São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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CINEMA/ESTRÉIAS

"COLD MOUNTAIN"

Filmado na Romênia, longa se passa durante Guerra Civil americana, e recebeu sete indicações ao Oscar

Minghella faz "viagem espiritual" em épico

CLAUDIA GURFINKEL
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Michael Ondaatje, escritor de "O Paciente Inglês", jogou o livro "Cold Mountain", de Charles Frazier, nas mãos de Anthony Minghella quando o diretor fazia uma visita a ele no Canadá, em 1998.
"Antes mesmo de terminar de ler o livro, já sabia que queria transformá-lo em filme", disse Minghella em entrevista à Folha em um hotel em Londres. Entre um cigarro e outro -"meu hábito de voltar a fumar coincide exatamente com o final de um trabalho; infelizmente, esse é o primeiro sinal de que estou estressado, é um tipo de depressão pós-filme"-, o diretor insistiu que o fato de seus filmes mais recentes serem adaptações de romances é mera coincidência.
Desde seu primeiro filme, "Truly, Madly, Deeply", que ele escreveu e dirigiu, todas as suas outras produções foram baseadas em livros: "O Paciente Inglês" (1996), adaptada da obra de Ondaatje, e "O Talentoso Ripley" (1999), baseada no trabalho de Patricia Highsmith.
"Lembro que uma vez eu disse que nunca mais filmaria outra adaptação literária. Mas "Cold Mountain" me atraiu porque não é só uma história de amor que se passa na época da Guerra Civil americana [1861-65]. Na verdade, é uma história escrita em cima de muitos outros textos. A "Odisséia", claro; muita documentação sobre a guerra; a história de parentes de Frazier que desertaram a guerra. É uma viagem espiritual, que testa seus personagens de todas as formas possíveis."
Para Nicole Kidman, atriz que protagoniza, ao lado de Jude Law, o filme de Minghella, o papel foi uma surpresa. "Li o livro quando foi lançado. Quando soube do filme, pensei: como alguém vai conseguir mostrar tudo isso nas telas? Mas Minghella é um poeta e conseguiu dar vida própria à história", diz a atriz à Folha.
"Cold Mountain", que recebeu sete indicações para o Oscar, é o mais caro projeto feito por Minghella. Apesar de a história se passar na Carolina do Norte (EUA), o filme foi praticamente todo rodado na Romênia. "Descobri na Romênia uma terra que parece viver na era pré-industrial, parecida com um cenário do século 19."
Para Minghella, a música também ajudou a caracterizar a época e é um elemento chave em todo o filme. "Quando ficamos sem palavras, a música pode dizer tudo", afirma o diretor. A trilha sonora, que concorre ao Oscar (duas músicas do filme também concorrem na categoria de melhor canção), reúne músicas orquestradas e folclóricas do período.
Após "Cold Mountain", Minghella diz que é a primeira vez na vida que ele não tem um outro projeto em mente. "Não tenho idéia do que farei a partir de agora. Esta foi a primeira vez em que fui forte o suficiente para não cair na tentação de arrumar um outro trabalho."
Nicole Kidman, por outro lado, não pára. Com a estréia de "Cold Mountain", a atriz poderá ser vista em três filmes que estão em cartaz em São Paulo.
"Pode parecer que eu não sossego, mas os filmes que estão sendo lançados foram muito rápidos de fazer. Quer dizer, "Cold Mountain" demorou bastante, mas as filmagens de "Revelações" duraram só três semanas, e "Dogville", seis semanas."
Nicole diz ter uma lista de diretores com quem ainda gostaria de trabalhar. Ela diz gostar do francês François Ozon (de "Oito Mulheres"), mas no topo de sua preferência se encontra o chinês Wong Kar Wai. "Adoro ele. Nós nos encontramos recentemente e trocamos algumas idéias", disse ela, que tem certeza de que voltará a trabalhar com o diretor de "Dogville", Lars von Trier.


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