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MEMÓRIA
Sacilotto foi aliança entre o modernismo e a industrialização
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Luiz Sacilotto (1924-2003)
foi o artista do ABC. Representa a aliança entre o modernismo do pós-guerra e a industrialização de São Paulo, tendo produzido obras exemplares para a contemporaneidade nacional.
Sacilotto nasceu em Santo André, em 1924. Filho de imigrantes
italianos, estudou no Instituto
Profissional Masculino do Brás.
Em 1944, passou a trabalhar na
Hollerith como desenhista de letras de alta precisão. Tal experiência com o design o coloca a par
das discussões ligadas à herança
da Bauhaus, já que era o momento em que se articulavam a Escola
de Ulm, na Alemanha, e a revolução tipográfica suíça.
Contudo, a pintura do jovem
artista ainda se filiava ao expressionismo. Junto com os colegas
do Instituto Profissional, Marcelo
Grassman e Otávio Araújo, mais
Carlos Scliar, integra a coletiva
"Quatro Novíssimos", no Instituto dos Arquitetos do Rio, em 1946.
O viés político de Sacilotto é visível desde então. Em 1944, o crítico Sérgio Milliet chama a ele e aos
colegas de "artistas proletários",
aproximando-os ideologicamente do grupo Santa Helena.
Waldemar Cordeiro apontaria
os destinos que caracterizam a
produção mais conhecida de Sacilotto: a abstração construtiva.
Cordeiro estimulou o amigo a
aproximar-se da geometria como
símbolo da linguagem universal.
Entre 1947 e 1950, o pintor de Santo André testou a crescente geometrização de fundos e figuras,
mesmo mantendo o colorido e as
pinceladas expressionistas.
A abstração brasileira começava
a ganhar corpo entre Rio e São
Paulo, após 1947. Engajado nas
transformações, Sacilotto abraça
definitivamente tal estética a partir de 1950, somando a prática escultórica à pintura. Participou da
primeira Bienal de São Paulo no
ano seguinte.
Em 1952 viria o grande marco
do movimento concretista: a
mostra do Grupo Ruptura toma
conta do nascente Museu de Arte
Moderna paulistano, unindo Sacilotto a Charroux, Waldemar
Cordeiro, Geraldo de Barros, Fejer, Haar e Wladyslaw. Juntos assinaram um manifesto em defesa
de uma arte como "meio de conhecimento deduzível de conceitos, pondo-a acima da opinião".
A experiência profissional com
gráfica forneceu a Sacilotto um
repertório coeso. Desde 1954, chamou todas suas obras, fossem
quadros ou esculturas, de "Concreção", indicando ainda o ano de
fabricação e o número de série.
Sacilotto testemunhou a solidez
de uma carreira regulada pelo rigor compositivo derivado da geometria e da gráfica. Sua obra ecoa
um projeto de modernização do
Brasil indissociável da indústria
paulista e da educação pela arte.
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