São Paulo, Quarta-feira, 13 de Janeiro de 1999
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TELEVISÃO
Devido ao desaquecimento econômico e ao mau tempo, número de aparelhos ligados cresceu 15% em um ano
Crise e chuvas aumentam a audiência

RUI DANTAS
da Reportagem Local

A julgar pela primeira semana útil deste mês, janeiro de 99 será atípico para as emissoras de TV. Devido à crise econômica e às chuvas, o índice de televisores ligados na semana passada na Grande São Paulo foi 15% maior do que a média do mesmo mês de 98.
Em janeiro de 97, o índice de televisores ligados no horário das 20h às 21h59 foi de 68 pontos. Em 98, esse número caiu para 63 pontos.
Cada ponto equivale a cerca de 80 mil pessoas na Grande SP.
Na semana de 4 a 10 de janeiro o mesmo índice subiu para 72 pontos, com picos de 85, em números arredondados.
Tradicionalmente, janeiro é um mês considerado ruim para as emissoras de TV. As férias, o horário de verão e as reprises suscitam a queda na audiência do período.
De março a outubro, o índice de televisores ligados nunca é inferior a 70 pontos. Já entre dezembro e fevereiro raramente esse índice bate a mesma marca.
Em janeiro de 97, por exemplo, o "Jornal Nacional" amargou uma de suas piores médias mensais -36 pontos. No mesmo período, em 98, o índice permaneceu em declínio, atingindo 35 pontos. Já na semana passada, o "JN" obteve 51 pontos de média, um acréscimo de cerca de cerca de 40%.
Até atrações como o "Programa do Ratinho", que apresentava uma linha descendente nos índices do Ibope, subiram neste mês. Em dezembro de 98, "Ratinho" fechou com uma marca de 14 pontos. Na primeira semana, subiu para 16 -o programa chegou a atingir 18 pontos, em outubro, antes da revelação do esquema de brigas forjadas, feita pela Folha.
Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo Rubens da Costa Santos, 52, especialista em comportamento do consumidor, o fenômeno se deve a um conjunto de fatores.
"As chuvas, a meu ver, são o fator mais importante para explicar os índices. Na medida em que você não pode sair de casa ou sua saída é dificultada, as pessoas acabam não tendo outras opções além de ver TV", analisa. Neste mês, o índice de precipitação deverá aumentar cerca de 25%, comparado com 98, de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Quanto à crise econômica, Santos explica que a população, mais empobrecida, diminui suas possibilidades de consumo, deixando de realizar outros anseios.
"Se a população tem uma possibilidade de recursos maior, ela tende a realizar desejos como viajar, passear, sair de casa. Com a falta de dinheiro, a única opção é ficar em casa e ver TV", afirmou.
"As chuvas, neste caso, também têm papel fundamental, já que dificultam a população de se locomover pela cidade."
Outro ponto apontado pelo professor é a quantidade de estréias programadas pelas emissoras neste janeiro (leia texto ao lado).
A professora do Núcleo de Estudos da Telenovela da Escola de Comunicações e Artes da USP Maria Aparecida Baccega, 55, concorda com Santos.
Em função da crise, de acordo com Baccega, "a população pára de pensar que vai gastar apenas o dinheiro da entrada, quando for ao cinema". "Um casal, por exemplo, gastará dois bilhetes, mais café, estacionamento etc."
A professora acredita que é possível inferir outro dado, a partir do aumento generalizado no consumo de televisão. "Se o Ratinho, a novela e as minisséries aumentaram seus ibopes, a crise atingiu todos os níveis sociais", conclui.
O diretor-executivo do Ibope Mídia, Flávio Ferrari, 39, tem uma visão diferente da questão. Ferrari prefere apostar no apelo popular da novela das oito, que, de um modo geral, alavancaria toda a audiência da Globo no horário nobre e, como consequência, o número total de televisores ligados.
""Torre de Babel", independentemente de sua qualidade, caiu no gosto popular. As chuvas fazem com que a população permaneça mais em casa, mas também provoca congestionamentos. As pessoas, então, demoraram mais para chegar em casa, o que diminui o ibope no horário nobre."
Ferrari considera ser difícil analisar os reflexos da crise econômica nas variações de audiência.
"Já houve períodos em que a crise econômica era intensa, como no governo Sarney, mas as pessoas continuavam saindo, bebendo nas ruas, o que diminuiu o ibope."
Baccega vê com otimismo o aumento no consumo televisivo. Para ela, o fenômeno fará com que as emissoras repensem suas programações. "Mais pessoas vendo TV, são mais pessoas analisando o que se passa nela. Isso repercute em favor da melhoria da TV."


O colunista Marcelo Coelho está em férias



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