UOL


São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Planos envolvem projetos exclusivos sobre Shakespeare

DA REPORTAGEM LOCAL

"Os Dois Cavalheiros de Verona" é a quinta investida de Ulysses Cruz pelo território shakespeariano. É, claramente, uma obsessão do diretor. "Tudo emana e vem de Shakespeare", diz. A relação mais estreita com o bardo vem de 1989, quando uma bolsa lhe assegurou nove meses de estudo na Royal Shakespeare Company inglesa. E não deve parar por aqui.
Cruz acalenta projeto ambicioso, de cravar em terra brasileira um centro de referência voltado para a obra do dramaturgo inglês, nos moldes do Globe Theatre.
A idéia não é reproduzir aqui uma franquia do espaço físico. Quer, antes, dispor de um local capaz de abrigar escola e biblioteca centrados nas especificidades do dramaturgo. "Gostaria de formar atores para atuar especificamente em peças de Shakespeare", diz. "A idéia é manter um repertório que permita oferecer espetáculos para escolas, seis dias por semana, de manhã e à tarde."
Pelos planos, a biblioteca reuniria, além da produção poética e dramática do autor, vasta bibliografia, com estudos sobre ele e seus personagens produzidos mundo afora, além de registros em DVD -de encenações ou adaptações televisivas, por exemplo. Outra intenção é firmar convênio de intercâmbio permanente com a Royal Shakespeare. Mas tudo está ainda no terreno das boas intenções, com algumas negociações.
Antes, Cruz tem "Dois Cavalheiros" pela frente. A montagem tem estréia prevista junho, no teatro Sergio Cardoso. Os ensaios começariam nesta semana, mas o cancelamento de um patrocínio forçou o adiamento da estréia de abril para junho. Serão três meses até o palco, portanto. "Shakespeare não precisa de muito: basta um excelente tradutor e bons atores." Simples assim.
O elenco terá cinco músicos e 11 atores. O diretor convidou Letícia Spiller e Luigi Baricelli para formar um dos dois casais do núcleo central. A tradução está a cargo de Marcos Daúde, responsável por três das quatro traduções anteriores. Daúde só não trabalhou com Cruz em "Macbeth", a primeira da saga que, dependendo dele, abarcará todos os 36 textos do autor. "O trabalho dele é impecável, feito para o ator, mas sem descaracterizar Shakespeare", exalta Cruz. "Qualquer tradução é, por si, uma agressão", diz. "É preciso adaptar o texto não só à língua, mas ao ritmo do seu povo." Nem uma unanimidade pode ser capaz de intimidar. "O medo é o primeiro sintoma da decadência", diz, shakesperianamente. (IV)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: "Executivos": Grupo Tapa tece com habitual sobriedade alegoria do poder
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.