São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEXO

"Inside Deep Throat", que analisa o impacto cultural do clássico filme erótico de 1972, estimula debate sobre a pornografia

Documentário mergulha na "Garganta Profunda"

CHARLES MCGRATH
DO "NEW YORK TIMES"

Se Karl Marx [1818-1883] soubesse mais sobre relações públicas, teria observado que a história se repete, primeiro como documentário, depois como debate.
Na última segunda-feira, na pré-estréia em Nova York de "Inside Deep Throat" (dentro da garganta profunda) -atração de hoje no Festival de Berlim-, que mostra o "making of" do inovador filme adulto de 1972, os convidados -como Claire Danes e o produtor Brian Grazer- entraram abertamente no Paris Theater. Não esconderam os rostos, como os espectadores do original -até que Jacqueline Onassis e Truman Capote fizeram do ato de assistir a "Garganta Profunda" algo chique, quase respeitável.
Eles assistiram atentamente ao documentário, riram e bateram palmas ao final; ouviram especialistas -como a editora de livros Judith Regan e os professores de direito Catharine MacKinnon, de Michigan, e Alan Dershowitz, de Harvard- discutirem o fenômeno, sem chegar a conclusões.
Nem Regan nem Dershowitz assistiram a "Garganta". Dershowitz, que defendeu o ator principal, Harry Reems, num processo por obscenidade, disse que não precisara assistir ao filme para saber que estava com uma questão envolvendo a Primeira Emenda.
E, embora se presuma que Regan tenha sido convidada na condição de "pornocrata", já que é editora de livros como "How to Make Love like a Porn Star" (como fazer amor como uma atriz pornô), de Jenna Jameson, ela diz não ser especialista no assunto.
Regan afirmou que não foi uma das milhares de pessoas sedentas por sensações fortes que fizeram fila diante do World Theater, primeiro cinema a exibir "Garganta". Além disso, Regan se mostrou uma aliada de MacKinnon, que representou legalmente Linda Lovelace, estrela de "Garganta", depois que esta afirmou ter sido coagida a aparecer no filme e tentar impedir sua exibição.
O documentário, diz MacKinnon, conta parte da verdade. Por focalizar a censura, ele deixa, diz, de lidar com o fato de que pornôs exploram sexualmente as mulheres que atuam neles e tendem a empregar gente com um passado de vítimas de abusos sexuais.
Sobre "How to Make...", Regan acredita que, apesar de todo o sucesso financeiro de Jenna Jameson, a autora é infeliz e que o fato de ter escrito o livro a fez compreender que fora explorada.
Outra questão debatida foi se assistir a filmes pornôs faz mal. Não, disse Dershowitz, mostrando que a disponibilidade de pornôs acompanha a queda na incidência de estupros. Já MacKinnon mencionou estudos indicando que o consumo de pornografia "aumenta os atos e as atitudes de violência contra mulheres".
A julgar por ""Inside...", que inclui cenas do original e é filmado, ele próprio, de maneira que remete ao look granulado e lúgubre dos pornôs de 30 anos atrás, o fazer filmes pornôs (e, quem sabe, até o assistir?) pode exercer um efeito envelhecedor. O diretor Gerard Damiano, o gerente de produção Ron Wertheim e o conde Sepy Dobronyi, em cuja adega foi filmada parte da ação, parecem um pouco enrugados e bronzeados demais, como uvas passas. Mesmo alguns astros de filmes anteriores de Damiano, como Andrea True e Georgina Spelvin, já deixam transparecer sua idade.
A exceção é Harry Reems, que, após anos dependente de drogas, se reabilitou e hoje, esbelto e grisalho, é corretor imobiliário. Ele estava na pré-estréia, sorrindo, distribuindo apertos de mão, como um sujeito que não assiste a nada mais ousado do que noticiários financeiros. ""Não vejo um filme adulto há 25 ou 30 anos. Não preciso. Estou bem casado."


Tradução Clara Allain


Texto Anterior: Centro reuniu salas nos anos 60
Próximo Texto: Série: "Terceiro Sinal" abre porta da TV ao teatro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.