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SEXO
"Inside Deep Throat", que analisa o impacto cultural do clássico filme erótico de 1972, estimula debate sobre a pornografia
Documentário mergulha na "Garganta Profunda"
CHARLES MCGRATH
DO "NEW YORK TIMES"
Se Karl Marx [1818-1883] soubesse mais sobre relações públicas, teria observado que a história
se repete, primeiro como documentário, depois como debate.
Na última segunda-feira, na
pré-estréia em Nova York de "Inside Deep Throat" (dentro da garganta profunda) -atração de hoje no Festival de Berlim-, que
mostra o "making of" do inovador filme adulto de 1972, os convidados -como Claire Danes e o
produtor Brian Grazer- entraram abertamente no Paris Theater. Não esconderam os rostos,
como os espectadores do original
-até que Jacqueline Onassis e
Truman Capote fizeram do ato de
assistir a "Garganta Profunda" algo chique, quase respeitável.
Eles assistiram atentamente ao
documentário, riram e bateram
palmas ao final; ouviram especialistas -como a editora de livros
Judith Regan e os professores de
direito Catharine MacKinnon, de
Michigan, e Alan Dershowitz, de
Harvard- discutirem o fenômeno, sem chegar a conclusões.
Nem Regan nem Dershowitz assistiram a "Garganta". Dershowitz, que defendeu o ator principal, Harry Reems, num processo
por obscenidade, disse que não
precisara assistir ao filme para saber que estava com uma questão
envolvendo a Primeira Emenda.
E, embora se presuma que Regan tenha sido convidada na condição de "pornocrata", já que é
editora de livros como "How to
Make Love like a Porn Star" (como fazer amor como uma atriz
pornô), de Jenna Jameson, ela diz
não ser especialista no assunto.
Regan afirmou que não foi uma
das milhares de pessoas sedentas
por sensações fortes que fizeram
fila diante do World Theater, primeiro cinema a exibir "Garganta". Além disso, Regan se mostrou
uma aliada de MacKinnon, que
representou legalmente Linda Lovelace, estrela de "Garganta", depois que esta afirmou ter sido coagida a aparecer no filme e tentar
impedir sua exibição.
O documentário, diz MacKinnon, conta parte da verdade. Por
focalizar a censura, ele deixa, diz,
de lidar com o fato de que pornôs
exploram sexualmente as mulheres que atuam neles e tendem a
empregar gente com um passado
de vítimas de abusos sexuais.
Sobre "How to Make...", Regan
acredita que, apesar de todo o sucesso financeiro de Jenna Jameson, a autora é infeliz e que o fato
de ter escrito o livro a fez compreender que fora explorada.
Outra questão debatida foi se
assistir a filmes pornôs faz mal.
Não, disse Dershowitz, mostrando que a disponibilidade de pornôs acompanha a queda na incidência de estupros. Já MacKinnon mencionou estudos indicando que o consumo de pornografia
"aumenta os atos e as atitudes de
violência contra mulheres".
A julgar por ""Inside...", que inclui cenas do original e é filmado,
ele próprio, de maneira que remete ao look granulado e lúgubre
dos pornôs de 30 anos atrás, o fazer filmes pornôs (e, quem sabe,
até o assistir?) pode exercer um
efeito envelhecedor. O diretor Gerard Damiano, o gerente de produção Ron Wertheim e o conde
Sepy Dobronyi, em cuja adega foi
filmada parte da ação, parecem
um pouco enrugados e bronzeados demais, como uvas passas.
Mesmo alguns astros de filmes
anteriores de Damiano, como
Andrea True e Georgina Spelvin,
já deixam transparecer sua idade.
A exceção é Harry Reems, que,
após anos dependente de drogas,
se reabilitou e hoje, esbelto e grisalho, é corretor imobiliário. Ele
estava na pré-estréia, sorrindo,
distribuindo apertos de mão, como um sujeito que não assiste a
nada mais ousado do que noticiários financeiros. ""Não vejo um filme adulto há 25 ou 30 anos. Não
preciso. Estou bem casado."
Tradução Clara Allain
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