também rosas, claro. Depois, fui maquiada. Maquiagem de Barbie: sombra rosa e gloss rosa. E nada da Barbie baixar em mim. "Você quer passar o perfume da Barbie?" "Quero!", respondi na hora, achando podia ser uma poção milagrosa. Nada.
Mas o cheiro doce do perfume me acompanhou o resto do dia. No estande, eles dizem que eu poderia escolher virar um dos três tipos de Barbie: "Vintage", "Divertida" e "Galera". Não sei qual eu virei. Inclusive porque eu não virei Barbie. Fiquei parecendo uma clubber dos anos 90. Cruzes!


ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br

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