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"EXECUTIVOS"
Grupo Tapa tece com habitual sobriedade alegoria do poder
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Logo na primeira cena de
"Executivos", Montparnasse,
presidente de uma multinacional
de armamentos, descreve para
seu subalterno Bercy um quadro
de Poussin, "O Tempo Resgata a
Verdade dos Ataques da Inveja e
da Discórdia", compartilhando
assim com o público seu fascínio
pelo gênero: a concretização crua
de uma idéia abstrata. Imediatamente, assim, são apresentadas
não só a questão central da peça
-a verdade acaba prevalecendo
depois de atingida pela calúnia?- mas também a sua forma.
De fato, a narrativa vai se desenhando em uma série de cenas
curtas que mostram o desenrolar
implacável, quase mecânico, de
mesquinhas intrigas internas entre altos executivos.
O sensível e inseguro Odeon,
responsável pelo orçamento de
um armamento de alta tecnologia, se vê destruído pelo maquiavelismo de Denfert, que secretamente cobiça seu cargo, além de
ter que conviver com a disputa
entre Châtelet e Grenelle.
A ironia não está só no fato de a
produção de armas ser apresentada quase que como pretexto para
a disputa entre vaidades. O tom
de alegoria vai se estabelecendo
aos poucos através dos nomes
-a empresa Delta Espace é um
olimpo no qual o Todo-Poderoso
(no Parnaso) depende do mefistofélico Denfert, que cuida dos
contratos, e a interdependência
dos opostos segue uma lógica implacável: todos os nomes são tirados de estações do metrô de Paris.
Para construir personagens ao
mesmo tempo plausíveis e alegóricos, o diretor Eduardo Tolentino leva ao extremo sua habitual
sobriedade. Em princípio, o texto
caudaloso, quase verborrágico,
faz temer um excesso de racionalidade francesa. Quase como um
tema e variações, a intriga se estabelece sem pressa, mas, aos poucos, os personagens, nítidos como
peças de xadrez, vão deixando
transparecer um outro lado. Na
hábil dinâmica do cenário, divisoras de vidro multiplicam reflexos,
e o labirinto impessoal da arquitetura dos prédios de escritórios revela fantasmas e alçapões.
Assim, Hélio Cícero faz um
Denfert assustadoramente contido. Norival Rizzo, pelo contrário,
sabe trazer empatia ao seu abjeto
Chatelêt, tirando risos a cada pausa, enquanto que a precisão de Zécarlos Machado (Montparnasse)
e o carisma de Chris Couto (Grenelle) fazem contraponto à sensibilidade de Riba Carlovich, quando revela que seu submisso Bercy
é o único que mantém a integridade. Em vão, pois seu patrão o
força a reconhecer que também é
vil, diante do quadro de Poussin: a
verdade é reconhecida, mas não
prevalece, e a alegoria de "Executivos" se faz clara e implacável.
Executivos
Texto: Daniel Besse
Direção: Eduardo Tolentino
Com: grupo Tapa
Onde: Espaço Promon (av. Pres.
Juscelino Kubitschek, 1.830, SP, tel. 0/
xx/11/3847-4411)
Quando: qui. e sáb.: 21h; sex.: 21h30;
dom.: 19h; até 20/4
Quanto: de R$ 10 a R$ 30
Patrocínio: BR Distribuidora
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