São Paulo, Quarta-feira, 13 de Janeiro de 1999
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NETVOX
Maçã, morango, uva, tangerina...

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

Os novos iMacs com nome de fruta e cor de chiclete que a Apple lançou há alguns dias conseguiram mais manchetes para a empresa que o anúncio de seus novos chips de de 300 mHz e 400 mHz.
A Apple sempre foi mais sexy do que suas rivais. A começar pelo símbolo, uma maçã em todas as cores do arco-íris. Enquanto a maioria dos fabricantes de computadores persegue um respeitável ar de escritório, com tons de cinza e bege e nomes sisudos, como Compaq ou IBM, ela apela para uma sensibilidade mais pop.
Suas campanhas de publicidade, a começar pelo famoso comercial "1984", não falam de produtividade ou eficiência, mas de auto- expressão e individualidade.
Ultimamente, porém, andava quebrando a cara com essa estratégia. Boas idéias como o Newton e o eMate, que passaram quase despercebidas, deram com os burros n'água. Eram melhores como conceito que como produto, e o mercado não estava pronto para elas. Não deve ter sido nada agradável para os desenvolvedores do Newton terem que fechar a lojinha, ao mesmo tempo que assistiam o sucesso estrondoso do Palm Pilot, uma evolução do seu produto -mais simples, mais barata, menos pretensiosa e mais eficiente.
Parecia que a Apple, que deu o pontapé inicial na indústria de microcomputadores domésticos, tinha ficado para trás, e que a grande maioria dos compradores não estava afinal interessada em computadores charmosos e de qualidade, mas em máquinas baratas, anônimas e com muito mais opção de software. O computador já era um objeto suficientemente novo e intimidante. De certa forma, era um conforto que viesse sempre numa caixa bege, com um mouse de dois botões e um monitor quadrado. Era um pouco como o início da indústria de carros nos Estados Unidos, quando todos os Fords eram pretos, e as pessoas estavam mais preocupadas em saber se seus carros de fato funcionavam que com cores e design.
Em vez de abandonar suas pretensões artísticas, a empresa radicalizou. O iMac, lançado primeiramente num tom de azul esverdeado meio "new age", apelidado de azul "Bondi", já é uma aposta num mercado mais maduro e saturado, em que a compra de computador se torna em boa parte uma decisão de design -como aconteceu com a indústria de automóveis.
Pelo jeito o balão de ensaio satisfez a empresa, que lança agora um arco-íris de iMacs, com nomes como "tangerina", "uva", "morango" e "lima". O novo Power Mac G3, um computador bem mais caro, para usuários profissionais, também vem azul e translúcido.
Os iMacs têm um sabor de futurismo retrô -qualquer coisa como o ano 2000 que se imaginava em 1968. São objetos que poderiam estar sobre uma mesa em filmes como "Laranja Mecânica" ou num episódio dos "Jetsons". Seu design abole os ângulos retos e duros e a divisão entre CPU (a torre ou caixa onde ficam os chips e placas) e monitor. Um dos novos monitores do G3 colorido se apóia num tripé que lembra móveis pé-de-palito.
É um visual que apela diretamente à memória emocional da geração de Steve Jobs, o fundador da Apple, que voltou recentemente a dirigir a empresa. Não é à toa que a nova campanha publicitária do Mac usa imagens da "máquina do futuro" que marcou aquela geração: HAL 9000, o computador vilão de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (Stanley Kubrick).
Mas o marketing do iMac tem um elemento menos óbvio que sua casca technicolor. O "i" do seu nome significa Internet, e ele é vendido como um computador que se conecta à rede com facilidade.
Isso porque o crescimento da Internet vinha ameaçando dar o golpe de misericórdia nos Macs para uso doméstico. A rede de computadores acelerou muito o ritmo de desenvolvimento dos softwares, e os usuários se acostumaram a fazer downloads e trocar programas gratuitos ou shareware com frequência. Ficou mais evidente o número muito menor de opções de programas para Mac. Além disso, o computador da Apple conseguia ser mais complicado de conectar à rede que os PCs, e programas de navegação como o Explorer e o Netscape sempre saíam atrasados para Mac. Já tradicionalmente mais caro e elitista, ele ficou ilhado num mundo de PCs conectados.
Por mais elegantes e charmosos que sejam os Macs coloridos, há um certo exagero no entusiasmo que eles despertaram. Afinal, trata-se apenas de belos produtos, com um bom marketing. A única revolução que eles sinalizam é a passagem do computador ao reino do consumo doméstico, junto com walkmans, TVs e Vaporettos.

NOTAS


Brazil eletrônico
Antes de dizer que no Brasil não tem arte eletrônica, visite "Brazilian Electronic Art", editado por Eduardo Kac (mitpress.mit.edu/e-journals/Leonardo/isast/spec.projects/brazil.html). Arlindo Machado, Annateresa Fabris e Waldemar Cordeiro assinam alguns dos artigos. Acompanha uma interessante "Cronologia de Experimentos Artísticos com Tecnociência no Brasil", assinada por Kac, artista brasileiro radicado nos EUA.

Um minutinho
"Trânsite", filme premiado no Festival do Minuto de 98, pode ser assistido na Web. O endereço é www.bictv.com/transite. Em Flash, RealVideo e QuickTime.

Grand jury
São mais que ilustres os jurados do Webby Awards (prêmio americano para sites) deste ano. David Bowie escolhe a música vencedora, e Francis Ford Coppola, o filme. O jurado da categoria humor é Scott Adams, autor da tirinha "Dilbert".

Para quem precisa
O Projeto Achademia Solidário, iniciativa da Microsoft, Compaq e Xerox do Brasil, fornece equipamento e recursos a escolas, a fim de capacitar crianças carentes (www.achademia.com.br).

Haicai
Teve um toque de humor a sessão da última quinta do julgamento da Microsoft. O juiz Thomas Penfield Jackson leu no tribunal uma piada que circula na Internet: a Sony teria criado um sistema operacional em que mensagens de erro foram substituídas por haicais. O favorito do juiz era: "Sem memória. Queremos sustentar o céu, mas jamais conseguiremos".
E-mail: netvox@uol.com.br


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