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TELEVISÃO
Devido ao desaquecimento econômico e ao mau tempo, número de aparelhos ligados cresceu 15% em um ano
Crise e chuvas aumentam a audiência
RUI DANTAS
da Reportagem Local
A julgar pela primeira semana
útil deste mês, janeiro de 99 será
atípico para as emissoras de TV.
Devido à crise econômica e às chuvas, o índice de televisores ligados
na semana passada na Grande São
Paulo foi 15% maior do que a média do mesmo mês de 98.
Em janeiro de 97, o índice de televisores ligados no horário das 20h
às 21h59 foi de 68 pontos. Em 98,
esse número caiu para 63 pontos.
Cada ponto equivale a cerca de
80 mil pessoas na Grande SP.
Na semana de 4 a 10 de janeiro o
mesmo índice subiu para 72 pontos, com picos de 85, em números
arredondados.
Tradicionalmente, janeiro é um
mês considerado ruim para as
emissoras de TV. As férias, o horário de verão e as reprises suscitam
a queda na audiência do período.
De março a outubro, o índice de
televisores ligados nunca é inferior
a 70 pontos. Já entre dezembro e
fevereiro raramente esse índice bate a mesma marca.
Em janeiro de 97, por exemplo, o
"Jornal Nacional" amargou uma
de suas piores médias mensais
-36 pontos. No mesmo período,
em 98, o índice permaneceu em
declínio, atingindo 35 pontos. Já
na semana passada, o "JN" obteve
51 pontos de média, um acréscimo
de cerca de cerca de 40%.
Até atrações como o "Programa
do Ratinho", que apresentava uma
linha descendente nos índices do
Ibope, subiram neste mês. Em dezembro de 98, "Ratinho" fechou
com uma marca de 14 pontos. Na
primeira semana, subiu para 16
-o programa chegou a atingir 18
pontos, em outubro, antes da revelação do esquema de brigas forjadas, feita pela Folha.
Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo
Rubens da Costa Santos, 52, especialista em comportamento do
consumidor, o fenômeno se deve a
um conjunto de fatores.
"As chuvas, a meu ver, são o fator
mais importante para explicar os
índices. Na medida em que você
não pode sair de casa ou sua saída é
dificultada, as pessoas acabam não
tendo outras opções além de ver
TV", analisa. Neste mês, o índice
de precipitação deverá aumentar
cerca de 25%, comparado com 98,
de acordo com o Inmet (Instituto
Nacional de Meteorologia).
Quanto à crise econômica, Santos explica que a população, mais
empobrecida, diminui suas possibilidades de consumo, deixando
de realizar outros anseios.
"Se a população tem uma possibilidade de recursos maior, ela tende a realizar desejos como viajar,
passear, sair de casa. Com a falta de
dinheiro, a única opção é ficar em
casa e ver TV", afirmou.
"As chuvas, neste caso, também
têm papel fundamental, já que dificultam a população de se locomover pela cidade."
Outro ponto apontado pelo professor é a quantidade de estréias
programadas pelas emissoras neste janeiro (leia texto ao lado).
A professora do Núcleo de Estudos da Telenovela da Escola de Comunicações e Artes da USP Maria
Aparecida Baccega, 55, concorda
com Santos.
Em função da crise, de acordo
com Baccega, "a população pára
de pensar que vai gastar apenas o
dinheiro da entrada, quando for ao
cinema". "Um casal, por exemplo,
gastará dois bilhetes, mais café, estacionamento etc."
A professora acredita que é possível inferir outro dado, a partir do
aumento generalizado no consumo de televisão. "Se o Ratinho, a
novela e as minisséries aumentaram seus ibopes, a crise atingiu todos os níveis sociais", conclui.
O diretor-executivo do Ibope
Mídia, Flávio Ferrari, 39, tem uma
visão diferente da questão. Ferrari
prefere apostar no apelo popular
da novela das oito, que, de um modo geral, alavancaria toda a audiência da Globo no horário nobre
e, como consequência, o número
total de televisores ligados.
""Torre de Babel", independentemente de sua qualidade, caiu no
gosto popular. As chuvas fazem
com que a população permaneça
mais em casa, mas também provoca congestionamentos. As pessoas,
então, demoraram mais para chegar em casa, o que diminui o ibope
no horário nobre."
Ferrari considera ser difícil analisar os reflexos da crise econômica
nas variações de audiência.
"Já houve períodos em que a crise econômica era intensa, como no
governo Sarney, mas as pessoas
continuavam saindo, bebendo nas
ruas, o que diminuiu o ibope."
Baccega vê com otimismo o aumento no consumo televisivo. Para ela, o fenômeno fará com que as
emissoras repensem suas programações. "Mais pessoas vendo TV,
são mais pessoas analisando o que
se passa nela. Isso repercute em favor da melhoria da TV."
O colunista Marcelo Coelho está em férias
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