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Crítica
Filmes de Chabrol
são como matemática
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Houve um tempo em que os
filmes policiais eram sinônimo
de cinema popular. Autores como Claude Chabrol lhe acrescentaram uma aura de objeto
intelectual tão valioso quanto,
digamos, um drama: através
deles, investigava-se a alma das
pessoas e mesmo de uma sociedade. No caso de Chabrol, a sociedade e a burguesia francesas
eram os alvos preferenciais.
Há algumas décadas, seus filmes eram exibidos em vários
cinemas. Hoje, quando chegam
aqui, passam em um. E, como
no caso de "Uma Garota Dividida em Dois" (Cinemax,
22h15; 16 anos), sua clara objetividade passa por vaga estupidez. E a história da moça do
tempo seduzida pelo escritor
famoso e depois envolvida
numa trama em que parece
ser a única pessoa com escrúpulos, passa para muitos por
coisa meio simplória. Ou sem
profundidade.
É verdade: não há muita profundidade nisso. Aliás, nunca
houve em Chabrol. Seus filmes
são, antes, como demonstrações matemáticas que se concluem pelo célebre "c.q.d." (como queríamos demonstrar).
Estranho destino, o do cinema: por definição, tudo o que
pode é mostrar superfícies,
mas seus espectadores, os mais
cultos, se acostumaram a considerar a profundidade parte
de sua natureza. Não é.
Como a matemática, o cinema relaciona coisas materiais
entre si. Como Chabrol queria
demonstrar.
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