PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Tradição e novidade andam dando as mãos outra vez. O Sesc, em seu projeto Prata da Casa, dá guarida, só hoje, ao show-projeto do noneto paulistano A Barca. "Turista Aprendiz" -também título do CD de estréia do grupo, lançado em 2000 pela gravadora CPC-Umes- é baseado nos registros sonoros e em partituras feitos por Mário de Andrade (1893-1945) e pela Missão de Pesquisas Folclóricas, em 1938.
O show de hoje inclui ainda músicas aprendidas pelo grupo durante turnê que já passou pelo interior de São Paulo e pelas regiões Norte e Nordeste. O relicário inclui de jongos, carimbós e cocos de domínio público a sambas de Pixinguinha, João da Baiana e o paulista Geraldo Filme.
"Turista Aprendiz" é fruto, como o próprio grupo, da experiência teatral. Os músicos que hoje integram A Barca vêm do braço teatral da Companhia do Latão, à época em que ela ocupava o Teatro de Arena Eugênio Kusnet.
O pianista Lincoln Antonio, 30, uma das peças da Barca, diz que a ligação com a gravadora do CPC da Umes se dá por afinidade musical, e não política. "Fomos bem recebidos lá, ficamos um tempão em cartaz no teatro do CPC. Mas o assunto política nunca veio à tona na Barca", diz.
Ele conta da aproximação com as pesquisas de Mário de Andrade: "O princípio foi o estudo do que Mário trouxe de sua expedição e a discussão estética dele, sempre ligada à formação da identidade cultural brasileira".
Recusa a pecha de tradicionalista que possa se colar à imagem do grupo e a suas releituras de temas de domínio público: "Essa música tradicional original que pesquisamos está em movimento, em transformação. É fácil tacharem de tradicionalista, mas as pessoas do grupo são inquietas. Não há perigo, a Barca antes acaba do que se acomoda".