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McEwan e Amis elogiam argentino
LÚCIA NAGIB
em Londres
O centenário de Jorge Luis Borges está sendo comemorado em
grande estilo em Londres. Um dos
eventos, ocorrido no início do
mês, reuniu nada menos que os
dois mais importantes escritores
ingleses contemporâneos: Ian
McEwan (prêmio Booker de 1998)
e Martin Amis (autor do best seller
"A Informação", entre outros).
Os dois escritores se encontraram no novo e imponente prédio
da Biblioteca Britânica para discutir o autor argentino (aliás, Borges
começou como bibliotecário), que
os influenciou e que consideram
um dos gênios do século.
Amis e McEwan fizeram comentários sobre a obra de Borges entremeados pela leitura de contos
extraídos da nova versão em inglês
dos textos ficcionais do escritor,
recém-editados pela Penguin.
O que mais surpreendeu o auditório lotado não foi a beleza labiríntica dos fragmentos borgianos
extraídos de contos célebres. Novidade foi a postura de discípulos reverentes adotada pelos autores.
Quando perguntaram a McEwan
qual de seus escritos Borges mais
teria apreciado, o inglês não hesitou em responder que o escritor
argentino "certamente não perderia tempo lendo-os". Depois, ele
confessou que escreveu um conto
sob influência direta de Borges,
"em parte por uma questão de
prestígio, em parte como homenagem, em parte como plágio". E justificou: "Borges considerava o plágio uma forma elevada de esforço
literário".
Amis também reconheceu a qualidade superior de Borges que, segundo disse, "não se interessa pelo
mundo dos enredos e personagens
ao qual estou preso". Amis também registrou que o que mais lhe
impressionou ao reler Borges "foi
ver como ele é brincalhão e espirituoso. É uma alegria observar como sua prosa tenta controlar uma
imaginação exorbitante e agitada".
Amis e McEwan expressaram
opiniões complementares sobre a
relação entre a ficção e a realidade
nos contos de Borges. "Escritores
realistas", disse Amis, "tendem a
sentir que as palavras ficam aquém
da realidade, que são um simulacro patético da riqueza da vida. Ele
não está interessado em tais questões, mas naquilo que a língua pode fazer a partir de si mesma".
McEwan, por sua vez, não separa
ficção de realidade em Borges: "Ele
foi um dos maiores leitores do
mundo. Por trás de seus contos, há
a idéia da literatura como uma realidade tão primordial quanto a que
se pode ver ou tocar, há um sentido
de que o imaginado é real. Há quase uma antiliteratura, mesmo
quando Borges está celebrando livros. Ele parece querer dizer que
tudo é mentira, a única verdade é o
exame da mentira em si".
McEwan se recusa a determinar
o lugar de Borges entre os autores
latino-americanos. "Um crítico
comentou, quando a fama de Borges se espalhou pela América e a
Europa, que se tratava de uma literatura de um outro planeta. Realmente, não havia nada semelhante
no mundo, nem mesmo Kafka."
Para Amis, porém, a literatura
borgiana está fortemente ligada ao
contexto sul-americano. "Há um
veio de estranheza na literatura
sul-americana que nunca vi em
outros lugares. E não apenas nos
escritores subsequentes a Borges.
Machado de Assis, autor da virada
do século, é extremamente moderno, ou mesmo pós-moderno."
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