São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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MÚSICA

Crítica/"What Will We Be"

Mais contido e direto, novo CD de Devendra é seu melhor

Com Rodrigo Amarante na banda, músico investe em canções diretas e animadas

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
EDITOR DO FOLHATEEN

É fácil entender de onde vem o preconceito dirigido ao cantor e compositor norte-americano Devendra Banhart, 28. O sujeito faz o estilo hippie-maluco-sujo, acha que Caetano Veloso é deus, canta folk-psicodélico misturando inglês, espanhol e português e cria canções com títulos herméticos como "Samba Vexillographica".
Ou seja, nessa visão, é uma espécie de Beck que deu errado. Mas preconceitos não servem para nada, e a verdade é que quem ouvir "What Will We Be", o sexto disco de Devendra, sem pedras na mão pode se surpreender positivamente.
Talvez tenha sido a mudança de uma gravadora míni (XL) para uma "major" (Warner), acompanhada (imagina-se) de uma pressão para atingir mais gente e vender mais. Fato é que o novo álbum de Banhart é muito menos experimental, mais simples, direto e acessível.
Não dá para deixar de sorrir já na alegre faixa de abertura, "Can't Help but Smiling", de toques caribenhos, rapidinha em seus dois minutos e meio, já estabelecendo o clima "ensolarado", digamos, que vai reinar em boa parte das 14 faixas do disco.
A ela se segue a bela "Angelika", com uma levada folk romântica que não é nada "freak" -ao contrário, remete ao melhor do gênero nos anos 60/70.

Mantendo as manias
É claro que o álbum mantém algumas "devendrices", como o hábito de misturar trechos completamente díspares em uma mesma canção.
Mas mesmo esse tipo de idiossincrasia (presente em "Angelika", "Chin Chin & Muck Muck" e "Maria Lionza") não soa tão bizarro como outrora. Talvez as indicações da mudança por que passou Devendra estejam na letra (em inglês) da divertida "Baby" (não, não é cover do Caetano), primeiro single do disco: "Eu finalmente sei do que estou atrás/ Estou aprendendo a me permitir rir".
É uma grande canção, que poderia facilmente estar num disco do Little Joy, por exemplo -vale lembrar que Rodrigo Amarante participou de mais este CD do norte-americano.
De fato, esse clima alegre perpassa a maior parte de "What Will We Be" e é responsável por seus melhores momentos -além das já citadas, destacam-se os rocks "16th & Valencia Roxy Music" e "Rats", mais "Foolin'", outra que o Little Joy tocaria facilmente, um reggae/ ska dos primórdios.
Já nas baladas "First Song for B" (ao piano), "Last Song for B" (no violão) e "Meet Me at Lookout Point", o resultado é bem menos interessante. É claro que esse novo Devendra, mais acessível, menos "New Weird America" (o subgênero em que ele foi catalogado em seu início), não foi unanimidade entre os velhos fãs. Mas sua abrangência tem potencial para conquistar novos.


WHAT WILL WE BE

Artista: Devendra Banhart
Lançamento: Warner Music
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: bom




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