São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Crítica

Filmes de Chabrol são como matemática

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Houve um tempo em que os filmes policiais eram sinônimo de cinema popular. Autores como Claude Chabrol lhe acrescentaram uma aura de objeto intelectual tão valioso quanto, digamos, um drama: através deles, investigava-se a alma das pessoas e mesmo de uma sociedade. No caso de Chabrol, a sociedade e a burguesia francesas eram os alvos preferenciais.
Há algumas décadas, seus filmes eram exibidos em vários cinemas. Hoje, quando chegam aqui, passam em um. E, como no caso de "Uma Garota Dividida em Dois" (Cinemax, 22h15; 16 anos), sua clara objetividade passa por vaga estupidez. E a história da moça do tempo seduzida pelo escritor famoso e depois envolvida numa trama em que parece ser a única pessoa com escrúpulos, passa para muitos por coisa meio simplória. Ou sem profundidade.
É verdade: não há muita profundidade nisso. Aliás, nunca houve em Chabrol. Seus filmes são, antes, como demonstrações matemáticas que se concluem pelo célebre "c.q.d." (como queríamos demonstrar).
Estranho destino, o do cinema: por definição, tudo o que pode é mostrar superfícies, mas seus espectadores, os mais cultos, se acostumaram a considerar a profundidade parte de sua natureza. Não é.
Como a matemática, o cinema relaciona coisas materiais entre si. Como Chabrol queria demonstrar.


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