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MÚSICA
Crítica/"What Will We Be"
Mais contido e direto, novo CD de Devendra é seu melhor
Com Rodrigo Amarante na banda, músico investe em canções diretas e animadas
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
EDITOR DO FOLHATEEN
É fácil entender de onde
vem o preconceito dirigido ao cantor e compositor norte-americano Devendra Banhart, 28.
O sujeito faz o estilo hippie-maluco-sujo, acha que Caetano
Veloso é deus, canta folk-psicodélico misturando inglês, espanhol e português e cria canções
com títulos herméticos como
"Samba Vexillographica".
Ou seja, nessa visão, é uma
espécie de Beck que deu errado.
Mas preconceitos não servem para nada, e a verdade é
que quem ouvir "What Will We
Be", o sexto disco de Devendra,
sem pedras na mão pode se surpreender positivamente.
Talvez tenha sido a mudança
de uma gravadora míni (XL)
para uma "major" (Warner),
acompanhada (imagina-se) de
uma pressão para atingir mais
gente e vender mais. Fato é que
o novo álbum de Banhart é
muito menos experimental,
mais simples, direto e acessível.
Não dá para deixar de sorrir
já na alegre faixa de abertura,
"Can't Help but Smiling", de toques caribenhos, rapidinha em
seus dois minutos e meio, já estabelecendo o clima "ensolarado", digamos, que vai reinar em
boa parte das 14 faixas do disco.
A ela se segue a bela "Angelika", com uma levada folk romântica que não é nada "freak"
-ao contrário, remete ao melhor do gênero nos anos 60/70.
Mantendo as manias
É claro que o álbum mantém
algumas "devendrices", como o
hábito de misturar trechos
completamente díspares em
uma mesma canção.
Mas mesmo esse tipo de
idiossincrasia (presente em
"Angelika", "Chin Chin & Muck
Muck" e "Maria Lionza") não
soa tão bizarro como outrora.
Talvez as indicações da mudança por que passou Devendra estejam na letra (em inglês)
da divertida "Baby" (não, não é
cover do Caetano), primeiro
single do disco: "Eu finalmente
sei do que estou atrás/ Estou
aprendendo a me permitir rir".
É uma grande canção, que
poderia facilmente estar num
disco do Little Joy, por exemplo -vale lembrar que Rodrigo
Amarante participou de mais
este CD do norte-americano.
De fato, esse clima alegre
perpassa a maior parte de
"What Will We Be" e é responsável por seus melhores momentos -além das já citadas,
destacam-se os rocks "16th &
Valencia Roxy Music" e "Rats",
mais "Foolin'", outra que o Little Joy tocaria facilmente, um
reggae/ ska dos primórdios.
Já nas baladas "First Song for
B" (ao piano), "Last Song for B"
(no violão) e "Meet Me at Lookout Point", o resultado é bem
menos interessante.
É claro que esse novo Devendra, mais acessível, menos
"New Weird America" (o subgênero em que ele foi catalogado em seu início), não foi unanimidade entre os velhos fãs.
Mas sua abrangência tem potencial para conquistar novos.
WHAT WILL WE BE
Artista: Devendra Banhart
Lançamento: Warner Music
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: bom
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