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SÉRIE
Sem fim didático, programa do Canal Brasil revela o processo de criação de grupos como o Armazém e Nós do Morro
"Terceiro Sinal" abre porta da TV ao teatro
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao contrário do que reza o velho clichê paulistano, não é
verdade que o Rio é uma praia
cercada de novelas por todos os
lados. Importantes companhias
de teatro experimental, como o
Grupo Armazém de Teatro e a
Companhia dos Atores, há anos
se desenvolvem longe da "visibilidade" da grande irmã televisão,
contando com o endosso de uma
platéia fiel -mesmo que a política cultural oficial não veja isso.
É uma boa surpresa então que o
Canal Brasil tenha resolvido lançar em horário nobre um programa dedicado a esses grupos. "Terceiro Sinal", apesar de algumas
fragilidades, começa a afirmar na
grande mídia uma idéia que se
impõe cada vez mais na produção
teatral: teatro não é bem de consumo, um peixe a ser vendido,
mas um serviço público, estabelecido ao longo dos anos, em processo a ser acompanhado.
Com mais de 15 anos de estrada
e sede no Rio desde 1998, o grupo
Armazém merece ser o primeiro
da fila. Em peças como "Alice
Através do Espelho", de 1999, o
diretor Paulo de Moraes vem estabelecendo um teatro que remete ao Asdrúbal Trouxe o Trombone enquanto marco de geração,
ritual compartilhado com a platéia como celebração da vida.
Sabiamente, "Terceiro Sinal"
não tem pretensões didáticas nem
de registro histórico -afinal, o
próprio Armazém já se encarregou disso, editando o belo volume
"Para Ver com Olhos Livres", em
2003, e uma série de DVDs. O mérito do programa é revelar o processo de criação no que ele tem de
artesanal, no tatear cotidiano.
Assim, mesmo que a câmera seja um pouco cambaleante e os depoimentos mereçam uma edição
mais enxuta, o formato do programa, dirigido por Marcelo Santiago e produzido por Marcos
Costa, é bastante eficiente quando
mostra, por exemplo, a explicação do diretor sobre o seu processo, ilustrada a seguir por uma cena de ensaio e depois o mesmo
trecho no espetáculo pronto.
Para quem ainda não conhece o
Armazém, portanto, os trechos
apresentados de seu último espetáculo ("A Caminho de Casa")
acabam constituindo um belo
cartão de visita para a companhia,
chamando a atenção pelo seu
conteúdo, não pela fama ou pelo
marketing da fofoca. Aguarda-se
com boa expectativa os episódios
a vir, com notícias sobre o que andam fazendo a Cia. dos Atores e o
Nós do Morro, entre outros.
Quanto ao apresentador estreante Eduardo Moscovis, curiosamente, é ao mesmo tempo o
que há de mais frágil e mais revelador. Está evidentemente intimidado pela tarefa quando procura
levantar questões importantes
para a arte experimental, ele que
conhece uma linha mais comercial de teatro. Mas sua ingenuidade, além de transparecer um respeito devido aos colegas de palco,
acaba sendo porta-voz do público
menos habituado ao teatro.
Neste programa de estréia, por
exemplo, quando se espanta com
o fato de grandes atrizes como Patrícia Selonk e Simone Mazzer se
sujeitarem a pequenas tarefas de
manutenção, deixando de lado o
glamour da fama, recebe uma paciente resposta de Paulo de Moraes. O diretor experimental explica para o "Reginaldo da novela" que o teatro tem de buscar a vida, e a vida não é glamourosa. Algo se move na TV brasileira.
Terceiro Sinal
Quando: amanhã, às 19h05, e no
sábado, às 18h30, no Canal Brasil
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