RONEY CYTRYNOWICZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

"A originalidade de São Paulo foi ser global antes da globalização", escreve o historiador Marco Antonio Villa em "Breve História do Estado de São Paulo", livro que narra a dinâmica econômica, social, política e cultural da formação do território, propiciando a compreensão de como se formou a Capitania, depois Província e, por fim, o Estado de São Paulo.
Um surpreendente mapa do Estado de 1886, quando sua população atingia 1,2 milhão de habitantes, mostra imensas áreas desabitadas em seu território. A cidade de São Paulo, pouco antes, em 1872, era apenas a décima mais populosa do país, com 26 mil habitantes. A partir dessas datas ocorre uma evolução urbana espantosa cuja compreensão é um desafio.
No decorrer da leitura do livro, as fronteiras e os espaços internos do Estado se conformam, as cidades se tornam pontos que integram uma trama histórica, as ligações e as trocas dentro e fora se organizam e emerge uma viva imagem deste processo de cinco séculos de uma sociedade em permanente movimento, conforme a expressão de Sérgio Buarque de Holanda.
A sistematização e a narrativa didática são o grande mérito do livro, estruturado a partir de um texto bem articulado com referências, exemplos e dados interessantes e com apego à relevância da informação -diferente das coleções de curiosidades pitorescas com que muitos livros de história vêm sendo oferecidos ao grande público.
Os capítulos e a periodização são bem delineados, embora em certos períodos a proposta seja mais tangível e em outros menos, especialmente após 1945, quando a complexidade de polos dinâmicos do Estado torna esta tarefa mais difícil.
Villa lança mão de uma bibliografia sintética e consolidada de história, de Taunay a Sérgio Buarque de Holanda, de Monbeig e Ernani Silva Bruno. Elencar listas bibliográficas que poderiam ser úteis, como Murilo Marx e Aziz Ab'Saber (com contribuições do urbanismo e da geografia), seria injusto com as coerentes opções do autor. A escolha iconográfica é criativa, com destaque para o uso de imagens atuais que têm uma carga de permanência forte para ilustrar o passado.
Livros bem pesquisados e escritos como este preenchem um espaço editorial relevante e um lugar de referência que a internet e outros meios eletrônicos não atingem. E ao definir a formação do território como eixo historiográfico comete a ousadia -que alguns podem achar passadista- de propor que o conhecimento a partir desta unidade chamada "Estado" continua a ser fundamental para nos localizarmos na história do nosso país.

RONEY CYTRYNOWICZ é historiador, autor de "Guerra sem Guerra - A Mobilização e o Cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial" (Edusp) e organizador de "Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo" (Narrativa Um).